Quanto mais velha, melhor

Você já parou para pensar sobre como o tempo mudou seu jeito de ser? Compartilhe de reflexões a respeito

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Por Ciça Vallerio
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A troca de experiências está muito presente no universo feminino. Em cada fase da vida, as descobertas são divididas com amigas, primas, filhas, sobrinhas, netas. Não importa se o momento ainda é de grandes descobertas ou se os fios de cabelos brancos anunciam anos de estrada. Essas vivências resultam em transformações essenciais, como observa a psicóloga Sumie Burti: "ninguém é estático. As mudanças são fundamentais para a evolução pessoal, seja para o bem ou para o mal. Particularmente, prefiro acreditar que sempre é para o bem." Cinco mulheres de gerações diferentes contam como os anos moldaram suas atitudes. Ressaltam, é claro, as transformações positivas, mesmo as mais singelas. A top model internacional Camila Finn, por exemplo, de apenas 15 anos, comemora uma sutil mudança de comportamento: a molecona de antes, que se recusava a passar um batonzinho, agora não sai mais de cara-lavada. "Minha mãe pegava no meu pé para me cuidar mais", fala a modelo, que vive em Nova York e viaja pelo mundo para cumprir uma agenda de fotos e desfiles. A atriz Carla Regina lembra de como seus projetos profissionais deram uma guinada. Na adolescência, se imaginava casada, cheia de filhos no futuro. Aos 29 anos e no auge da beleza, o trabalho agora é seu foco. Filhos saíram de seus planos momentaneamente. Já a triatleta Fernanda Keller, que, aos 43 anos, continua subindo no pódio, diz que passou a conhecer melhor seus limites e, sobretudo, seu potencial. "Hoje sei exatamente como chegar ao meu máximo. Tenho aquela autoconfiança que me faz dar tudo de mim." A terapeuta Sumie diz que, a partir dos 40 anos, a mulher começa a fazer uma viagem intimista, num processo de reflexão profunda. "Nos voltamos para dentro, procurando nos entender melhor, e quem está atenta aos próprios sinais amadurece e conquista segurança", observa a psicóloga. "Antes dos 30, estamos mais preocupadas com o lado profissional, em conquistar o mundo. Depois dos 40, passamos a nos valorizar mais como mulher e isso nos dá mais firmeza para lidar com os problemas." A ativista ambiental Miriam Duailibi já viveu muitas dificuldades. Após 19 anos de casada, separou-se e enfrentou um vendaval familiar e pessoal. Problemas que iam do financeiro ao profissional. O pior desafio de todos foi a doença séria do filho mais novo. Hoje, aos 52 anos, ela curte a calmaria. Reconhecida internacionalmente por seus projetos sócio-ambientais, ela lembra como tudo isso a tornou mais forte e, ao mesmo tempo, mais simples. "O caminho árduo transformou meu jeito de ver o mundo, e meus filhos também assimilaram as mudanças", conta Miriam, que coordena o Instituto Ecoar, uma organização sem fins lucrativos, criadora de projetos ambientais, alguns deles para o Ministério do Meio Ambiente. "Aprendemos a ser mais despojados e a dar valor às pequenas coisas, como a saúde. A recuperação do meu filho trouxe uma felicidade incomensurável. Hoje sei dar a real dimensão aos problemas, sei que deixar de ter um carro novo ou não poder fazer uma viagem não significa quase nada." O que falar de quem já viveu - e como - 88 anos? A escritora Tatiana Belinky tem tanta história para contar que um dia de conversa não é suficiente. Imagina só, uma garotinha russa, que veio para o Brasil de navio (na terceira classe), junto com sua família. Tornou-se uma leitora voraz, casou-se e, ainda quando era dona de casa e mãe de família, traduzia livros do russo, alemão e inglês. Acabou trabalhando como roteirista de programas infantis na TV Tupi, teve o prazer de conhecer pessoalmente Monteiro Lobato, conviveu com artistas quando passou a escrever para o teatro. Nessa longa jornada, experimentou muita felicidade e encarou grandes perdas na família. Mas é com humor afinadíssimo que Tatiana tira tudo de letra. Ela diz que aprendeu a amenizar suas dores. "Levei cada chapuletada da vida que se não fosse meu humor não teria agüentado. Curtir a vida e ver que tudo tem vários lados é o que ajuda a viver. "

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