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Pesquisador gera em cobaia célula que fabrica insulina

Estudo vai demorar para ser aplicado em humanos, mas técnica é considerada promissora

Por Alexandre Gonçalves
Atualização:

Cientistas descobriram um modo de converter em células beta - capazes de produzir insulina - outras células do pâncreas. A estratégia, testada em camundongos, alimenta a esperança de uma terapia eficaz para a diabete tipo 1, causada pela destruição das células beta. O segredo é a ativação de um único gene: o Pax4. Como demonstra o estudo publicado hoje na revista científica Cell, quando as células alfa do pâncreas expressam esse gene, transformam-se em células beta produtoras de insulina. As células alfa e beta pertencem ao mecanismo de regulação do açúcar no sangue (mais informações nesta página). As primeiras produzem glucagon, que inicia um processo bioquímico para aumentar o açúcar circulante. As últimas fabricam insulina e exercem o papel contrário: diminuem as taxas de açúcar no sangue. Ao contrário da diabete tipo 2 - causada pela incapacidade de absorção da insulina -, a diabete tipo 1 ocorre por um colapso no sistema de produção do hormônio: por um erro das defesas imunológicas, as células beta são reconhecidas como uma ameaça e destruídas. Em um trabalho publicado em 2007, os pesquisadores conseguiram transformar células beta em alfa com a manipulação de um único fator genético. Surgiu então a hipótese - e a esperança - de que outro fator realizaria o processo inverso. Para comprovar que o Pax4 era o gene procurado, os cientistas produziram camundongos transgênicos que expressavam o gene Pax4 nas células alfa. Notaram então que os animais sofriam uma deficiência de glucagon e consequentemente uma diminuição na taxa de açúcar do sangue. As células alfa haviam se transformado em células beta. O organismo dos roedores reconhecia o déficit e produzia mais células alfa. Mas também essas células transformavam-se em fábricas de insulina. Roedores com diabete quimicamente induzida - causada pela injeção de substâncias que destroem as células beta - foram curados com a expressão da proteína Pax4. "É cedo para falar em uma terapia", afirma o pesquisador Patrick Collombat, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm, na sigla em francês). "Precisamos testar se os resultados podem ser aplicados a humanos." Os cientistas procuram agora um composto químico capaz de induzir a conversão das células. ESTRATÉGIA PROMISSORA Para o endocrinologista Sérgio Atala Dib, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o estudo da Cell apresenta uma estratégia muito promissora. "Se surgir uma terapia baseada nas descobertas, poderá auxiliar até pessoas com diabete tipo 2 de longa duração", afirma Dib. A diabete tipo 2 é causada pela incapacidade de as células adiposas e musculares absorverem a insulina. Mas, com o prolongamento da doença, também pode ocorrer morte das células beta. A diabete tipo 2 é oito vezes mais comum e está associada a sedentarismo e obesidade. Contudo, a incidência do tipo 1 tem aumentado e apresenta quadros mais graves, com maior dependência de injeções de insulina. O pesquisador brasileiro também pondera que seria preciso testar a estratégia em camundongos com diabete tipo 1 causada pelo próprio sistema imunológico, como nos pacientes humanos. "Não adianta transformar as células alfa em beta se as defesas do organismo continuarem prontas para destruí-las", afirma. Os autores do estudo também apontam que seria preciso identificar uma forma de parar o processo de transformação quando a população de células beta atingisse o número ideal.

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