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Rio Preto terá centro de alta tecnologia na área cardíaca

Novo parque está sendo implantado pela iniciativa privada, com apoio de Estado e município

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A ligação entre o novo Parque Tecnológico de São José do Rio Preto (400 km ao norte de São Paulo) e pelo menos 50 mil pessoas com problemas cardíacos é um longo talho no peito. O corte preciso, do pescoço até a cintura, é a marca dos pacientes que passaram pela cidade de 400 mil habitantes nos últimos 42 anos procurando cura para doenças do coração. Ali, por iniciativa de um pequeno grupo de médicos, surgiu em 1966 o segundo pólo de cardiologia do Estado. Iniciativa semelhante, protagonizada por algumas das mesmas pessoas, está criando o único centro de alta tecnologia do País voltado para a área biomédica - de tratamento e produtos. "É uma espécie de Embraer do coração", sustenta Domingo Braile, cirurgião fundador das duas corporações em torno das quais o parque está sendo planejado, a Braile Biomédica e o Instituto de Moléstias Cardiovasculares (IMC). "O que deu sentido à indústria aeronáutica brasileira foi a busca da excelência. É exatamente isso que procuramos fazer." A peculiaridade do processo é que quase tudo corre por conta da iniciativa privada. O Estado - e em porção maior o município - participam na condição de agências de fomento: oferecem a infra-estrutura e cuidam das facilidades de apoio, como transporte, energia ou meios de ocupação. Os fatores de atração servem para motivar as empresas, que têm acesso aos lotes do parque por meio de uma concorrência. Nas propostas, são considerados fatores ambientais, criação de conhecimento original, novos empregos, possibilidades de mercado e integração ao conjunto produtivo. "O modelo é científico, desenvolvido sob minuciosa investigação", afirma o economista Orlando Bolçone, secretário de Planejamento da administração municipal. Seu trabalho de mestrado, A Saúde como Estratégia Social de Desenvolvimento, aponta o setor biomédico como a vocação local, segundo um molde incomum no Brasil: a pesquisa científica e a busca da inovação realizadas à custa da iniciativa privada, embora sob certificação oficial. Funcionam em São José do Rio Preto 630 empresas médicas - uma para cada 634 habitantes. A cidade é rica: é a 17ª do País em fortunas pessoais, a 2ª em longevidade e a 3ª em escolaridade. Na rede de hospitais, quase toda sustentada por contratos do Sistema Único de Saúde (SUS), é possível fazer transplantes de órgãos e todos os procedimentos cardiovasculares ou de caráter experimental, como as terapias que utilizam células-tronco. É de Rio Preto que saem válvulas cardíacas feitas com o pericárdio bovino, tecido que envolve o coração do boi, para 25 países - algo em torno de 162 unidades por mês para clínicas da União Européia, Leste Europeu, Oriente Médio, Ásia, Indochina e América Latina. O fabricante é a Braile Biomédica. Desde 1977 foram produzidas 58.494 unidades desse tipo e mais 37.094 extraídas do músculo cardíaco de porcos. CÉLULAS-TRONCO Em outra instituição âncora do Parque Tecnológico, o IMC, o médico Oswaldo Grecco prepara uma revolução. Até 2012, ele pretende ter um segundo complexo em funcionamento, o Instituto de Reparação e Recuperação Tecidual. Grecco, ex-parceiro clínico do cirurgião Braile, é presidente do IMC. Ele cuida pessoalmente da introdução das células-tronco na rotina dos 28 sócios da organização. "Esse é o futuro, e está bem próximo", afirma. Para ele, "se o século 20 foi dedicado às técnicas de reparação, o 21 será marcado por métodos de recuperação". O índice médio de mortalidade nos transplantes "ainda é de 50%, o que é estimulante para a investigação científica com as células capazes de regenerar certos danos que hoje implicam a troca do órgão", afirma o médico. De acordo com Oswaldo Grecco, o IMC acompanha 101 doentes do coração e 6 outros portadores de deficiência circulatória periférica, submetidos à terapia de células-tronco. O instituto está aplicando R$ 350 mil na construção de um novo laboratório da área. É parte de uma ação combinada com o Parque Tecnológico. Entre as dez corporações que já se cadastraram para integrar o complexo - de setores como biotecnologia, biomedicina, tecnologia da informação e mecânica fina - a Cryopraxis, que funciona no câmpus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, está investindo R$ 4 milhões em São José do Rio Preto, em um sofisticado complexo, a maior instalação brasileira de armazenamento de células-tronco obtidas nos cordões umbilicais. A capacidade inicial é de 60 mil amostras. O conjunto fica pronto até dezembro. O foco é a utilização em pesquisa de tratamento. SAI CADEIA, ENTRA CIÊNCIA O parque vai ocupar uma gleba de 250 alqueires. No local está o Instituto Penal Agrícola, que será transferido para o município de São Carlos até dezembro de 2009. O ponto é privilegiado, no trecho urbano da rodovia Washington Luiz, e agregado a uma reserva ambiental. Nenhuma das empresas candidatas é geradora de resíduos tóxicos. O secretário estadual de Desenvolvimento e vice-governador, Alberto Goldman, tem conhecimento de que "os estudos de viabilidade do Parque Tecnológico de São José do Rio Preto estão em andamento, mas ainda não chegaram à secretaria". Na relação do sistema paulista de parques, a secretaria considera "iniciativas em curso" apenas os empreendimentos de Piracicaba, São José dos Campos, São Carlos, Ribeirão Preto e Sorocaba. Rio Preto está na listagem da segunda onda. "O governo do Estado estimula, orienta e apóia. Cabe à prefeitura viabilizar", explica Goldman.

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