USP produz 1/4 do conhecimento

A cada 100 trabalhos científicos publicados no País, 25 têm assinatura de um pesquisador da universidade

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O lema inscrito em latim no brasão da Universidade de São Paulo - Scientia Vinces, "Pela ciência vencerás" - foi cumprido à risca pela instituição até agora. A USP é reconhecidamente a maior escola da América Latina não pelo número de alunos ou pelo tamanho de seu câmpus, mas pela força de sua produção científica. Cerca de um quarto do conhecimento produzido no País tem raízes em algum de seus laboratórios. De cada cem trabalhos científicos publicados por instituições brasileiras, 25, pelo menos, levam a assinatura de um pesquisador da USP. Mais informações No cenário estadual, a influência é ainda maior: a USP contribui em 50% das publicações científicas do Estado de São Paulo, que, por sua vez, produz 50% da ciência brasileira. Só a Faculdade de Medicina (FMUSP) participa em 3% da ciência produzida no País, além de formar cerca de 170 médicos por ano (mais de 10 mil desde a sua fundação). Os resultados não ficam só no papel. No hospital-escola da instituição - nada menos do que o Hospital das Clínicas, o maior da América Latina -, o conhecimento produzido nos laboratórios e repassado nas salas de aula percorre poucos corredores até chegar aos pacientes. "Temos uma responsabilidade muito grande de dar um retorno para a sociedade", diz o diretor da FMUSP, Marcos Boulos. No ano passado, a faculdade recebeu pela primeira vez um convite do Instituto Karolinska, na Suécia, para participar da indicação do Prêmio Nobel de medicina. Os indicados - Miguel Nicolelis e Nelson Mendes - não levaram o prêmio, mas, "só o fato de podermos indicar nomes já mostra que a faculdade é reconhecida como uma das melhores do mundo", comemora Boulos. Nos rankings internacionais, a USP aparece entre as 200 melhores universidades do mundo. Na lista da Universidade de Xangai, uma das mais conceituadas, ela está entre as 150 primeiras. O impacto da produção científica da USP pode ser sentido em todas as áreas do conhecimento, da literatura e filosofia ao estudo de galáxias distantes. Em algumas áreas específicas, como as ciências espaciais, a biologia molecular e a genética, a produção da USP ultrapassa 30% do total nacional, segundo o professor Leandro Lopes de Faria, do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Tecnologias essenciais da economia brasileira, como a produção de aço e a exploração de petróleo em águas profundas, foram desenvolvidas na USP - em especial, nesses dois casos, nos laboratórios da Escola Politécnica. Avanços cruciais nas áreas de células-tronco, transgenia e genômica também levam o carimbo da universidade. "Se você voltar ao século passado e ver a origem do desenvolvimento do Brasil, seja na medicina, na agricultura ou qualquer outro setor, verá que não há área que atinja a sociedade que não tenha sido influenciada pelas pesquisas e pela formação de recursos humanos da Universidade de São Paulo", diz o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e ex-reitor da instituição, Jacques Marcovitch. A alta produtividade da universidade - tanto em termos quantitativos quanto qualitativos - está calcada no pioneirismo de sua pós-graduação, instituída em 1970, no processo de reforma universitária. "Na graduação, o que se faz é transmitir conhecimento, enquanto na pós-graduação o foco é a criação de conhecimento", compara o professor Paschoal Senise, que coordenou por 17 anos a Câmara de Pós-Graduação da universidade e que hoje, aos 91 anos, ainda comparece diariamente a sua sala no Instituto de Química (IQ) para trabalhar. "A pesquisa é fundamental. Isso deu outra dimensão à universidade", completa Senise, um dos quatro formandos da primeira turma de química da USP, em 1937. "O perfil da USP é acreditar que o ensino e a pesquisa são indissociáveis", diz o bioquímico Walter Colli, formado pela USP em 1962 e professor titular do IQ desde 1980. "Há uma compreensão de que não é possível ter uma boa universidade se os professores não forem também cientistas." Outro ingrediente essencial para o sucesso da universidade foi o fato de ela ter sido bem planejada desde o início, salienta o físico Luiz Nunes de Oliveira, formando da primeira classe do Instituto de Física de São Carlos, em 1973, e pró-reitor de pesquisa da universidade entre 2001 e 2005. "O pessoal que começou tudo em 1934 pensou muito bem no que estava fazendo", resume.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.