Quem vai cuidar deles?

Como as famílias devem se preparar para lidar bem com os seus velhinhos

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Por Redação
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Poucos pensam no assunto, mas pode acontecer: um dia, a relação de dependência com os pais corre o risco de sofrer uma inversão de papéis. E os velhos, que um dia o alimentaram, precisarão de sua ajuda para fazer as refeições. Também terão de contar com você para preparar o almoço, fazer as compras e, com o avançar do declínio físico e cognitivo, tomar banho, se trocar ou se pentear. Alguns filhos assumem o papel de cuidadores de idosos, função que também pode ser exercida por gente de fora da família, e para a qual há treinamento. A escola de Enfermagem da USP, por exemplo, oferece cursos periodicamente. Segundo estimativas, o Brasil tem cerca de 1 milhão de cuidadores. No estudo Idosos no Brasil - Vivências, Desafios e Expectativas na 3ª idade, do Sesc em parceria com a Fundação Perseu Abramo, constatou-se que, entre os homens acima dos 70 anos de idade, são as esposas as principais cuidadoras - 59% dos entrevistados disseram contar com a ajuda das mulheres. Já elas recebem mais auxílio dos filhos (30%) e, em segundo lugar (20%), de cuidadores que não moram na casa. Não bastam habilidades com o transporte e alimentação dos velhos. De um dia para outro, essas pessoas têm de aprender a lidar com emoções díspares como amor e ódio, paciência e desequilíbrio. ´A pessoa que toma conta do idoso deve aceitar que pode ter sentimentos ruins, como raiva e impaciência´, diz a jornalista Marleth Silva, que escreveu Quem Vai Cuidar dos Nossos Pais (Ed. Record, R$ 31). A enfermeira Lucélia Aparecida Moraes, de 30 anos, diz que a primeira virtude que um cuidador de idoso deve ter é a paciência. ´Com jeitinho, você convence o velhinho teimoso a fazer o que é bom para ele. É preciso explicar o porquê de cada coisa´, aconselha a enfermeira, que há 18 meses cuida de Leonor Gregório, 70 anos, portadora de Alzheimer. No começo, o marido de Leonor, Nelson Gregório, executava o papel, mas, com o avanço da doença, sentiu que era preciso contar com a ajuda de alguém mais preparado. Hoje, Gregório e Lucélia concordam que o trabalho conjunto da família com a cuidadora melhorou muito o estado de saúde de Leonor. ´Se não tiver carinho, não tem paciência e, se não tiver paciência, o idoso não colabora mesmo´, explica Lucélia, que trabalha doze horas por dia. ´Cuidadores também precisam se cuidar, manter uma vida ativa´, diz Marleth. Não é fácil, mas é preciso, às vezes, se afastar do velho e saber que o mundo não vai acabar.

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