Satélite Corot detecta tremores em 3 estrelas

Além da primeira visão detalhada dos ?terremotos estelares?, projeto de parceria entre europeus e brasileiros busca planetas similares à Terra

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Por Carlos Orsi
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Assim como terremotos permitem que se façam deduções sobre o que existe no subsolo da Terra, vibrações na superfície de uma estrela podem dar pistas importantes sobre o que ocorre no interior desses astros. As vibrações do Sol já são velhas conhecidas dos pesquisadores, mas um artigo na edição desta semana da revista Science (www.sciencemag.org), assinado por cientistas brasileiros e europeus, traz a primeira descrição detalhada da sismologia de três estrelas distantes, todas um pouco maiores que o Sol e localizadas a distâncias de 100 a 200 anos-luz da Terra. Mais informações sobre as descobertas do Corot "A superfície da estrela é como um instrumento musical ou uma caixa de ressonância", explica o físico José Renan de Medeiros, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, um dos autores do trabalho. O artigo baseia-se em observações feitas pelo satélite Corot, lançado em 2006. "Ao medirmos as ondas que vêm do interior, vemos como é o plasma dentro da estrela." Plasma é o nome do estado que a matéria assume a temperaturas extremamente altas. As oscilações das estrelas são provocadas por convecção - a elevação do plasma mais quente rumo à superfície e a submersão do mais frio. Esse movimento é um dos fatores determinantes do campo magnético estelar. O cientista acredita que esses resultados deverão estimular novos investimentos em satélites para o estudo da estrutura das estrelas, já que as observações do Corot são muito mais precisas do que as obtidas da superfície terrestre. "Já estamos trabalhando na próxima geração, o satélite Plato", diz ele. "É um projeto de gestação longa, talvez para 2013." A Nasa, agência espacial americana, tem um satélite de características semelhantes às do Corot, o Kepler. O lançamento é previsto para março. CORRIDA O Brasil é parceiro do Corot. Além do envolvimento de cientistas brasileiros no projeto, ao passar sobre o Hemisfério Sul o satélite descarrega suas informações científicas numa estação brasileira. Além de captar o pulso das estrelas, o Corot também foi construído para descobrir planetas semelhantes à Terra. O francês Eric Michel, principal autor do artigo, diz que o satélite é capaz de distinguir as variações na luz de uma estrela, produzidas por vibração, das que seriam causadas pela passagem de um planeta entre o astro e a linha de visão do equipamento, um fenômeno chamado ocultação. Até o momento, o Corot encontrou seis planetas em órbita de estrelas distantes, mas nenhum deles semelhante à Terra. "Os dados estão sendo tratados", diz Medeiros, referindo-se às leituras feitas pelo satélite. O pesquisador espera que o cálculo que vai provar a existência do primeiro irmão da Terra no espaço seja feito no Brasil. Segundo ele, os brasileiros têm experiência com as técnicas estatísticas que poderão revelar esse planeta. "A busca por novos mundos tornou-se uma corrida", diz.

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