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Pimenta extra nas cozinhas da televisão

Por trás de bons pratos, pode haver tensão. É o que mostra Gordon Ramsay, o cruel chef do GNT. Até o tranqüilo Jamie Oliver entrou na onda dos chiliques

Por Agencia Estado
Atualização:

Na TV, a vida real precisa ser sofrida. É necessário haver gritarias, brigas, lágrimas. Os participantes de reality shows têm de passar por testes físicos e psicológicos sob os holofotes para o compadecimento dos telespectadores - sempre ávidos pelo chamado show de realidade. No Big Brother, por exemplo, não há ibope se não há discussões. Como em reality show de gastronomia não se pode focar a comida (que não sente nem sofre), os chefs viram carrascos de seus aprendizes. Gordon Ramsay é o pior deles, tanto que seu primeiro reality recebeu o nome Hell?s Kitchen (GNT)- em português, Cozinha do Inferno. Até o chef Jamie Oliver, inglesinho moderno e desencanado, teve chiliques em seu Jamie Oliver?s Kitchen (GNT), em que recrutava e treinava jovens para trabalhar na cozinha de seu restaurante, o Fifteen. Top Chef (da Sony) foi outro que abusou das grosserias contra as criações dos aprendizes a chef. ?Acho que isso não é realidade?, afirma o chef suíço Dominique Fuhrer, que comanda a cozinha do Galani, no Caesar Park. ?Há chefs que jogam pratos no chão de vez em quando, mas na TV isso é exagerado porque a gastronomia nesses programas é só um detalhe. É tudo teatro.? Para o suíço, o Hell?s Kitchen explora bem a correria, o estresse, os acidentes e a exigência de se trabalhar na cozinha. ?O problema é que eles acabam explorando a falta de educação com os cozinheiros?, opina. A reportagem conversou com alguns chefs e todos concordam: Ramsay é puro marketing. ?Ele parece uma charge?, fala Erika Okazaki, chef e sócia da pâtisserie Pain et Chocolat. ?Não vou dizer que não dá vontade de fazer como ele, mas apesar do estresse na cozinha palavrão é desnecessário.? Para Fuhrer, ser bravo é uma característica mais evidente nos europeus, sobretudo franceses, já que a França é o berço da gastronomia. O chef francês Emmanuel Bassoleil, que está no comando do Unique, concorda: ?O europeu é mais esquentado. Por lá há competição entre chefs e não somente concorrência?, conta. Ele diz que enfrentou chefs excêntricos. ?Conheci chef que jogava panela na cara do cozinheiro.Eu mesmo fiz coisas assim, mas hoje não faz sentido.? O chef francês explica que, quando chegou ao Brasil, há 20 anos, não havia a profissão de cozinheiro. ?As pessoas trabalhavam por obrigação e necessidade e não por prazer?, diz Bassoleil. ?Não se compreendia que um jantar é como um show, em que tudo precisa estar perfeito e afinado no palco. Para isso, nos bastidores, há uma gritaria do técnico de som, de iluminação, de toda a equipe.? Fuhrer admite que já foi bravo. ?Vi que não adiantava e que era ruim para meu coração?, pondera. Para o suíço, há um costume de crer que o chef precisa ser bravo para ser respeitado. ?Tem de ser exigente, não precisa xingar. Na Europa era diferente. A gente se xingava na hora do estresse e depois saía para beber cerveja. Brasileiro é mais sentimentalista?, brinca.

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