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Uso de animais em aula vai a tribunais

Aluno e universidade brigam na Justiça

Por Ricardo Westin
Atualização:

Um estudante de Biologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) procurou os tribunais pedindo o direito de não participar das aulas práticas em que se dissecam animais. Na ação, Róber Bachinski, de 21 anos, argumentou que matar animais para as aulas vai contra sua consciência. "Os animais têm direito à liberdade, à vida, a não sentir dor. Nós, humanos, não estamos acima dos direitos dos animais", explica ele. Em junho, uma Vara Ambiental de Porto Alegre concedeu uma liminar (decisão imediata e provisória, até o julgamento definitivo da questão) ordenando que a Bachinski fosse permitido fazer trabalhos teóricos no lugar da dissecação de rãs e ratos. A UFRGS não aceitou a decisão e, há duas semanas, derrubou a liminar no Tribunal Regional Federal. Bachinski diz que começou a cursar Biologia sem saber que os animais das aulas de dissecação seriam mortos exclusivamente com esse fim. "Pensava que eram animais que haviam morrido em hospitais veterinários ou fazendas, cadáveres obtidos de maneira ética." Quando descobriu que não era bem assim, tentou convencer a universidade a adotar métodos alternativos - como mostrar a dissecação em vídeos e programas de computador. Além de não sensibilizar os professores, o aluno virou motivo de piada na universidade e foi reprovado em duas disciplinas. "A instituição entende que o aluno não pode chegar querendo definir regras sobre coisas que ele não compreende", diz Jorge Quillfeldt, professor de Biofísica Molecular e Celular. "Não basta ler um livro ou ver um filminho. É um absurdo um estudante de Biologia não fazer dissecação. Daqui a pouco vamos formar biólogos exclusivamente teóricos... Não dá." Segundo o professor, o uso de animais é acompanhado pelo comitê de ética da UFRGS. As cobaias, criadas na instituição, são sacrificadas em procedimentos "indolores e rápidos". "Claro que os animais são simpáticos, nós gostamos deles. Mas os humanos têm a prerrogativa. Se não for assim, impedimos o avanço da ciência", acrescenta Quillfeldt. O estudante promete levar o caso ao Supremo Tribunal Federal. "Essa reação toda é normal. No momento em que alguém tenta quebrar um paradigma, os cientistas que estão nesse paradigma se revoltam. Foi assim com Darwin, quando propôs a teoria da evolução", diz.

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