Respiração bloqueada

Tosse, peito chiando e falta de ar ... Quando saber se é uma gripe, virose ou asma? Especialistas orientam

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Por Vera Fiori
Atualização:

Basta o clima ficar seco ou a temperatura cair repentinamente que os prontos-socorros infantis ficam abarrotados de crianças com dificuldade para respirar. Além do desconforto que representam, se não forem tratadas adequadamente, as doenças respiratórias têm um grande impacto nas atividades diárias, lazer e vida social, sendo um dos motivos de faltas na escola durante os meses de inverno. De acordo com Iara Fiks, médica especialista em asma, pneumologia e DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), segundo um estudo atualizado do ISAAC (International Study of Asthma and Allergies in Childhood), no Brasil a incidência de asma em crianças e adolescentes aumentou de 21% para 24%. "Isto representa quase uma em quatro crianças", alerta. Uma dúvida comum: afinal, asma e bronquite são a mesma coisa? - A bronquite é uma inflamação inespecífica do pulmão, como ocorre, por exemplo, com o fumante ou com quem está muito gripado. A asma é uma doença alérgica, com características próprias, como episódios repetidos de chiado, falta de ar e tosse, desencadeada por fatores como mudanças de clima, vírus e outros. A segunda melhora com o uso de broncodilatadores. Existe uma tendência familiar para o desenvolvimento da asma. Ainda, alguns estudos apontam para algum tipo de seqüela pulmonar em crianças nascidas com baixo peso, como filhos de mães fumantes ou que ficaram no oxigênio por muito tempo ao nascer. Embora associada à infância, pode se manifestar em qualquer idade, até em idosos . "É uma doença crônica, que exige acompanhamento, porém é possível o seu total controle." Muitos são os fatores que desencadeiam crises, os chamados "gatilhos". Os agentes inalados estão entre os grandes vilões, como poluição, pó, mofo, poeira domiciliar, ácaros, perfumes, produtos químicos. Também as infecções, principalmente as virais, exercícios, estado emocional, mudanças de clima e, ainda mais raramente, alimentos e medicamentos." Os mitos, crendices (como manter uma tartaruga debaixo da cama) e a falta de informações a respeito geram preconceitos contra a doença, associada, muitas vezes, à fragilidade e limitações. "As pessoas pensam que asma é grave e bronquite é leve. Isso não é verdade. A asma pode ser bem controlada, leva-se uma vida completamente normal." O diagnóstico deve ser feito por um médico especializado. "O exame físico do paciente com asma, assim como a radiografia de tórax, podem ser completamente normais. Na suspeita de asma, o paciente deve fazer uma prova de função pulmonar. A espirometria é um exame simples, realizado em consultório ou em laboratórios: com um assoprão, mede-se os fluxos e volumes pulmonares." Para saber se a asma está sob controle, verifique se a criança não apresenta sintomas durante o dia, realizando as atividades que deseja, principalmente as que exigem esforço físico; não tem o sono interrompido pelos sintomas da asma; não usa medicamentos de alívio. Ou, ao usar o monitor de pico de fluxo (um aparelho especial que é soprado), observe se os valores estão maiores que 80%. O tratamento é feito à base de corticóide inalatório - sozinho ou adicionado aos anti-leucotrienos e broncodilatadores. Enquanto os broncodilatadores usados nas bombinhas ou inaladores são utilizados para aliviar os sintomas durante uma crise de asma, os anti-leucotrienos servem como medicação antiinflamatória para controle da doença no longo prazo. O paciente, muitas vezes, desconhece a necessidade do uso contínuo e por tempo prolongado dos medicamentos, tendendo a tratar apenas as crises. O tratamento, é bom lembrar, não se resume ao uso de remédios, mas sim envolve mudança de hábitos, o que nem sempre é fácil de se colocar em prática. As bombinhas, sprays ou aerossóis são medicamentos seguros, de efeito mais rápido e com menos reações colaterais do que os comprimidos ou xaropes. Devem ser utilizados com orientação do médico, pois existem bombinhas que servem apenas para combater crises e outras, com efeito preventivo, que são usadas continuamente. Quando usar um ou outro, ou ambos? "Cabe ao médico orientar cada caso, para melhorar a aderência ao tratamento", explica a médica Iara Fiks. Apesar de os exercícios e esportes exigirem orientação médica, estes não devem ser proibidos. "A maioria dos asmáticos apresenta broncoespasmo induzido por esforço. Na maioria das vezes, o tratamento adequado da asma é suficiente para abolir esse problema. Se os sintomas permanecerem, apesar do tratamento, os medicamentos devem ser ajustados." Entre as demais doenças respiratórias comuns na infância, a especialista menciona as doenças agudas, como as infecções virais, as das vias aéreas superiores (garganta, ouvido e nariz; faringites, amigdalites, etc.) e a pneumonia. "Das doenças crônicas, a asma e a rinite alérgica estão entre as mais freqüentes em crianças e adolescentes." Uma dica para os pais é o livro Asma, Superando Mitos e Medos, de autoria da médica, escrito em linguagem leiga, acessível, com informações fundamentais para as famílias lidarem com a doença. Traz dicas, como um check list de como proceder em situações de emergência. "Não existe asmático que não melhore. Existem, sim, asmáticos que não se tratam. Ele pode e deve ter uma vida completamente normal." HOMEOPATIA O pediatra Sérgio Eiji Furuta, diretor da Associação Paulista de Homeopatia, explica que esta é muito eficaz para tratar problemas respiratórios, pois os medicamentos, além de cuidarem das doenças, agem como método preventivo. "A medicina tradicional trata os sintomas, enquanto a homeopatia trata o doente." Entre as vantagens, os remédios são acessíveis e praticamente isentos de efeitos colaterais. Segundo o médico, na infância, a incidência maior de problemas respiratórios se dá entre crianças de 2 a 6 anos, porém, pode ir até a puberdade e regredir a partir desta. Uma das dúvidas é se uma pessoa que sempre foi tratada com alopatia pode seguir o tratamento homeopático. "É perfeitamente possível, desde que o médico aja com bom senso. Às vezes, o paciente é dependente de um medicamente e este vai sendo retirado gradativamente durante um período de transição". NATAÇÃO É comum os pais encaminharem os filhos para a natação, esperando uma melhora no sistema respiratório. Segundo o professor William Urizzi de Lima, ex-técnico da seleção brasileira e supervisor pedagógico da Metodologia Gustavo Borges (um sistema de ensino), este esporte é um dos mais indicados para o asmático, mas não deve ser considerado condicionamento físico, mas, sim, uma reeducação respiratória: - A asma é um processo alérgico e, sendo assim, a cura dependerá de adaptações dos indivíduos aos fatores alérgicos, o que geralmente não ocorre. É evidente que a natação não a cura, porém, por meio da reeducação respiratória e do fortalecimento dos músculos envolvidos no processo respiratório, pode-se melhorar a capacidade de suportar crises. Há uma preocupação de que o cloro estimule as crises de asma e de outras alergias como a rinite. O técnico explica que, em piscinas abertas, por exemplo, o grau de evaporação é grande, não havendo problemas para o asmático. Já em piscinas cobertas sem ventilação, o tratamento com cloro pode agravar o quadro. - Partindo do princípio de que as piscinas devem ter uma manutenção adequada, com um rígido controle do PH e uma ótima ventilação, o tratamento com cloro pouco afetará o asmático. Infelizmente, esta não é a realidade das maiorias das piscinas, motivo pelo qual os médicos indicam salinização ou ozonização em lugar do cloro.

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