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Rim com câncer age como o embrionário

Dezoito genes são ligados a comportamento, observado em tumor infantil

Por Cristina Amorim
Atualização:

Uma equipe brasileira de pesquisadores do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo, mostrou que, em um tipo de câncer que atinge crianças, células do rim atuam como se ainda fossem embrionárias. Dezoito genes estão ligados a essa anomalia. O objeto de estudo foi o tumor de Wilms, ou nefroblastoma, a doença maligna renal mais frequente na infância. Ela atinge 7 em cada 10 mil crianças, especialmente entre 2 e 3 anos, mas também pode aparecer em outras idades. A equipe, do Laboratório de Genômica e Biologia Molecular do hospital, observou que os 18 genes fazem o contrário do que é esperado deles: se em rins sadios alguns deles estão ativos, no rim doente eles não estão, e vice-versa. É um comportamento típico do rim embrionário, em desenvolvimento, não no órgão maduro. Havia evidências morfológicas dessa característica, que foram agora comprovadas com a pesquisa. Tal padrão de expressão dos genes foi identificado em um dos três tipos celulares encontrados no tumor de Wilms, o componente blastematoso. "No ?blastema? é onde estão as informações moleculares mais marcantes", diz a principal autora do estudo, a pesquisadora Mariana Maschietto. Ela também observou que pelo menos um gene é particularmente ativo no caso de crianças que tiveram novamente câncer, no rim ou em outro órgão. O trabalho foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e faz parte da tese de doutorado de Mariana. Os detalhes foram publicados na revista especializada Oncology (www.karger.com/OCL). Mariana usou amostras do banco de tumores do hospital. O diagnóstico do tumor de Wilms é difícil: ele não apresenta sintomas e, por isso, é identificada em um estágio avançado, quando percebe-se no exame físico uma massa na região do rim. O índice de cura é de cerca de 80%, mas o tratamento, baseado em quimioterapia, tem efeitos colaterais - quando o tumor é agressivo, a droga usada é tóxica ao coração. Ainda não é possível afirmar que essa conduta incomum dos genes é a causa direta do surgimento do câncer. Mas há uma relação clara, que permite aos cientistas vislumbrarem, no futuro, o uso dessa informação como estratégia de diagnóstico. "Quanto mais cedo acharmos a diferenciação (celular), mais provável é uma abordagem terapêutica", explica Dirce Maria Carraro, orientadora do trabalho e chefe do laboratório.

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