Torre vai monitorar interação de mata e clima

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Por Herton Escobar
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A maior novidade científica da mata atlântica é uma torre de ferro de 60 metros erguida em meio à floresta em São Luiz do Paraitinga, no Núcleo Santa Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar. Há cerca de um mês, equipamentos instalados no topo da estrutura (equivalente a um prédio de 20 andares) monitoram em tempo real tudo que se passa entre a floresta e a atmosfera. Temperatura, umidade, radiação, vento, chuva: tudo é registrado automaticamente e enviado via satélite para os pesquisadores. Sensores especiais também medem cinco vezes por segundo quanto entra e quanto sai da floresta em dióxido de carbono (CO2) e água. Com isso, os cientistas esperam aprender sobre o funcionamento da mata, sua interação com o clima, os serviços ambientais que são prestados por ela, e como isso poderá mudar no futuro. "Queremos entender tudo que controla a existência dessa floresta", diz o pesquisador Humberto Rocha, da Universidade de São Paulo (USP), que coordena o projeto. "Temos de antecipar como esse ambiente vai reagir diante da perspectiva de mudanças climáticas." O projeto é inspirado no programa LBA, que há dez anos mantém torres desse tipo espalhadas pela Amazônia, produzindo informações fundamentais sobre a floresta e o clima. Agora, cientistas esperam fazer o mesmo pela mata atlântica. Quatro instituição participam do experimento, financiado pela Fapesp: USP, Unicamp, Instituto de Botânica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A torre foi estrategicamente construída na vertente de uma bacia hidrográfica de 2,5 km², coberta de mata. Os resultados obtidos ali poderão servir como modelo para a mata atlântica do sul de São Paulo até o Espírito Santo, por causa da similaridade dos sistemas meteorológicos da região. "Para quem não conhece nada, daremos um salto imenso de conhecimento", diz Rocha. SERVIÇOS AMBIENTAIS A exemplo do que ocorre na Amazônia, os cientistas procuram respostas para perguntas básicas sobre os ciclos de carbono e água na mata atlântica. Será a floresta um sorvedouro ou uma fonte de CO2? Qual é a contribuição da floresta para a formação de chuvas na região? Como isso varia durante o ano? As respostas serão importantes para a construção de modelos climáticos mais precisos e para a quantificação de serviços ambientais, como a produção de água. Nada menos do que 15 milhões de pessoas (incluindo todo o litoral, Vale do Paraíba e parte da região metropolitana) são abastecidas pelas águas que nascem na Serra do Mar. É possível que a floresta funcione como uma esponja viva, capturando parte da umidade que sopra do mar e injetando essa água no sistema terrestre. "Sem a mata, talvez não houvesse nada para segurar essa umidade", diz o biólogo Rafael Oliveira, da Unicamp.

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