Posto de saúde vira sala de aula

Em nome de uma formação mais ampla, Medicina da USP assume gestão de unidades

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Por Karina Toledo
Atualização:

Com o objetivo de proporcionar uma formação mais completa a seus estudantes, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) firmou parceria com a Secretaria Municipal da Saúde para assumir a gestão das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e das unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) da região do Butantã e do Jaguaré, na zona oeste. O convênio permitirá que alunos dos cursos de Medicina, Enfermagem, Odontologia, Farmácia, Psicologia e Saúde Pública da instituição vivenciem o atendimento à população nos três níveis de atenção à saúde: primário (casos de baixa complexidade, prevenção e promoção da saúde), secundário (média complexidade) e terciário (alta complexidade). "Quando o indivíduo é formado apenas dentro do hospital, perde a visão do conjunto, não é capaz de identificar os determinantes sociais, ambientais e culturais que influenciam a saúde da população. Esse projeto permite que nossos alunos atendam a comunidade, façam visitas domiciliares com os agentes do Programa Saúde da Família, conheçam o ambiente em que as pessoas moram e trabalham", explica o professor Yassuhiko Okay, vice-presidente do conselho diretor criado para gerenciar o projeto. Segundo a conselheira do Cremesp Maria do Patrocínio Nunes, a iniciativa está alinhada às Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Medicina, que determinam que o profissional seja capacitado para atuar em todos os níveis de atenção à saúde. "Existe uma lacuna em relação à atenção primária que iniciativas como essa ajudam a preencher", avalia. A parceria deve favorecer também a pós-graduação e a pesquisa na instituição, tornando possível avaliar as doenças e problemas de saúde mais prevalentes na população. "Estamos ainda desenvolvendo a residência em Medicina da Família e Comunidade, na qual profissionais já formados vão atuar como médicos de família nas UBS", conta Okay. Em contrapartida, a FMUSP deve coordenar toda a rede de saúde pública da região do Butantã e do Jaguaré, ficando responsável por contratar e capacitar recursos humanos, reformar as unidades, distribuir medicamentos e desenvolver um sistema de informação que permita integrar os serviços. "O sistema tem de garantir que o paciente tenha acesso a exames e consultas. Não é o paciente que tem de correr atrás do exame ou do especialista", afirma Okay. O objetivo é que pelo menos 80% dos casos sejam resolvidos na assistência básica e que apenas os pacientes que de fato necessitem do atendimento hospitalar sejam encaminhados, sem longa espera. O Hospital Universitário (HU) da USP, na Cidade Universitária, está responsável pelo atendimento secundário à população da região e o Hospital das Clínicas (HC), pelo terciário. "O projeto representa mudança de filosofia, com o hospital e a faculdade ficando mais próximos da população e se inserindo na rede de serviços do SUS", diz José Manoel Teixeira, superintendente do HC. Segundo ele, não será necessário um aumento de recursos para melhorar o atendimento à população. "Hoje, muitos dos doentes que chegam ao HC poderiam estar sendo atendidos nas UBS, nas AMAs e nos hospitais secundários. No momento em que se integra os serviços, em vez de ele ser atendido aqui, será atendido lá. O recurso é o mesmo, apenas será usado de forma descentralizada", explica Teixeira. Até o momento, a FMUSP já assumiu a gestão de três UBS e duas AMAs. O contrato de gestão firmado com a Prefeitura é de três anos, mas pode ser renovado. "A ideia é expandir gradativamente o projeto para toda a zona oeste. É um projeto de longo prazo."

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