''Sonho achar uma peça valiosa'', diz colecionador

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Por Alexandre Gonçalves
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Quando criança, o administrador Wilton Carvalho ouvia histórias da pedra encantada que caiu na caatinga. Foram homens da capital até lá para levar o objeto. Os idosos diziam que a pedra não queria acompanhá-los: travava as rodas do carro de boi e caía no chão. A persistência e o engenho dos pesquisadores venceram e, por ordem de d. Pedro II, o meteorito embarcou para o Rio, em 1888, em uma estação ferroviária do município de Itiúba (BA), cidade natal de Carvalho, a 360 quilômetros de Salvador. Em 1990, com 44 anos, Carvalho visitou o Museu Nacional e ficou maravilhado com o bloco de metal que viera da sua terra. Feito de ferro e níquel, Bendegó é o maior meteorito brasileiro. Tem 5.360 quilos. Carvalho tornou-se colecionador. Soube de uma chuva de meteoritos em Campos Sales (CE), uma cidade com 26 mil habitantes a 500 quilômetros de Fortaleza. O administrador contratou uma pessoa para visitar os lavradores e descobrir se alguém tinha guardado pedaços do meteorito. Conseguiu vários fragmentos. Em contato com colecionadores de outros países, realizou trocas para aumentar a variedade do seu acervo. No início, quis fazer dinheiro com o hobby. Comprou meteoritos em Tucson (EUA), na maior feira de pedras do mundo. Tentou revendê-las aqui e continuou procurando meteoritos Brasil afora. Em poucos anos, descobriu que o ramo era pouco promissor. Não havia compradores brasileiros e as buscas custavam caro, sem retorno. "Sonho encontrar um meteorito valioso", comenta em tom de brincadeira. "Passaria o resto da vida caçando só por prazer." Sua maior aventura foi uma incursão na floresta amazônica para encontrar a "Tunguska brasileira". Em 1908, um objeto celeste atingiu o vale do Rio Tunguska, na Sibéria, e devastou 60 quilômetros quadrados de floresta. Segundo registros de um missionário, um evento semelhante, porém menor, ocorreu na Amazônia em 1930. Em 1997, ao lado de pesquisadores do Observatório Nacional e de duas emissoras de televisão, Carvalho visitou a região do Rio Curuçá. Imagens de satélite insinuavam a existência de uma cratera. Vários dias na floresta terminaram sem sucesso: "Não podia ser lá: havia árvores com troncos grossos." Todos os anos, Carvalho realiza três viagens para procurar meteoritos. A paixão de colecionador fez Carvalho ingressar na academia. No fim do ano, defenderá tese de mestrado sobre Bendegó na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Com sua orientadora, Débora Rios, conseguiu financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) para o Programa de Recuperação, Classificação e Registro de Meteoritos (Promete). O projeto pretende recuperar meteoritos que caíram no Estado. Sua coleção particular está exposta no Museu Geológico da Bahia.

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