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Sem fãs e sem dinheiro, Jackson brincou em SP

Radialista e produtor Solano Ribeiro lembra da primeira e esquecida viagem que o cantor fez ao País, há 35 anos, quando gravou na TV Tupi

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

A primeira vez que Michael Jackson veio ao Brasil foi de graça e não havia fãs esperando. Ele tinha 15 anos e era apenas "um pivetinho elétrico, muito talentoso, super alegre", que brincava o tempo todo com o irmão mais novo, Randy, de 11 anos, como lembra hoje um dos seus anfitriões brasileiros, o produtor Solano Ribeiro, de 70 anos. Era setembro de 1974 e o Jackson Five - conjunto que Michael formava com os irmãos Tito, Marlon, Jermaine, Randy e Jackie -, em turnê pelo Brasil (tocaram no Palácio das Convenções, no Anhembi, em Brasília e no Maracanãzinho do Rio), tinha sido oferecido graciosamente para ir aos estúdios da Rede Tupi para gravar um especial na emissora (a TV Globo já era líder no Ibope, mas não se interessou). Aos 35 anos, Solano era diretor de programação da emissora. "O time todo era disciplinado à beça. A única exigência era que liberássemos o menorzinho até as 22h", lembra Ribeiro, que tem um programa na Rádio Cultura. Para fazer cumprir a exigência legal, que restringia o trabalho de menores de idade depois de certa hora, veio junto com o grupo uma "negona parruda, elegante e sorridente, porém severa juíza de menores". A Tupi tinha somente três câmeras coloridas. As mesmas câmeras eram utilizadas nas novelas, no telejornal diário e depois para os programas da linha de shows. Tudo isso tornava impossível começar a gravação antes das 22 horas, quanto mais concluí-la. Ribeiro contou a seguinte história em seu blog, na segunda-feira: "Percebendo a demora, a juíza passou a pressionar a produção. Em inglês. Mario Araújo, na época assessor da presidência, jogava todo seu charme e conhecimento shakespeariano sobre a imensa senhora, na tentativa de conquistar sua simpatia." Mas o tempo corria - 21h30 e nada. "Depois de demorado tour pelas dependências congestionadas da emissora para constatar nossa subdesenvolvida, mas simpática competência, e apesar de envaidecida por gentilezas que jamais deve ter sido alvo na sua terra, com grande sorriso ameaçava melar a gravação." Mario Araújo lançou uma última cartada: "Minha senhora, de maneira alguma queremos que deixe de cumprir com sua missão. Apenas que seja maleável quanto ao fuso horário. Onde é sua jurisdição?". Ela respondeu: "Los Angeles, Califórnia." No que Mario, rápido no gatilho, concluiu: "E que horas são agora em Los Angeles?" O fuso horário coloca Los Angeles quatro horas atrás do horário de São Paulo. Seriam então 18 horas na cidade americana. "A gargalhada americana ecoou pelos Altos do Sumaré, deixando enorme suspense quanto à sua decisão. Que veio depois de prolongado silêncio. ?Well, you dirty son of a bitch... Mas se passar de 23h30, não tem mais conversa. This is it?", diz Solano, reconstituindo o diálogo de forma divertida. "Às 23h29, subia a ficha técnica." Em entrevista ao jornal Última Hora, na época, o irmão de Michael, Jermaine, então com 19 anos, contava que seu sonho era gravar com Quincy Jones. Marlon queria ser parceiro de Sammy Davis Jr. De Michael, o redator escreveu: "Chegou muitas vezes a chamar mais atenção no palco que seus irmãos."

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