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Ritmo de desmatamento da mata atlântica se mantém desde 2000

Devastação atingiu 102,9 mil hectares entre 2005 e 2008; atualmente restam apenas 11,4% das áreas originais

Por Cristina Amorim
Atualização:

A taxa de desmatamento da mata atlântica mantém o mesmo ritmo desde 2000. Segundo o atlas dos remanescentes feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela ONG SOS Mata Atlântica, o bioma perdeu 102.938 hectares entre 2005 e 2008, mais de 34 mil hectares por ano. Entre 2000 e 2005, foi registrada a perda de 34.965 hectares anualmente. Os números referem-se a 10 dos 17 Estados onde há mata atlântica. É uma área pequena (o município de São Paulo, por exemplo, tem 150.900 hectares), mas não para a mata atlântica: o bioma mais explorado do País tem hoje 11,41% dos 131 milhões de hectares que havia quando os portugueses chegaram. É nesse trecho que moram 112 milhões de brasileiros, que dependem dos serviços ambientais fornecidos pela floresta - disponibilidade de água, por exemplo. "Grande parte do que sobrou está em mãos de proprietários particulares e, neste sentido, a participação deles é importante para garantir a manutenção das áreas, especialmente das matas ciliares", diz Marcia Hirota, coordenadora do atlas. ILHAS VERDES Tão importante quanto a taxa de desmatamento é a situação do que restou. De acordo com o atlas, dos 233 mil fragmentos florestais com mais de 3 hectares existentes na mata atlântica, só 18,4 mil são maiores que 100 hectares. Ou seja, a maioria é formada por pequenas ilhas isoladas de floresta, muitas vezes completamente desconectadas umas das outras. A fragmentação funciona como uma implosão: as árvores e os animais que se encontram naquele pedaço cruzam entre si, enfraquecendo a espécie. Além disso, essas "ilhas verdes" ficam mais expostas a pressões ambientais. "A falta de conexão causa sérios problemas, o chamado efeito de borda (agressão por fogo, veneno, sementes de capim, plantas invasoras)", explica Mário Mantovani, diretor de mobilização da ONG. É o caso de Santa Catarina, um dos Estados que mais derrubaram mata no período (ficou atrás apenas de Minas Gerais). O presidente da Fundação de Meio Ambiente do Estado, Murilo Flores, afirma que há mais floresta ali do que diz o atlas (2,1 milhões de hectares, ou 22% da área - originalmente, o Estado era totalmente coberto de mata atlântica). Segundo ele, isso acontece porque a metodologia usada nesse trabalho não identifica fragmentos muito pequenos. "Essas manchas (de vegetação) são insuficientes para a biodiversidade, mas podem ajudar a criar corredores", diz Flores. Corredores ecológicos são uma estratégia de recuperação e conservação, quando tenta-se unir fragmentos de floresta para que haja trânsito e cruzamento das espécies. "O que restou é muito pouco e, se algo não for feito efetivamente, a conectividade cada vez mais estará comprometida", afirma Flávio Ponzoni, do Inpe, coordenador técnico do estudo. A despeito dos valores identificados pelo atlas, Marcia afirma que Santa Catarina confirmou, nesse atlas, uma tendência de corte sistemático da vegetação. "É um Estado que ainda detém bastante mata comparada à área original (de ocorrência), mas há 20 anos os desmatamentos vêm acontecendo." CAMPEÕES Minas foi o Estado que apresentou a maior área desmatada nos últimos três anos: 32,7 mil ha. Ela se concentra onde a mata atlântica encontra outro bioma tipicamente brasileiro, e ameaçado, o cerrado. O mesmo acontece na Bahia, em terceiro lugar entre os Estados que mais cortaram árvores - segundo o atlas -, os baianos perderam pouco mais de 24 mil ha no período. Em nota, o governo mineiro afirma que "a pressão exercida nas florestas nativas em decorrência da expansão agropecuária e do consumo ilegal de carvão vegetal estão entre os principais responsáveis pelos números divulgados". Também lembra que Minas é o Estado que possui a maior área remanescente de mata atlântica - mas, indica o atlas, menos de 10% da floresta original.

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