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A arte pop e melancólica de Silene Zepter

Modelo famosa nos anos 90, ao lado de Luciana Curtis, Cássia Ávila e Isabella Fiorentino, ela agora se dedica à arte e faz sucesso - dentro e fora do círculo fashion - com suas ilustrações

Por Michaela von Schmaedel
Atualização:

Anos 90. Silene Zepter foi uma das primeiras modelos a fazer sucesso nas passarelas e editoriais de moda no país. Nessa época, Paulo Borges começava o Phytoervas Fashion, embrião do que é hoje o SPFW. Ao lado de Luciana Curtis, Cássia Ávila e Isabella Fiorentino, Silene desfilava para estilistas como Alexandre Herchcovitch (por muito tempo ela foi uma de suas preferidas), Fause Haten e Reinaldo Lourenço. "Vim do interior de São Paulo, da cidade de Penápolis, por influencia de um namorado que era modelo. Fiz meu primeiro portfólio, mas as coisas demoraram um pouco a engrenar", conta em seu apartamento no bairro do Itaim Bibi, onde vive com o marido.

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Editoriais, passarelas, viagens internacionais, capas de revistas. Até os anos 2000, Silene era muito requisitada. Com um rosto nórdico, de uma beleza clássica, ela tinha a vantagem de não ter medo de mudar sua aparência. "Já tive cabelo vermelho, preto, curto, longo. Fiquei conhecida por ser uma camaleoa. Isso sempre me ajudou a conseguir trabalhos."

Também não teve medo de mudar depois que a carreira de modelo começou a minguar. Tentou ser cantora, misturando música eletrônica e performance, e depois foi estudar teatro. "Achei que não aguentaria uma rotina à noite, cantando em bares e casas noturnas. O teatro parecia ser algo mais livre, que poderia abrir outras portas."

Nem uma coisa, nem outra. Assim que formou-se no Teatro Célia Helena, começou a desenhar o que chama de "minhas meninas". As primeiras foram feitas com giz pastel, há dois anos, em um fim de semana na praia.

Depois, Silene passou a trabalhar no ipad. "Hoje, desenho todos os dias, sem exceção. Em geral, na parte da manhã, estudo, pesquiso imagens legais, coisas que me inspiram. À tarde, faço minhas ilustrações."

Cinco obras de Silene: à esquerda, pinceladas feitas no ipad Foto: Divulgação

No círculo da moda, Silene não demorou para fazer sucesso com suas mulheres glamourosas, bem vestidas, mas um pouco tristes. Assim que começou a postar seus desenhos no Instagram, foi convidada por Carina Duek para transformar algumas de suas ilustrações em uma coleção de camisetas. "Fiquei surpresa quando vi que as pessoas gostavam do meu trabalho. Foi aí que pensei: 'bom, se estão gostando é porque eles têm algum valor, algum potencial de comunicação, algo com que as pessoas se identificam."

Para Silene, a arte é isso: comunicação. Uma menina de olhar triste, vestida com uma roupa da moda, passa um tipo de solidão comum à maioria. Comunica uma dor, ainda que sua aparência alardeie felicidade. Como se as modelos - ou qualquer um de nós - tivessem um vazio intrínseco. "A melancolia de minhas ilustrações não são propositais, apenas fazem parte da vida."

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Com 2217 seguidores no Instagram (@silenezepter) e o projeto de fazer uma loja virtual em breve, as mulheres de Silene começaram a falar recentemente. Agora, muitas das ilustrações são acompanhadas de pensamentos. "São coisas que passam pela minha cabeça e acabam na minha arte, sem nenhuma pretensão." As frases, ora poéticas, ora ácidas, como a que diz: "Não me chame de querida", geram muitos "likes". E não é só isso: são vendidas diretamente para quem procura a artista. "Essas plataformas são muito boas para quem quer mostrar o trabalho sem intermediários. As vendas acontecem de forma direta, entre quem gostou do que viu e o artista que criou a obra. Acho incrível!".

Quatro trabalhos de Silene Zepter: meninas glamourosas e melancólicas e uma ilustração bem humorada Foto: Divulgação

Além dos pensamentos, Silene também tem se arriscado em pinturas menos pop, com pinceladas que lembram aquarela ou tinta óleo. Sempre no ipad, onde usa inúmeros aplicativos para diferentes técnicas, ela cita o inglês David Hockney como um exemplo para quem ainda duvida que o tablet pode ser usado como ferramenta artística. Em 2010, o artista trocou as telas de lona pelo ipad e iphone, onde usa os dedos para fazer as pinceladas de suas paisagens ultracoloridas.

Silene deve seguir por esse caminho, unindo arte e modernidade. Seus desenhos, com traço bem próprio e pouca engessamento técnico, já ultrapassaram a rodinha fashion nacional - ela hoje é seguida por galerias de Nova York, que estão de olho em seu trabalho. "Vamos ver o que acontece. Minha criação é orgânica, muito pessoal. Não faço para os outros, nem penso o que vai ou não 'emplacar'. Mas gosto que as pessoas se identifiquem com o meu trabalho e se reconheçam nele."

Silene Zepter se reinventa como artista Foto: Divulgação
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