Salmões estéreis concebem trutas

Técnica desenvolvida por cientistas japoneses será usada para preservar espécies de peixes sob risco de extinção

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Por AP e Washington
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Pesquisadores japoneses levaram o conceito de barriga de aluguel um passo além, ao adaptar peixes de uma espécie para produzir outra, num esforço para preservar variedades ameaçadas de extinção. Cientistas da Universidade de Tóquio injetaram células produtoras de esperma de trutas em salmões recém-nascidos, mas estéreis. Os salmões cresceram e geraram trutas. Entusiasmados com a técnica, pesquisadores dos EUA começarão a usá-la para desenvolver um tipo de salmão ameaçado de extinção no Estado de Idaho, dessa vez utilizando as trutas como reprodutores de aluguel, ao contrário da experiência japonesa. "(A técnica) É uma das melhores coisas que já aconteceram em muito tempo, ao trazer algo de novo à biologia da conservação", disse o pesquisador encarregado do projeto de Idaho, Joseph Cloud. O experimento, descrito na edição de hoje da revista Science, chamou a atenção de especialistas na preservação de espécies ameaçadas. Reproduzir peixes ameaçados em cativeiro é difícil, e tentativas de congelar ovos desses animais para uso posterior não têm obtido sucesso. O processo descrito na revista, desenvolvido pela equipe de Goro Yoshizaki, começou com tentativas de transplantar as células produtoras de esperma para salmões normais, mas o resultado foram peixes híbridos entre salmão e truta, que não sobreviveram. Na tentativa seguinte, o cientista Yoshizaki criou salmões geneticamente programados para a esterilidade. Em seguida, injetou nesses peixes, ainda recém-nascidos, células-tronco destinadas a dar origem a esperma extraídas de trutas macho. Dez dos 29 salmões submetidos ao tratamento passaram a produzir esperma de truta. Yoshizaki ficou surpreso ao ver que a injeção das células-tronco de esperma em fêmeas de salmão também funcionou em alguns casos, induzindo a formação de óvulos de truta. Os japoneses então utilizaram o esperma de truta produzido pelos salmões para fertilizar tanto óvulos naturais de truta quanto óvulos extraídos das fêmeas de salmão tratadas com as células-tronco. Testes de DNA demonstraram que todos os filhotes gerados a partir dessa técnica eram trutas puro-sangue. E todos apresentaram-se capazes de se reproduzir.

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