PUBLICIDADE

''União deveria separar o joio do trigo''

Governo federal tinha de evitar conflito com populações que já estavam em áreas de floresta, diz governadora

Por Afra Balazina
Atualização:

A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), reclama da atuação do governo federal para evitar o desmatamento no Estado. Para ela, a União deveria cuidar melhor de suas áreas e evitar conflitos com moradores na criação de unidades de conservação. Ela ressalta que a taxa de desmatamento do Pará está caindo e que o governo estadual tenta, além de fiscalizar, dar alternativa para as pessoas não cortarem a floresta amazônica. Procurado pelo Estado, o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) afirmou não concordar com as críticas. "Temos cooperado muito com o governo do Pará. Mato Grosso baixou sua área desmatada em quatro anos de 12 mil km² para 2,5 mil km². O Pará continua com área desmatada acima de 5 mil km² por ano, sendo o campeão de desmatamento da Amazônia." Minc disse que o Pará é o Estado "em que temos o maior contingente de fiscalização e onde fazemos mais operações contra o desmatamento". A seguir, trechos da entrevista da governadora ao Estado. Mato Grosso saiu da linha de frente e, agora, o Pará chama mais a atenção pelo alto desmatamento. Como a sra. analisa essa situação? O Pará tem floresta, e em outros Estados a realidade é diferente. O Pará conta com 74% de floresta nativa, 55% de área protegida e a maior área protegida do Brasil. Tem desmatamento no Pará, é uma coisa histórica, mas houve diminuição. É fácil não desmatar quando não se tem mais floresta. O meu governo, que tem dois anos e oito meses, tem feito um esforço extremo para fomentar um novo modelo de desenvolvimento. Isso não se muda do dia para a noite, mas há evolução ao longo dos anos. Em 2004, a área desmatada era de 8.521 km², em 2008 foi de 5.180 km² e em 2009 vai diminuir mais. Como a sra. avalia a atuação do governo federal no Estado? O governo federal deveria estar cuidando das áreas federais. E ajudaria muito se, ao criar reservas, respeitasse a realidade colocada. Criaria muito menos conflito, ganharia as pessoas que já estão lá há 30, 40 anos. Em alguns casos o governo agiu de forma pouco inteligente. É o caso da Floresta Nacional do Jamanxim? Sim. O governo federal deveria separar o joio do trigo. Quem está desmatando tem de sair, ser colocado atrás das grades. E quem foi para lá depois que essa unidade foi criada também. Agora, e quem estava lá antes? Por que vai criar conflito com centenas de famílias, pequenos produtores? Neste ano, o Ministério Público Federal recomendou que os supermercados parassem de comprar carne do Pará, pois não havia garantia de que a carne era produzida em área sem desmatamento ilegal. A situação foi resolvida? Foi. Tanto que o órgão retirou essa recomendação. O Termo de Ajustamento de Conduta dava um prazo de 90 dias para o governo do Estado criar um decreto para estabelecer como deve ser feita a recomposição da reserva legal das propriedades (que desmataram). Em 48 dias eu editei o decreto. Queremos que nessa recomposição florestal o produtor ganhe dinheiro, que seja uma outra oportunidade. Ele poderá explorar fruticultura, fazer manejo florestal sustentável. Mostramos nessa questão da carne que transformamos o limão em limonada. Aquilo que aparentemente era negativo para o Estado, nós transformamos em uma oportunidade. A medida provisória da regularização fundiária vai estimular a grilagem no Estado? A falta de controle e a falta de regulamentação fundiária é a maior amiga do desmatamento ilegal e da grilagem de terras. O Estado enquanto Estado não consegue tomar conta de tudo. Então, aqueles que defendem a não regularização, esses sim estão defendendo a grilagem, o desmatamento ilegal.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.