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Roger Abdelmassih é preso em SP

Dono da maior clínica de fertilização do País, médico é acusado de crimes sexuais contra suas ex-pacientes

Por e Mariana Mandelli
Atualização:

O médico Roger Abdelmassih, de 65 anos, foi preso ontem em sua clínica de reprodução assistida, na Avenida Brasil, zona sul de São Paulo, acusado de abuso sexual. O mandado de prisão preventiva contra ele foi expedido pelo juiz Bruno Paes Straforini, da 16ª Vara Criminal, que determinou também a abertura de processo contra o médico. O Ministério Público Estadual (MPE) acusa Abdelmassih de ter praticado 56 estupros contra mulheres (a maioria ex-pacientes) - sendo 52 consumados e 4 tentativas.   Veja também: Pelo menos 50 mulheres prestaram depoimento contra médico  Polícia indicia médico sob acusação de crime sexual  Abdelmassih obtém liminar para saber quem o acusa  Médico afirma que sedativo pode provocar 'comportamento amoroso'  Pacientes e MP contestam médico A operação para capturar o médico, tido como um dos maiores especialistas em fertilização in vitro do País, foi coordenada pelo delegado Aldo Galiano Júnior, da 1ª Delegacia Seccional. Assim que a Justiça expediu o mandado, o delegado e sua equipe se dirigiram para o casarão na esquina da Rua Argentina com a Avenida Brasil, onde funciona a clínica de Abdelmassih. Enquanto policiais se posicionavam do lado de fora, uma delegada se passava por acompanhante de uma paciente para conseguir permanecer na sala de espera. Às 15h19, uma Mercedes-Benz prateada estacionou na porta da clínica. Abdelmassih desceu calmamente do banco traseiro e se dirigiu para o consultório. O médico havia acabado de cruzar um portão interno quando uma viatura descaracterizada, com as sirenes ligadas, chegou para prendê-lo. Abdelmassih ainda tentou se refugiar num banheiro, mas foi em vão. Ao deixar a clínica, declarou: "Estou surpreso!". A nova investigação contra Abdelmassih começou em maio. No ano passado, promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPE, já haviam oferecido denúncia (acusação formal) contra o médico por crimes sexuais - as vítimas seriam uma ex-funcionária e uma ex-paciente. O requerimento foi rejeitado sob o argumento de que o MPE não tem poder de investigação. O caso foi então remetido à 1ª Delegacia de Defesa da Mulher, que instaurou inquérito para apurar as queixas. Nos últimos meses, mais de 60 mulheres procuraram a polícia e o MPE para acusar o médico de tê-las molestado. Os relatos são de que Abdelmassih investia contra as pacientes, tentando, por exemplo, beijá-las e acariciá-las à força. Em 23 de junho, ele foi indiciado por estupro e atentado violento ao pudor. Os crimes, segundo o MPE, foram cometidos entre 1995 e 2008, embora existam relatos de abusos praticados na década de 1970, que já prescreveram.   Sequência de imagens mostra a prisão do médico por policiais, na capital paulsita. Evelson de Freitas/AE As investigações contra Abdelmassih prosseguem em outras duas frentes: a pedido do Gaeco, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo instaurou sindicância para apurar suposta prática de sexagem (escolha de sexo) e "turbinamento" (uso de material genético de mulheres mais jovens em óvulos de mulheres mais velhas para aumentar as chances de sucesso da fertilização), procedimentos não regulamentados no País. Promotores do Grupo de Atuação Especial para a Repressão aos Crimes de Sonegação Fiscal (Gaesf) também investigam suspeitas de "acertos financeiros" da clínica para driblar o pagamento de impostos. No pedido de prisão entregue na quinta-feira à Justiça, os promotores Everton Zanella, Fernanda Rosa, Luiz Henrique Dal Poz e Roberto Porto, do Gaeco da capital, chamavam atenção para a frieza, brutalidade e periculosidade do médico. Diziam que os casos narrados na denúncia não eram isolados ou frutos de surtos do acusado, mas de uma personalidade voltada para a execução de crimes sexuais. E, por fim, faziam menção ao risco de as testemunhas serem coagidas e da possibilidade de Abdelmassih deixar o País. O médico passaria a noite em uma cela do 40º DP (Vila Santa Maria). CRONOLOGIA Maio de 2008 O Ministério Público de São Paulo dá início às investigações. Chega a denunciar o profissional, mas a Justiça decide enviar o caso à delegacia da mulher 9 Janeiro de 2009 Revelada a investigação do Ministério Público pela imprensa 25 de janeiro Em entrevista ao Estado, o médico diz que um anestésico que usava poderia levar a um comportamento amoroso dos pacientes 11 de março O Supremo Tribunal Federal concede ao médico acesso aos nomes de suas vítimas 23 de junho Abdelmassih é indiciado pela polícia por estupro e atentado violento ao pudor 7 de agosto O Conselho Regional de Medicina de São Paulo nega pedido de suspensão cautelar do registro do médico e abre 51 processos éticos contra o especialista

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