PUBLICIDADE

Planeta sobrevive à catástrofe em seu sol

Descoberta de cientistas, a primeira do tipo, pode ajudar a esclarecer o destino do Sistema Solar, e da Terra, daqui a bilhões de anos

Por Carlos Orsi
Atualização:

Um planeta que orbitava sua estrela à mesma distância que separa a Terra do Sol, 150 milhões de quilômetros, sobreviveu a um processo catastrófico que também afetará o Sistema Solar dentro de bilhões de anos, de acordo com uma equipe internacional de cientistas. Essa descoberta, a primeira do tipo, pode ter implicações para o destino do nosso sistema planetário. "A estrela presumivelmente não era muito diferente do nosso sol, provavelmente com 80% ou 90% de sua massa, antes de entrar na fase de gigante vermelha", diz o astrônomo italiano Roberto Silvotti, principal autor do artigo que descreve o sistema, publicado na revista científica Nature. Quando esgotam o hidrogênio que têm no núcleo, estrelas semelhantes ao Sol sofrem um processo de expansão, transformando-se em gigantes vermelhas. Ao crescer, elas podem engolir planetas próximos - no nosso Sistema Solar, seriam devorados Mercúrio e Vênus. A Terra, um pouco mais longe, ainda estaria numa zona de perigo. Além disso, processos gravitacionais podem fazer com que mesmo os mundos não engolidos de imediato entrem em uma espiral que acabaria por levá-los para o interior do astro. Surpreendentemente, o planeta V391 Pegasi b não só escapou desses dois destinos como acabou se afastando da estrela, a V391 Pegasi, para uma distância 70% maior que a original. Provavelmente, sugerem os autores do artigo, isso se deu por causa da perda de massa sofrida por V391 Pegasi logo após a expansão, o que teria enfraquecido sua gravidade: atualmente, a estrela é uma subanã quente B, que perdeu boa parte de seu material externo e, por isso, é extremamente quente, com uma temperatura, na superfície, de mais de 30 mil graus Celsius, ante cerca de 6 mil graus do Sol. "Ela está queimando hélio no núcleo e, nesse caso específico, já deve estar perto de exaurir o gás ou já ter acabado com ele. Vai se tornar uma anã branca", explica Silvotti. Converter-se em anã branca também é o destino esperado do Sol. O sistema de V391 Pegasi tem cerca de 10 bilhões de anos. O Sistema Solar, 4,5 bilhões. Mas, se a estrela, antes de entrar em sua fase gigante vermelha, era parecida com o Sol, V391 Pegasi b é um planeta muito diferente da Terra, com massa estimada em mais de três vezes a de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. "A Terra é um planeta muito diferente, principalmente porque tem uma massa muito menor", diz o pesquisador. Portanto, reconhece, as implicações diretas da sobrevivência de V391 Pegasi b para o destino concreto da Terra não são tão grandes. "Depois da descoberta, sabemos que planetas com uma distância orbital semelhante à da Terra podem sobreviver à expansão em gigantes vermelhas de suas estrelas, mas isso não significa que a Terra, muito menor e mais vulnerável, irá sobreviver à expansão do Sol, prevista para dentro de cerca de 5 bilhões de anos." Mas, diz Silvotti, a descoberta de um planeta que tenha sobrevivido à fase gigante vermelha de sua estrela ajuda a limitar as possibilidades teóricas para a evolução dos corpos no Sistema Solar. "Nossa descoberta vai produzir novas buscas e outros achados similares. Com um pouco de estatística e modelos detalhados, seremos capazes de dizer algo a respeito do destino da Terra", acredita. No entanto, a sobrevivência da Terra não significa a sobrevivência da humanidade. Silvotti especula que qualquer forma de vida que pudesse existir em V391 Pegasi b teria sido "completamente destruída".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.