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Plástica na adolescência

É cada vez mais comum jovens recorrerem a plásticas, sobretudo ao implante de silicone e lipoaspiração

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Por Redação
Atualização:

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), dos 629 mil procedimentos cirúrgicos estéticos realizados no Brasil entre setembro de 2007 e agosto de 2008, 37.740 (ou 8%) foram feitos em adolescentes. O dado deriva de um estudo inédito, que avaliou o número e o tipo de cirurgias registrados nesse período, tendo como fontes os 3.533 cirurgiões associados. Por falta de dados anteriores, não se sabe como era esse panorama. Porém, médicos atestam que jovens estão recorrendo, cada vez mais cedo, a cirurgias plásticas que, tradicionalmente, são feitas na idade adulta.

 

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"Há cinco, dez anos, queriam corrigir pequenos problemas, como orelha de abano e imperfeições no nariz . Hoje, os adolescentes, em especial as meninas, querem se submeter a uma plástica por outros motivos", assegura o cirurgião plástico Sebastião Guerra, de Belo Horizonte, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica 2010/2011. Segundo ele, assim como ocorre com as mulheres adultas, a maioria das garotas quer aumentar os seios ou fazer lipoaspiração. "As correções de nariz e orelha caíram para terceiro e quarto lugares na lista de procura."

 

Luís Gustavo Couto Gadioli, 18 anos, faz parte desse grupo. O jovem passou a infância e a adolescência queixando-se das orelhas. "Não era nada que chamasse tanto a atenção dos outros. Mas, para mim, tinha peso. Como tenho cabelo volumoso, era mais fácil de escondê-las. Mas quando cortava os cabelos, ficava complicado." Luís Gustavo diz que isso nunca foi motivo de chacota na escola, mas, mesmo assim, as orelhas eram um problema para ele.

 

Quando o jovem - que mora em Limeira, no interior do estado - veio para São Paulo, no ano passado, para tentar a carreira de modelo, convenceu os pais sobre a necessidade da cirurgia. Argumentou que até poderia perder trabalhos por causa disso. "Como tinha 17 anos e precisava da autorização dos meus pais, eles me acompanharam desde a primeira consulta médica." O cirurgião alegou que o problema não era tão acentuado, conta ele. Mas prometeu amenizá-lo. "Adorei o resultado."

 

O cirurgião plástico André de Freitas Colaneri, de São Paulo, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, diz que pacientes como Luís Gustavo são muito comuns. Conta, por exemplo, que operou uma adolescente que, no segundo retorno após a cirurgia, já usava os cabelos curtíssimos, coisa que nunca fazia por causa das orelhas. "Casos como esse são indicados para a cirurgia. E por que deveriam ser adiados?" Mas ressalva: "é claro que o médico deve ter o bom senso de perguntar logo na primeira consulta o porquê da cirurgia. E verificar se há um problema de fato, real, ou se o jovem quer modificar seu corpo para ficar parecido com alguém ou porque está na moda."

 

Corpo de mulher. Segundo o cirurgião Sebastião Guerra, enquanto os meninos são mais ponderados - pensam, planejam, decidem, desistem -, as meninas estão cada vez mais seguras do que querem. Muitas vezes, já chegam ao consultório dizendo que desejam uma prótese mamária e informando a quantidade de silicone que vão colocar. "Somos reticentes em operar uma adolescente de 13 anos, por exemplo. Mas isso não quer dizer que ela não possa ser operada", ressalva.

 

O que o cirurgião quer dizer é que não há uma idade mínima para que um jovem se submeta a uma intervenção estética. Mas deve-se tomar cuidado com relação à constituição corporal. "Hoje, uma adolescente de 13, 14 anos já tem o corpo de mulher. Além da autorização dos pais, é preciso fazer uma avaliação médica e, quando necessário, adiar a cirurgia para mais dois anos, no mínimo."

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Esse foi o tempo máximo que os pais de Vivian Taniguti Javonne, 16 anos, conseguiram adiar a sua desejada plástica. Desde os 13 anos, a estudante queria colocar próteses de silicone. Para convencê-la de que era muito nova, os pais tentaram outros meios de levantar a sua autoestima. "Ela fez terapia, mas não adiantou. Autorizamos a cirurgia, mas queríamos que ela fizesse pelo menos quando completasse 18 anos, já que ainda está em fase de crescimento", lamenta o analista de sistemas, Vilson Javonne, 62 anos, pai de Vivian.

 

Mas, de tanto a filha insistir, foi convencido de que seu busto era desproporcional ao seu tamanho e de que isso lhe traria outros prejuízos psicológicos. Os pais decidiram, então, iniciar a busca por cirurgiões filiados à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. "A minha recuperação foi rápida. E acredito que o resultado valeu a pena", opina a adolescente, que trocou o sutiã 40 pelo 44 .

 

Por ser muito jovem e, por isso mesmo, ter maior propensão para sofrer alterações nos tecidos do corpo, cerca de um mês e meio depois da cirurgia, Vivian começou a notar estrias. "São o maior efeito colateral desse tipo de cirurgia durante a adolescência", afirma cirurgiã Luciana Pepino, de São Paulo. Ela acrescenta que cuidados como a hidratação mamária não anulam o problema. "De modo geral, essas jovens devem tentar adiar ao máximo o implante de silicone. Precisam estar entre o segundo e o quarto ano da primeira menstruação, além disso não devem colocar próteses muito grandes, pois a força da gravidade faz com que esse tecido se rompa, formando as estrias que futuramente podem levar à flacidez."

 

Fase de mudanças. Para o médico hebiatra (especialista em adolescentes) Mauro Fisberg, é preciso saber se a intervenção pode influenciar de maneira importante a vida do jovem. "Cirurgia plástica reparadora é uma intervenção estética e, ao mesmo tempo, reparadora", afirma. "Pode melhorar muito a autoestima da menina, além de corrigir a postura." Ainda assim, acrescenta, a indicação é a de que a paciente tenha chegado ao que os médicos chamam de "maturação sexual", com mamas no estágio 4 - no tamanho das de uma adulta.

 

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O médico lembra que, atualmente, é comum adolescentes desejarem próteses de silicone como presente de 15 anos ou de formatura. "É preciso avaliar se a adolescente tem mamas realmente pequenas para a sua estrutura e se possui uma caixa torácica suficiente para suportar o tamanho das próteses." Segundo ele, é fundamental saber se a intervenção vai trazer benefícios a longo prazo. "É preciso bom senso dos pais e, principalmente, do cirurgião, pois essas cirurgias podem mudar o padrão de equilíbrio corporal."

 

O cirurgião plástico José Teixeira Gama é taxativo quando o assunto é intervenção cirúrgica estética em jovens com menos de 18: "Só opero adolescente com a indicação médica, e nunca por estética simplesmente.São muito novos para decidirem sobre mudanças no corpo. Além disso, toda cirurgia traz riscos à saúde e uma cicatriz."

 

 

OPINIÃO

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Marcos De Tommaso, Psicoterapeuta, da USP

De olho no emocional

 

De Tommaso diz que os pais devem ficar atentos à insatisfação dos filhos, pois o problema pode ter fundo emocional. "É claro que a cirurgia pode proporcionar autoconfiança para uma pessoa tímida. Porém, não dá para achar que, assim, terá garantia de felicidade." Insatisfações irreais, alerta, podem fazer com que, depois, a menina queira mudar o queixo, o nariz, fazer lipoaspiração, etc.

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