Reação à vacina pode ter matado enfermeira

Em Goiás, morte da 11.ª vítima da doença foi confirmada ontem pela Secretaria de Estado da Saúde

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Por Fabiane Leite e Fernanda Aranda
Atualização:

A morte da enfermeira Marisete Borges de Abreu ontem, em São Paulo, elevou para três o número de casos suspeitos de óbito por reações adversas à vacina contra a febre amarela em investigação no País. O caso de uma mulher que morreu no Hospital São Camilo, na capital paulista, após tomar a vacina, também está em investigação, mas não havia sido confirmado pelas secretarias da Saúde (estadual e municipal) até o início da noite de ontem. Confira os números e a evolução da doença Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, a paciente que morreu, de 43 anos, estava em coma e sofreu choque séptico e falência múltipla dos órgãos. Portadora de lúpus e usuária de medicamentos, ela não poderia tomar a vacina, pois tinha problemas no sistema imunológico - o produto utiliza vírus vivo atenuado, que pode se manifestar em pessoas que tenham a defesa do organismo enfraquecida. A vacina só é recomendada para quem vai para áreas de risco e a recebeu há mais de dez anos. Há contra-indicações ainda para pessoas que estejam com febre intensa, câncer, aids, crianças abaixo de seis meses e gestantes, entre outras. Ontem, a família da enfermeira, que também era formada em Letras e Ciências Sociais e tinha mestrado em Literatura, destacou que ela quis receber a imunização porque havia comprado um sítio em Juquitiba, sul do Estado de São Paulo, e temia entrar na mata e ser contaminada pelo vírus da doença - a área, no entanto, não tem circulação do vírus da febre amarela. O irmão da vítima, Francisco Borges de Abreu Filho, cobrou das autoridades informações mais precisas sobre os riscos da vacina e disse que a formação em Enfermagem não significa conhecimento profundo sobre vacinas. "Você sabia que a vacina pode matar? Até pessoas que estão com gripe não deveriam tomar essa vacina", dizia Abreu Filho ontem, no velório da irmã (leia entrevista ao lado). ?ATÉ ÁGUA FAZ MAL? Marisete vacinou-se em um posto de saúde da cidade de São Paulo. A secretaria municipal da Saúde informou ter concluído a verificação no posto e declarou que todas as informações sobre riscos foram passadas à paciente. "A moça era enfermeira, com certeza deveria saber. Todo medicamento tem contra-indicações e até água, se você cair e não souber nadar, faz mal", afirmou Inês Romano, coordenadora da Vigilância em Saúde. Segundo Pedro Vasconcelos, especialista em febres hemorrágicas e consultor do Ministério da Saúde, nos EUA também já houve morte de uma pessoa pelo uso indevido da vacina em serviço de saúde. Para ele, tanto a população quanto profissionais de saúde muitas vezes recebem a informação adequada, mas resistem e não a utilizam. "É assim também em outras áreas, como com a aids. A pessoa acha que não vai acontecer com ela. Também houve muito sensacionalismo da mídia sobre febre amarela." O ministério confirma 43 casos de reações adversas em investigação, mas não informa os locais onde ocorreram. Também não atendeu a solicitações de entrevista sobre os casos. As secretarias da Saúde de Goiás e do Distrito Federal confirmaram que estão em investigação 39 casos leves de reação, um caso de morte de um rapaz e o de uma mulher que está em coma. Em Mato Grosso do Sul, outra morte suspeita, também de um homem, é apurada. No entanto, o governo do Estado aponta agora que a hipótese mais forte é a de que ele tenha morrido em decorrência de dengue hemorrágica. Ontem Goiás confirmou que um garimpeiro baiano, com 53 anos de idade, e cujo nome não foi revelado, é a 11ª vítima fatal da febre amarela no País, num total de 20 confirmados. Desde o diagnóstico do primeiro caso, em 17 de dezembro, uma média de três casos foram confirmados por semana. Com produção insuficiente para atender à demanda, o Brasil receberá vacina contra febre amarela do laboratório francês Sanofi-Pasteur, que estava em estoques controlados pela Organização Mundial da Saúde. Dez Estados devem receber 1 milhão de doses do produto, que difere da vacina brasileira por ser contra-indicada para quem está amamentando. COLABORARAM LÍGIA FORMENTI E RUBENS SANTOS

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