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Saúde cria brigadas para buscar doadores de órgãos

Profissionais vão atuar em grandes hospitais, como o Souza Aguiar, no Rio

Por Ligia Formenti e BRASÍLIA
Atualização:

O Ministério da Saúde vai instalar em alguns hospitais equipes encarregadas de detectar possíveis doadores de órgãos. Formadas por psicólogos e assistentes sociais, essas brigadas trabalharão em grandes centros de emergência, como Hospital de Base (de Brasília), João XXIII (Belo Horizonte) e Souza Aguiar (Rio). As equipes, financiadas pelo ministério, terão de fazer a chamada "busca ativa": procurar pacientes com possível morte cerebral e consultar as famílias para verificar o interesse na doação de órgãos, caso o diagnóstico seja confirmado. O modelo, semelhante ao da Espanha, pretende reduzir a subnotificação de mortes cerebrais e aumentar o porcentual de famílias que concordam com a doação. A medida, que virá sob a forma de portaria, integra um pacote de ações do Ministério da Saúde para combater a queda do número de doadores. Amanhã, haverá o lançamento de uma campanha sobre o tema, em Salvador. Levantamento da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostra que a média de doadores em 2007 é de 5,4 por milhão de população (pmp). Isso corresponde a menos de 25% da lista de espera por órgãos. "Os números vem caindo", admitiu o coordenador do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Abrahão Salomão Filho. Em 2004, a média de doadores era de 7,3 pmp. Salomão Filho observa ainda que uma lei publicada no dia 18, que permite o pagamento pelo SUS de transplante feito em hospital particular, poderá ajudar a aumentar as operações. O coordenador diz que não se sabe ainda as causas da queda do número de transplantes. Para ele, um dos maiores entraves é a subnotificação às centrais de transplantes de mortes cerebrais, sobretudo de vítimas de violência ou acidentes de trânsito. Além de comunicar a suspeita de morte cerebral, hospitais têm de manter o paciente sob determinadas condições, para que um transplante possa ser feito. Antes de o transplante ser liberado, é preciso que o diagnóstico de morte cerebral seja confirmado seis horas após o primeiro parecer. "Em muitos locais, possíveis doadores são perdidos porque todos esses procedimentos não são seguidos", observou Salomão Filho. As novas equipes não precisariam existir se funcionasse o esquema original. As regras hoje determinam que hospitais com mais de 80 leitos tenham uma equipe encarregada de fazer tal busca. Mesmo assim, o problema da subnotificação não foi reduzido. Para o diretor da ONG Adote, Renato Gomes, é fácil entender a razão. "Em hospitais do Rio, profissionais não trabalham apenas na comissão intra-hospitalar. Eles acumulam funções", observou. "Com a falta de profissionais, um neurologista não vai parar de atender um paciente para fazer o diagnóstico de outro, com suspeita de morte cerebral", completou. Salomão Filho disse não haver ainda uma lista de quais hospitais receberão as brigadas nem qual verba será usada.

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