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Vestibulares unificados podem melhorar ensino

Mudanças nas provas de universidades estaduais e federais levariam[br]a um aperfeiçoamento do currículo escolar nas séries preparatórias

Por Simone Iwasso
Atualização:

Por mais que se discuta currículo, práticas de ensino e novas abordagens para o ensino médio, quem define o que os alunos nessa faixa etária vão estudar é o vestibular. A constatação, consenso entre especialistas, deve ganhar novo rumo a partir deste ano, com a iniciativa do Ministério da Educação (MEC) de unificar o processo seletivo das 55 universidades federais e de as universidades paulistas discutirem fazer uma primeira fase única, além de reverem as provas. O objetivo é transmitir um sinal diferente para as escolas básicas. "A gente sabe que as escolas são influenciadas pelo que é exigido no vestibular e queremos usar a prova para orientar o ensino médio num outro caminho, por isso estamos convidando as universidades para discutirem o tema juntas", afirma Reynaldo Fernandes, presidente do Inep, braço do ministério responsável pelas avaliações. "Não adianta o ministério e as secretarias de educação pensarem currículo se os vestibulares mudam tudo." O MEC quer usar a experiência adquirida com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com questões que buscam analisar competências mais do que conteúdo, e que já é feito por cerca de quatro milhões de alunos. O novo exame incorporaria perguntas de ciências humanas e biológicas, por exemplo, além de ganhar uma escala mais calibrada, para ter o mesmo nível de dificuldade todos os anos - hoje em dia, em certos anos a prova é mais fácil, e em outros, mais difícil. Nas próximas semanas, após reuniões com os reitores das federais, o Inep deverá decidir se aplica o novo Enem neste ano ou se fica para 2010. Caso aconteça agora, a prova atualmente marcada para agosto seria transferida para outubro. Seria uma prova única, e o aluno, com nessa nota, poderia se candidatar para vagas em qualquer uma das universidades. Outro ganho com a unificação, segundo Fernandes, será um sistema mais eficiente e democrático. O aluno não precisará escolher qual vestibular prestar nem gastar dinheiro e tempo com várias taxas de inscrição. Isso aumentaria também a mobilidade dos estudantes, que poderiam se inscrever em cursos distantes de seus Estados de origem. ESFORÇO PAULISTA Em São Paulo, o maior sinal de mudança partiu do Conselho Estadual de Educação, que, na semana passada, convocou representantes das três universidades estaduais - USP, Unesp e Unicamp - para uma reunião. Nela, ficou definida a criação de um fórum para discutir a unificação da primeira fase dos três vestibulares - cada um seguiria com a segunda fase como achasse melhor. Juntas, as universidades mobilizam mais de 250 mil candidatos por ano. "Em São Paulo, quem pauta o ensino médio é o vestibular das estaduais. No resto do País, é o das federais. Como eu oriento uma escola para atender conteúdos e competências de vestibulares diferentes?", questiona Arthur Fonseca Filho, presidente do conselho. "São conteúdos muito extensos, muita informação. Se conseguirmos organizar melhor isso, mandaremos um sinal para que as escolas de ensino médio se reformulem. Todo mundo sairá ganhando e teremos um ensino melhor." A ideia de unificação em São Paulo foi cogitada em 2004, mas depois abandonada, porque as instituições não chegaram a um consenso. Para Leandro Tessler, responsável pelo vestibular da Unicamp, o vestibular não precisa ser modificado radicalmente, mas aperfeiçoado. "Existe toda uma proposta bacana de como ensinar no ensino médio e em muitos vestibulares ainda se separa o conhecimento em disciplinas como se fazia há mais de 20 anos", analisa Tessler. Há anos a Unicamp promove mudanças no vestibular e hoje tem um exame diferenciado, com pouca exigência de informações decoradas e mais questões que exigem conteúdo. "Com as mudanças, provavelmente você vai continuar selecionando o mesmo aluno, que é o mais bem preparado, mas vai mandar um sinal diferente para o ensino médio." A Fuvest planeja mudar de formato já no próximo vestibular. As alterações fariam com que a primeira fase deixasse de contar pontos para a nota final e a segunda etapa teria questões de todas as disciplinas. A busca é por um exame capaz de avaliar os conhecimentos e as capacidades dos alunos de uma outra maneira - não mudando o conteúdo exigido, mas a maneira de questionar o vestibulando sobre ele. A Unesp também aprovou um novo formato, que terá agora duas fases, em novembro e dezembro. "Vestibular é um concurso. Todas essas iniciativas são positivas e vão escolher o aluno mais bem formado, mas o importante vai continuar ser aprender a matéria, e vai ter de continuar selecionando", diz Nicolau Marmo, coordenador do Anglo. AS MUDANÇAS USP: deverá mudar sua prova. A primeira fase não contará mais pontos para a segunda. E a segunda terá questões de todas as disciplinas Unesp: passará a fazer vestibular em duas fases, e incluirá questões sobre artes e educação física Enem: poderá ser modificado e se transformar numa prova única para as universidades federais Unificadas: as três universidades estaduais paulistas discutem uma unificação da primeira fase

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