Parques nacionais são modelo para conservação de oceanos

Menos de 1% além dos limites de águas territoriais está sob proteção

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Por Kate Galbraith
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O presidente Barack Obama aproveitou a viagem ao Grand Canyon e Yellowstone para realçar a importância dos parques para o patrimônio dos Estados Unidos. Ele disse que o gêiser Old Faithful em Yellowstone era "legal". Mas para o mundo em geral, Yellowstone também tem outro significado profundo: foi o primeiro parque nacional do país, criado em 1872. Nasceu aí um movimento . "Foi uma das grandes ideias que os Estados Unidos desenvolveram internamente e estimularam outros a seguir o exemplo", diz Bill Eichbaum, especialista em parques do WWF - Fundo Mundial para a Natureza.. Hoje, 12,2% das áreas terrestres dos países estão protegidas, incluindo mais de 120 mil pontos, segundo relatório elaborado em 2007 pelo Centro de Monitoramento de Conservação Mundial do Programa Ambiental das Nações Unidas. Cerca de 6% das águas territoriais (definidas como o limite exterior de 12 milhas náuticas das costas) estão protegidos. Para especialistas, o papel dos parques e das chamadas "áreas protegidas" evoluiu substancialmente. No fim dos séculos 19 e 20, a finalidade dos parques era proteger paisagens simbólicas, como as cachoeiras e picos de Yosemite ou a paisagem de Yellowstone. Hoje, segundo Bill Eichbaum, a criação de parques é motivada menos pela vontade de celebrar paisagens magníficas e mais pela necessidade de fomentar a biodiversidade e proteger ecossistemas complexos ou ameaçados. O que é verdade especialmente por causa do aquecimento global. Alguns ambientalistas estão defendendo a criação de "corredores" protegidos - de Yellowstone até o Yukon canadense, por exemplo - para permitir que as espécies migrem mais facilmente. Os parques também mudaram para se tornar mais adequados, dizem especialistas: há um entendimento de que eles não podem mais ignorar a subsistência das pessoas que vivem em torno deles. Os administradores hoje precisam trabalhar para adaptar os parques às necessidades locais, econômicas e recreacionais da população. Encontrar o equilíbrio certo é complicado, especialmente no mundo em desenvolvimento e também em lugares como os Estados Unidos, onde madeireiras e usuários de motoneves desejam manter o acesso ao máximo de terra possível. "Mais recentemente, a recreação pública, o desenvolvimento sustentável e modelos comunitários para governança de áreas protegidas tornaram-se norma", declara a Federação Europarc, organização não lucrativa que representa os interesses dos parques de toda a Europa, no livro Parques Vivos: 100 anos dos Parques Nacionais na Europa. Inúmeras áreas protegidas ainda vêm sendo criadas. Mas, no geral, hoje esses espaços são menores do que antigamente, diz Charles Besançon, que dirige o programa de áreas protegidas do Centro de Monitoramento da Conservação Mundial da ONU. Com a pressão do desenvolvimento, há menos terras contíguas disponíveis. Mas existe uma área com enormes possibilidades: o oceano. No momento, menos de 1% do oceano, além do limite das águas territoriais dos países, está protegido. Pedro Rosabal, integrante do alto escalão do programa de áreas protegidas da União Internacional para Conservação da Natureza, rede de organizações governamentais e não-governamentais, diz que os ambientes marinhos costumam ser "mais frágeis" à mudança climática e são muito vulneráveis a mudanças de temperatura, que podem afetar corais e outros tipos de vida marinha. O "overfishing" (pesca em excesso) também é, naturalmente, um problema generalizado. Segundo Besançon, "há uma pressão enorme para criar áreas marinhas protegidas". "Nos últimos anos, as áreas protegidas cresceram mais no oceano", diz ele. Uma das mais recentes aquisições são as Ilhas Phoenix, em torno de Kiribati, uma ilha do Pacífico. Trata-se de uma extensão do oceano quase do tamanho da Suécia e foi designada oficialmente área protegida pelo governo de Kiribati no ano passado. George W. Bush foi bastante aplaudido por grupos ambientais por suas ações na área. Pouco antes de deixar o governo, ele designou uma imensa área do Oceano Pacífico, perto de ilhas sob controle americano, incluindo as Marianas Trench (ponto mais profundo dos oceanos) como monumentos nacionais. Numa outra medida, de 2006, Bush estabeleceu uma reserva marinha gigantesca perto do Haiti. No entanto, para os defensores dos parques, o oceano aberto - distante de qualquer massa de terra - ainda é um grande desafio. O problema é que essa região está basicamente aberta para todos; ninguém é proprietário, apesar de os países poderem controlar "zonas econômicas exclusivas", dentro das 200 milhas náuticas das costas. "Encontrar as autoridades legais para criar áreas protegidas é muito complicado tanto no aspecto legal como político", diz Eichbaum, referindo-se ao oceano. Os grupos de pressão de pescadores se opõem a restrições às suas atividades. Eichbaum e outros conservacionistas estão promovendo uma tentativa pioneira para criar uma área protegida no Atlântico Norte. Essa extensão, conhecida como Zona de Fratura Charlie Gibbs, é importante para tubarões, baleias e outras espécies marinhas. Mas mesmo que tenham sucesso não chegaremos ao fim da história. O monitoramento e a assinaturas de acordos de mares abertos vão trazer outros tipos de desafios. "Ninguém está estacionado ali", observa Besançon. "Você não vai poder colocar guardas em alto mar."

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