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Uma opção para a população de baixa renda

Válvula cardíaca feita com pericárdio de boi custa US$ 250; a importada sai por US$ 3.700

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Por Redação
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Fato sabido e certo na região de São José do Rio Preto é que boi nelore de um ano e meio no mínimo, branco e de peso bom, fio do lombo comprido, com carne de pouca gordura, é para ser reservado - é zebu de médico. Com eles, os procedimentos são especiais. No abatedouro, antes de serem esquartejados, os animais são entregues a homens que vestem batas cinzentas. Com delicados instrumentos cirúrgicos eles extraem o coração e retiram dele o pericárdio, a membrana grossa que envolve e protege o órgão. Cada peça pesa 700 gramas e é cuidadosamente mantida em líquido nutriente, em frascos vedados. Desse ponto em diante, o processo é longo e exige no mínimo 16 diferentes etapas, até que o tecido amarelado surja na forma de uma prótese de válvula cardíaca que vai fazer pulsar um coração humano - em alguns casos por mais de 12 anos, até que seja necessário fazer uma nova troca. As válvulas são o principal e mais forte produto da Braile Biomédica. "Fizemos as válvulas porque era o único meio de atender aos pacientes de baixa renda, segurados da Previdência", conta o cirurgião e empresário Domingo Braile. Uma válvula importada custa US$ 3.700. A da Braile não passa de US$ 250. Aos 70 anos, aposentado de sua própria empresa há 70 dias, ele ainda dá expediente na ampla sala da diretoria. Mas agora cuida de "coisas que dão satisfação". Uma delas é participar da consolidação do Parque Tecnológico. Outra é convencer o prefeito Edinho Araújo (PPS) a iniciar a construção de um metrô de superfície "para prevenir o caos". Braile era um recém-formado cardiologista que trabalhava em São Paulo ao lado de uma lenda, Euryclides Zerbini, que preparava o Incor para realizar o primeiro transplante do País. "Era bom, mas era mais importante voltar para Rio Preto e fazer na cidade um centro inspirado no modelo do professor", afirma. Em 1966 foi criado o IMC, e em 1977 a Braile Biomédica, braço industrial do grupo, ambos com estatuto que previa investimento em pesquisa. Nos anos 90, o grupo original rachou - e Domingo saiu. Ficou com a fábrica, um único e incompleto pavilhão. A Braile de 2008 ocupa 8 mil m² de área construída, emprega cerca de 500 técnicos e apresenta um catálogo de 20 produtos. Já ensaiou uma espécie de coração artificial externo, "pouco produtivo", segundo Braile, e testou o tecido da córnea de grandes peixes oceânicos para fazer válvulas, "uma decepção". Para o futuro, está mirando na avançada pesquisa com células-tronco, "usando tecidos específicos do próprio paciente".

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