Uma paixão fulminante

Chance de amar à primeira vista, transposta da ficção para o dia-a-dia dos casais, divide a opinião de especialistas

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Por Agencia Estado
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Um bom noveleiro sabe que começo de novela combina com início de romance. Afinal, um autor tem apenas seis meses para apresentar o casal, separá-lo sucessivas vezes e mandá-los para o altar, de preferência nos minutos finais do último capítulo da trama. Até quem não vive com o dedo grudado no controle remoto já topou com alguma história de amor à primeira vista: elas pipocam pelas telas do cinema e até pelos noticiários de jornal. Sim, tem muito famoso a jurar por aí que paixão à primeira vista existe mesmo. É o caso de Katie Holmes, que não se cansa de contar detalhes sobre o seu conto de fadas com Tom Cruise. Após dois meses de namoro, o astro a pediu em casamento, com Paris como cenário. ?Quando vi Tom pela primeira vez e ele tocou em minha mão, me apaixonei?, diz Katie. A declaração dela ficaria perfeita no texto de Gilberto Braga, autor de Paraíso Tropical. A exemplo do que acontece em Hollywood, a paixão instantânea rola solta por ali. A pressa é tanta, que após uma semana de namoro os protagonistas Paula (Alessandra Negrini)e Daniel (Fábio Assunção) decidiram se casar. ?Acredito muito nessas paixões fulminantes. Quando algo tão forte assim acontece, o jeito é abrir o coração e permitir que aconteça. Paula está certa de que encontrou sua alma gêmea?, diz Alessandra. Coordenadora do Projeto Sexualidade, da Universidade de São Paulo (USP), e autora do livro Descobrimento Sexual do Brasil, a psiquiatra Carmita Abdo explica a reincidência do amor à primeira vista na ficção. ?Todo mundo quer viver um grande amor e a TV traz à tona esse sonho que existe dentro de cada um de nós. Não dá outra, as pessoas se identificam, querem ser aquela heroína, querem encontrar aquela pessoa tão perfeita no cotidiano delas também?, diz a especialista. É claro que os belos olhos de Assunção, ou o sex appel de Alessandra, facilitam todo tipo de aproximação à primeira vista. Mesmo assim, Carmita garante que beleza não é o principal atrativo que leva uma pessoa a interessar-se de imediato por outra. ?Fiz uma pesquisa sobre isso para escrever o livro e constatei que a beleza aparece em terceiro lugar entre os atributos que homens e mulheres definem como importantes fatores de atratividade. Em primeiro vem a atração física, seguida por afinidade intelectual.? Para a especialista, amor à primeira vista é um fenômeno mais freqüente entre pessoas realistas - bem ao contrário do que sugere o sentimentalismo melado dos folhetins. ?Minha definição de amor é a seguinte: quando a pessoa consegue ver o outro sem idealismos, com todos os seus defeitos, e mesmo assim mantém seu interesse é porque se trata de um sentimento realmente sólido.? Segundo Carmita, o mito do amor à primeira vista não é, de todo, folclórico. ?Um sentimento como esse pode surgir em um primeiro encontro, sim. O mais comum, porém, é que tudo comece com uma paixão, aquele sentimento em que a pessoa é incapaz de distinguir as imperfeições do par. Com o tempo, essa paixão vai se transformando em um sentimento mais estável?, analisa. Brasileiros apaixonados Assim como a especialista, muitos brasileiros apostam na chance de vivenciar sentimentos instantâneos. Em enquete com quase 500 internautas, organizada pela reportagem da Revista JT no Portal Estadão (www.estadao.com.br), 66,27% dos consultados revelam acreditar em amor à primeira vista e 44,26% deles garantem que já passaram pela experiência. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o casal Fernanda Götz, 23 anos, e Daniel Vieira da Silva, 22. Fernanda conta que ao ver Daniel pela primeira vez, na casa de uma amiga, sentiu que iria namorá-lo. ?Quando bati o olho nele, inexplicavelmente sabia que era o homem da minha vida?, conta a garota. Precipitada? ?Estamos juntos há mais de dois anos e até dividimos a mesma casa. Isso prova que a minha certeza tinha fundamento. O sangue bateu, como dizem por aí. Meu amor foi imediato. Nossas idéias e planos combinavam tanto que parecia incrível?, completa. Mesmo entre os famosos, acostumados a viver entre histórias de amor perfeitinhas, a tal paixão instantânea faz sucesso. A atriz Maria Maya já discursou várias vezes sobre o encanto repentino que sentiu pelo ator Ernani Moraes, em pleno aeroporto Santos Dumont. Bastou uma troca de olhares ali mesmo, como aquela que arrebatou Natalie Portman no filme Closer, para que os dois se apaixonassem. ?Sabe aquele tipo de história que você acha que nunca vai acontecer com você? Tremi inteira quando o vi?, conta. Na Inglaterra, a visão cética dos especialistas perante os amores instantâneos ajuda a reforçar a fama de reservado do povo britânico. Ao estudarem a vida amorosa de 147 casais, estudiosos da Universidade de Bath concluíram que o amor verdadeiro se manifesta apenas após doze meses de relacionamento. Tal premissa mostrou-se verdadeira para 61% das duplas investigadas. ?Amor é conceito multifacetado, mas foi estudado na pesquisa como um conjunto de sentimentos de intimidade, paixão e entrega que se tem pelo companheiro. Até agora o amor não havia sido estudado dessa maneira?, declara o médico Jeff Gavin, responsável pela pesquisa. Certamente, ainda não traduziram para o inglês os versos de Chico César: ?Quando lhe achei, me perdi/Quando vi você, me apaixonei.?

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