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Só 1% tem acesso à vacina anti-HPV

Preço da dose varia de R$ 216 a R$ 446 em clínicas particulares

Por Emilio Sant'Anna
Atualização:

A primeira das duas vacinas existentes no mercado contra o HPV - vírus causador do câncer de colo de útero - chegou ao Brasil em 2006. Apesar de reconhecidamente eficaz, a imunização não atinge hoje 1% da população. Motivo: o preço de cada dose, que pode variar de R$ 216 a R$ 446 nas clínicas particulares. A recomendação é que sejam feitas três aplicações, o que pode elevar o custo para mais de R$ 1 mil. O câncer de colo de útero deve atingir mais de 18 mil brasileiras neste ano. O alto custo da imunização, porém, afirmam os especialistas, ainda impede que uma das vacinas (da Merck Sharp e Dohme ou da Glaxo Smith Kline) seja adotada pelo Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde. Uma estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) traduz a desproporcionalidade entre as vacinas contra o HPV e o resto do programa, que tem orçamento de R$ 1,8 bilhão anual. Se a aplicação de apenas uma dose da vacina para meninas entre 9 e 11 anos fosse adotada, isso custaria 2,5 vezes o valor de todo o programa nacional. "A criação da vacina foi um passo científico extraordinário", diz o diretor-geral do Inca, Luiz Antônio Santini. "Quanto à sua aplicação em larga escala, ainda é um problema." Assim que a vacina da Merck, a primeira a ser lançada, chegou ao mercado, o ministério criou um comitê científico para analisar sua adoção, revela Santini. A relação custo-efetividade, porém, não se mostrou razoável e a indicação do comitê, comandado pelo Inca, é que mais investimentos sejam feitos em exames de prevenção, como o Papanicolau. Para Santini, mesmo que as vacinas tenham sido aprovadas pela Agência Nacionalde Vigilância Sanitária (Anvisa), faltam ainda dados sobre seus efeitos. "Não sabemos, por exemplo, qual é o real tempo de eficácia." PRIORIDADE João Sanches, diretor de assuntos governamentais e corporativos da Merck,concorda que a vacina tem pouca penetração no mercado nacional, fundamentalmente por causa do custo. Porém, afirma que o valor não pode explicar a decisão do governo de não adotá-la no programa de imunizações. O preço cobrado hoje nas clínicas particulares, diz Sanches, não seria o mesmo do cobrado pelo laboratório para fornecer o produto para o ministério. "Temos procurado o governo para discutir questões como a redução de custos, mas a adoção da vacina não é uma prioridade para o ministério", afirma ele. Para reforçar a tese de que a medida teria custo-efetividade, Sanches comenta que outros países como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e França já oferecem a imunização contra o HPV em seus calendários oficiais de vacinação. Para o presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Nilson Roberto de Melo, o mesmo acontecerá no Brasil. "O preço tende a cair, como aconteceu em países como México e Panamá", diz o médico.

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