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TI de batom

O segmento de tecnologia da informação (TI) tem atraído mulheres, e muitas estão hoje em cargos de comando

Por Vera Fiori
Atualização:

Segundo dados da Catho Online, levantados em fevereiro deste ano, as mulheres estão marcando presença num reduto tipicamente masculino: o outsourcing em tecnologia da informação (TI). A participação feminina representa 16% do quadro de funcionários no Brasil. Uma característica comum é a idade dessas mulheres. Invariavelmente, todas ingressaram no mercado bem jovens e muitas conquistaram postos-chave nas empresas na faixa dos 30, 40 anos. Andiara Petterle, de 29 anos, CEO (chief executive officer) da companhia de soluções femininas Bolsa de Mulher é um exemplo. Logo que completou 18 anos, ao contrário das garotas de sua idade, não pestanejou quando seu pai quis lhe dar um carro de presente de aniversário. "Pedi um computador, uma impressora a cores e um scanner importados." A brincadeira toda, presente do pai, custou US$ 15 mil. "Com esse micro fiz várias coisas, entre elas, o jornalzinho do colégio. Na época, morava em Cuiabá e o computador era solução contínua para criar projetos e fazer as coisas acontecerem." Em 1998, começou a trabalhar com internet em vários projetos, integrando a equipe do jornalista Fernando Vilella (que fez parte da primeira geração da internet no Brasil ), no site Cadê e na revista online Aqui. No final de 2005, foi convidada a reposicionar o portal feminino Bolsa de Mulher, criado em 2000, com o boom da internet. "Há um ano, o Bolsa passou a ser mais do que um espaço de conteúdo, tornando-se uma companhia de soluções e rede social. Outra inovação é a Universidade Feminina, que oferece cursos gratuitos de finanças, maquiagem, moda e, em menos de um mês, obteve 14 mil matrículas." As novidades não param por aí: a empresa planeja entrar forte na telefonia celular e tem planos de expansão na América Latina no segundo semestre. Aficionada por tecnologia, Andiara conta que, no decorrer da carreira, não esbarrou em dificuldades por ser mulher. "Lido com homens de várias idades e o fato de ser mulher, jovem e desenvolver tecnologia de ponta agrega respeito. Ainda, colocar a tecnologia, que é matéria-prima bruta, a serviço do cotidiano é uma habilidade feminina por excelência." FAMÍLIA MUDA-SE Algumas décadas atrás, para deslanchar na carreira, a mulher tinha de optar entre a família e o trabalho. Hoje, para não perder talentos, as empresas incentivam o vínculo familiar, acenando com oportunidades irrecusáveis. Cássia Mendes, gerente mundial de marketing da Microsoft, de 39 anos, casada há 18, dois filhos, não teve dúvidas quando foi convidada a assumir novos projetos em Seattle, sede da Microsoft: levou o marido, as crianças e o gato de estimação. "Como boa ariana, adoro desafios. Sentar numa mesa de reuniões e traçar estratégias com representantes de países do Leste Europeu vai ser um aprendizado fantástico. Além da proposta de trabalho, vejo a mudança como uma expansão de novos horizontes para a família. Vamos por três anos, mas quem sabe o que poderá acontecer depois?" O marido, que trabalhava na área financeira de uma multinacional, num gesto raro, jogou o emprego seguro para o alto, acompanhando-a nessa jornada. Precoce, Cássia entrou na faculdade de Ciência da Computação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) aos 16 anos, e formou-se aos 20. "Na sala de aula havia, no máximo, umas cinco meninas." Apesar de atuar num reduto masculino, conta que não teve dificuldades na área de TI. "Acredito que o grande desafio feminino ainda é conciliar papéis, porque, como bem diz o título do livro de Içami Tiba, Homem Cobra, Mulher Polvo, sobra para nós dar conta de multitarefas, como ser mãe, dona de casa, profissional. Confesso que não foi fácil voltar da licença maternidade dos meus dois filhos. Como na área de tecnologia as mudanças são muito rápidas, às vezes, eu pensava: pára que eu quero descer. Por sorte, meu marido sempre me apoiou e a empresa é flexível na questão de horários." BEM-ESTAR "Quando as pessoas conhecem a sede da ApData costumam dizer que tem dedo de mulher", fala Luiza Nizoli, de 47 anos, casada, com um filho e diretora executiva da empresa, que presta consultoria e fornece software de gestão de recursos humanos para mais de 400 clientes. Depois de ter enveredado pelo caminho do autoconhecimento, Luiza deixou de ser escrava do trabalho e passou a investir na qualidade vida dos seus funcionários, colocando em prática duas coisas que, à primeira vista, são incompatíveis: tecnologia e sensibilidade. - Os ambientes seguem o conceito de Feng Shui. Temos cromoterapia, massagistas, home theater, atendimento psicológico, sala de sonoterapia, entre outros. No começo, os homens nem chegavam perto, achando que era coisa de mulherzinha. Hoje até os mais céticos usufruem dos benefícios . No quadro de funcionários, as mulheres representam 70% da mão-de-obra. "Há 10 anos, o mercado de TI era fechado para as mulheres. Atualmente, apesar do crescimento da participação feminina, a área técnica ainda é dominada por homens." Lembra que, muitas vezes, ao participar de reuniões, sentia uma discriminação enorme. "Dava para ler na testa deles: o que essa mulher está fazendo aqui?" O nariz torcido, diz Luiza, ainda acontece com freqüência. Conta que, há cerca de três anos - portanto, nem tanto tempo assim -, numa reunião com um grande cliente, um executivo da tal companhia lhe perguntou se não viria mais ninguém e se ela se achava em condições de fazer a reunião. "No final da apresentação, ele veio me pedir desculpas." Para se sair bem nesse segmento, considera que o caminho não é copiar o estilo masculino de gestão. "Sempre que fazia isso, batia de frente. Aprendi a usar as nossas principais habilidades para me impor e, assim, acabaram-se os duelos." PULSO FIRME Em 1995, Cristina Boner, de 46 anos, três filhas, fundadora da TBA Informática, foi chamada para ir aos Estados Unidos, recebendo das mãos de Bill Gates o prêmio de melhor prestador de serviços da Microsoft na América Latina. Quando Gates veio ao Brasil um ano depois, como era praticamente impossível marcar um encontro cara a cara com o todo poderoso, ela mandou fazer uma faixa com os dizeres: "welcome, Bill Gates - TBA Informática", e contratou um avião para exibi-la em Brasília, por todos os pontos onde ele deveria passar. A estratégia pouco convencional deu certo e sua empresa passou a ser distribuidora dos produtos Bill Gates para o Brasil. Paulista de Ribeirão Preto, mudou-se com a família para Brasília aos 14 anos. É formada em processamento de dados pela Universidade Católica de Brasília (UCB), onde deu aulas e trabalhou no Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Em 1992, deixou a segurança do emprego público para criar, com dois alunos, a Tecnologia Brasileira Avançada (TBA), transformada numa holding. Contrariando a opinião da maioria das executivas, Cristina conta que conquistou sua posição usando habilidades masculinas. Isso mesmo. "Ser dona de empresa é diferente de ser CEO. A gente tem que quebrar pedra", brinca. Usar a lógica, ter garra, abraçar desafios, correr riscos, não se deixar abater num mercado agressivo e competitivo como este, segundo ela, são características próprias do sexo masculino. "No ambiente de trabalho, a mulher é mais frágil, leva tudo para o lado pessoal, é emotiva, insegura. Por outro lado, a intuição é nosso ponto forte. Já segui meu coração, até mesmo na negociação com a Microsoft." Atirada nos negócios, fez uma associação com um grupo indiano, vendeu a sua parte para eles e, no início do ano que vem, pretende lançar sua empresa na Bolsa de Valores. Duas das três filhas - a de 25 e a de 18 anos - seguem os passos da mãe e trabalham na empresa. A mais velha é diretora de RH e a caçula atua na área de licitações. "Quando eram pequenas, eu contava com a ajuda de empregadas e babás, mas sempre dava um jeito de tomar o café da manhã com elas." Aos 46 anos, já é avó e se diverte com o neto de 5 anos, que passa a mão no seu notebook, ensinando-a a acessar sites infantis. MAMÃE PROMOVIDA Formada em Análise de Sistemas, Paula Bellizia, de 35 anos, dois filhos, é diretora de desenvolvimento de negócios da Microsoft Brasil. Iniciou sua carreira como Analista de Informática para a área de Marketing da Multibrás S/A Eletrodomésticos. Também passou pela Companhia Telefônica, na área de desenvolvimento de produtos. "Lidero uma unidade de negócios e é rotina participar de reuniões e grupos de discussões na área técnica. Muitas vezes, sou a única mulher presente. Existe, sim, uma cobrança, mas independentemente do sexo.Vejo que a resistência por parte dos homens vem diminuindo. No começo havia uma crítica velada." Mãe de um bebê de 6 meses, ficou surpresa quando foi promovida após a licença maternidade. "Para conciliar trabalho e casa, divido as tarefas com meu marido. Mas quando surgem as viagens, e são umas oito por ano, apelo para mãe e sogra!" Trabalha uma média de 10, 11 horas por dia e, no quesito lazer, se dá nota 7,5. "Quando estou em casa, meu marido fala: você não vai checar e-mail após o jantar, né?"

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