Tintas, esmaltes e tubos feitos com garrafas PET

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Por Karina Garcia
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Josenildo Benedito da Silva, de 59 anos, circula dez pelas ruas do bairro Bela Vista, em São Paulo, em busca de materiais recicláveis. Com a carroça repleta de papelão, metais e plásticos, ele diz não saber ao certo o destino das embalagens PET que recolhe diariamente. "Devem virar de novo garrafa. Não é isso?" Ele não está totalmente errado, pois uma parte daquela matéria-prima, uma vez reciclada, é usada para fabricar novas garrafas. Mas as embalagens também podem ser transformadas em produtos como esmaltes, vernizes e tubos para esgoto. Depois de quatro anos de pesquisas, a empresa fabricante de tintas Coral passou a utilizar garrafas PET para fazer resinas antes derivadas de petróleo e, portanto, não-renováveis. A nova tecnologia foi levada também para os esmaltes sintéticos e os vernizes. Segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), representam 15% da produção da linha de tintas para imóveis do País. Matteo Lazzarin, gerente do Laboratório de Desenvolvimento da Coral, afirma que esse trabalho beneficia o meio ambiente. Desde 2005, quando a produção com PET começou, foram usados mais de 55 milhões de garrafas. E os esmaltes e vernizes apresentam melhores resultados finais, segundo Lazzarin. "As vantagens são secagem mais rápida e maior estabilidade no brilho." Em um galão de 3,6 litros de esmalte sintético, o suficiente para pintar 50 metros quadrados de parede, está o material obtido de 2,5 garrafas PET. Projetos como esse, segundo Hermes Constesini, responsável pelas Relações com o Mercado da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), enquadram-se no conceito de construção sustentável, pois reúnem benefícios sociais, ecológicos e econômicos. O empresário português radicado no Brasil Guido Nigra encontrou outro destino para as garrafas, ao criar tubos ecológicos, com a ajuda de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O desenvolvimento da tecnologia, inédita e já patenteada no Brasil, Europa, Estados Unidos e México, demandou R$ 3 milhões em investimentos e permitiu que as garrafas virassem tubos. O material, que recebeu o nome de Tubopet, consiste na mistura de vários plásticos reciclados com teor acima de 75% de PET, o que representa a reutilização mensal de 2 milhões de garrafas na produção de mais de 100 toneladas de produto final. Segundo Sérgio Dias, diretor-comercial da Empresa Brasileira de Reciclagem (EBR), responsável pela fabricação de Tubopet, além de serem ecologicamente corretos e representarem redução de custo de até 30%, os tubos têm melhor desempenho na construção civil. "Eles apresentam rigidez até duas vezes maior que seus equivalentes em PVC, são altamente resistentes ao impacto e à pressão e, principalmente, são mais leves que os de PVC em relação às mesmas espessuras." Essas características fizeram o produto ser adotado em projetos como o da ONG Habitat para Humanidade, de Recife, responsável pela construção de moradias para a população de baixa renda. Para Hermes Contesini, as indústrias ainda têm muito a aproveitar com a reciclagem de garrafas. "O Brasil recicla 53% das embalagens, o que equivale a 230 mil toneladas por ano. Além de ser um material disponível no mercado, o PET tem características que se mantêm durante toda a sua vida útil. Isso garante um material de boa qualidade." * Karina Padial Garcia é aluna da PUC-SP

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