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Pimentão e morango lideram uso irregular de agrotóxico, diz estudo

Produtores no Brasil usam substâncias proibidas em outros países; 15% das amostras têm índice fora do aceitáveloão Domingos

Por João Domingos
Atualização:

O pimentão foi o alimento que apresentou o maior índice de agrotóxico entre as 17 variedades de produtos analisadas no ano passado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De 101 pimentões coletados em supermercados para o exame toxicológico, 65 (64,36%) continham agrotóxicos em quantidade muito superior ao que é permitido - um miligrama por quilo, verificado no período de 14 dias entre a aplicação e o consumo. Esse é o padrão internacional adotado também pelo Brasil. Veja a íntegra do relatório da Anvisa sobre agrotóxicos em alimentos Também chamou a atenção da Anvisa o uso de agrotóxicos não permitidos em todas as culturas analisadas. Ingredientes ativos banidos nos países desenvolvidos - como o acefato, o metamidofós e o endossulfam - foram encontrados de forma irregular em produtos como abacaxi, alface, arroz, batata, cebola, cenoura, laranja, mamão, morango, pimentão, repolho, tomate e uva. "Desde 2008, o Brasil é o país que mais consome agrotóxico no mundo", afirmou o gerente de toxicologia da Anvisa, José Agenor. Somados todos os exames, o uso irregular de agrotóxicos - ou por ser um produto proibido ou por ter sido usado em uma quantidade excessiva - corresponde a 15,28% dos alimentos analisados. Depois do pimentão, os campeões em agrotóxico são o morango (36%), a uva (32,67%) e a cenoura (30,39%). No total, a Anvisa analisou no ano passado 1.773 amostras de 17 alimentos. Desde 2001 é feito o monitoramento - mas, no início, poucos Estados participavam. Eram coletados apenas 9 tipos de produto. No ano passado, o controle passou a ser feito em todo o País, agora com 17. BOA NOTÍCIA A popular dupla arroz e feijão, pela primeira vez monitorada, está com índices baixos desses produtos químicos - 4,41% e 2,92%, respectivamente, dentro do que estabelece a legislação. Em 2007, 44,72% das amostras de tomate analisadas tinham resíduos de agrotóxicos acima do permitido. No último ano, o porcentual caiu para 18,27%. A batata teve uma queda na contaminação por agrotóxico de 22,2% em 2007 para 2%. O anúncio dos novos estudos sobre a presença de substâncias nocivas à saúde nos alimentos foi feito numa solenidade na nova sede da Anvisa. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que suspendeu o consumo de pimentão ontem mesmo. "Pimentão, adeus. Arroz, feijão e banana, bem-vindos", disse ele. "Essa quantidade de agrotóxico é crime. Acho que é um caso de polícia." No ano passado, a Anvisa fez parcerias com os Estados para aumentar o controle de toxicologia dos alimentos. De acordo com a agência, a decisão de coletar os alimentos nos supermercados tem o objetivo de monitorar se os limites máximos de resíduos agrotóxicos estabelecidos pela lei estão sendo respeitados. As análises servem como orientação ao setor produtivo, pois é possível identificar o fornecedor com base na documentação fiscal dos estabelecimentos. Quando os agricultores são identificados, a Anvisa repassa a informação aos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente para providências. A Associação Nacional de Defesa Vegetal, que congrega as produtoras de agrotóxicos, ofereceu ajuda à Anvisa para reduzir a incidência dos produtos nos alimentos. O diretor executivo da associação, José Otávio Menten, disse que as empresas têm oferecido treinamento aos agricultores para que só utilizem as doses recomendadas.

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