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Pensando em comprar ou adotar um bicho de estimação?

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Por Agencia Estado
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A escolha de um bicho de estimação parece ser uma tarefa simples, mas normalmente é mais complexa do que se imagina. Para que tudo dê certo, é preciso que a decisão de ter mais um integrante na família seja um consenso entre todos da casa. Além disso, é importante levar em consideração qual é o animal que mais se encaixa no seu perfil ou estilo de vida. A resposta deve levar em conta as suas necessidades - e também as do bichinho. É preciso pensar em várias questões: além do seu gosto e do espaço disponível, avalie seu tempo para dedicação ao animal e sua condição financeira para mantê-lo. Uma decisão não-planejada pode resultar em maltrato ou no que vemos nas ruas: muitos cães, gatos e outros animais abandonados pelos seus donos. Um exemplo de dedicação a esses seres é a vida da secretária Edeli Passarielo. Seu esforço para tentar mudar a dura realidade do abandono - causada pelas ?más escolhas? - resulta em muitas batalhas travadas no dia-a-dia. Por causa do seu amor incondicional aos animais, a decisão de adotar bichos perdidos ou abandonados não leva em consideração a espécie, o tamanho ou a raça, mas o fato de haver a necessidade daqueles que sofrem com o descaso. Edeli, de 57 anos, moradora de Campinas, diz que trabalha exclusivamente para poder alimentar quase os 100 bichos que abriga, entre cães, gatos, pássaros e tartarugas. Seu salário é integralmente repassado para a compra de mais de 300 kg de ração. ?A minha vida é de casa para o trabalho e vice-versa. Não viajo ou saio, mas gosto do que faço. Eu até já pensei que dá muito trabalho cuidar de tantos bichos, mas nunca imaginei em desistir ou doá-los. Se eu, por qualquer motivo, não puder mais cuidar, vou sofrer muito?, desabafa. Para Edeli, a situação de abandono se instala porque muita gente compra um bicho por modismo ou no entusiasmo, não imaginando o trabalho que ele pode dar. ?A posse responsável é muito importante, pois as pessoas se esquecem de que se trata de uma vida. Muita gente não sabe, mas todo o amor que doamos aos bichos recebemos em dobro deles, sem qualquer cobrança. Não tem como não se emocionar. Mas uma coisa é certa: hoje, se eu fosse comprar um animal, pensaria o quanto ele vai durar. Seria preciso avaliar se eu tenho condições de cuidar dele até o fim da minha vida?, afirma. Comprar ou adotar um animal por impulso - principalmente porque ele é bonitinho quando filhote - pode ser um problema por longos anos, independentemente da espécie. Muitos se esquecem de que ele se tornará adulto e que alguns animais podem viver mais tempo que o próprio dono, podendo o bicho virar herança para quem não o deseja ou não tem tempo para cuidar. Para ajudar você a saber um pouco mais sobre algumas espécies - e refletir sobre a sua decisão -, preparamos um especial com dicas e explicações. Nas próximas páginas, você conhecerá as principais característica e os comportamentos dos principais bichos de estimação. Cachorros Laço no pescoço, perfume, pêlos sedosos e um olhar de ?me leva pra casa?. É difícil não se encantar com um filhote de cachorro, principalmente com as formas como muitos pet shops o colocam à venda. Mas, antes de optar por um cão, lembre-se: se o bicho for saudável e não acontecer nenhum acidente, ele deverá viver por mais de 10 anos. Também é preciso levar em conta que se trata de um animal que necessita de muito carinho, tempo, paciência e atenção - sem falar da questão financeira. A educação do filhote é outro ponto importante e deve ser encarada como um desafio próximo ao de se educar uma criança. Alguns de seus pertences vão ser destruídos no começo e você deverá estar pronto para ter paciência. Antes de escolher o seu melhor amigo, saiba que a raça dele pode ser um indicador de comportamento. São mais de 400 e se dividem em categorias, como cão de companhia, guarda, caça e pastoreiro. ?É muito importante que o futuro proprietário procure um veterinário para que possam juntos analisar qual animal irá se adequar melhor ao perfil e ambiente daquela pessoa?, explica o médico veterinário Zorba Mestre Dallalana, que recentemente lançou o audiolivro ?Dr. Dog?, que ensina a escolher, criar e cuidar dos cães. Segundo o especialista, é possível fazer uma estimativa do que vai ser necessário para cuidar do bichinho e até mesmo de quanto o novo dono irá gastar antes da compra. ?Já aconteceu de uma pessoa me procurar querendo comprar um cachorro e acabar comprando um gato. Vale lembrar também que o veterinário é a pessoa mais adequada para indicar um criador, porque é ele que sempre visita esses locais para tratar dos bichos.? Adotar cães sem raça definida (conhecidos como vira-latas) também é uma boa opção, principalmente para quem deseja ajudar a evitar que mais bichos parem nas ruas ou para quem não quer gastar comprando. Deve-se levar em consideração, no entanto, que se trata de uma mistura de raças e que isso pode influenciar diretamente no comportamento do animal. É claro que isso não quer dizer que ele será menos inteligente, saudável ou mais agressivo, mas, se possível, conheça os pais para fazer uma análise prévia do seu perfil. Se a opção for pela compra em um canil, é bom verificar se existe algum registro do local em entidades que regulamentam a criação. O fornecimento do contrato de compra e venda e registro do animal (pedigree), com o nome do canil, é importantíssimo, pois indica uma preocupação com a linhagem do cão. A vacinação do bicho pelo menos três dias antes de ele sair do local, o tratamento contra vermes e o laudo médico são sinais de que o canil se preocupa com a saúde do seu futuro amigo. Pedir cópia dos laudos de exames dos pais do filhote para mostrar ao seu veterinário também é prudente, já que algumas doenças são hereditárias, como a displasia (má formação das juntas), e só podem ser diagnosticadas quando o filhote crescer. Em relação a qual filhote escolher na ninhada, é bom ver todos com a mãe e buscar um que não seja muito ativo ou muito quieto. Além disso, é bom saber que o macho marca mais território com urina do que a fêmea. ?É lenda que existe esse amor instantâneo e que é o bicho que escolhe o dono. Geralmente, esses são os cachorros mais dominantes e agitados. O ideal é que você pegue um mais equilibrado, que não é nem aquele que ficou quieto e desinteressado e nem aquele que ficou pulando no seu colo e lambendo o seu rosto sem parar. A maioria escolhe o que vem correndo para você e depois fica desesperado com as maluquices que ele apronta?, explica Alexandre Rossi, zootecnista do Pet Center Marginal. Outra dica do profissional é que se pegue o cão no fim de semana, já que, nos primeiros dias no novo lar, ele vai precisar de mais atenção. O primeiro dia na casa precisa ser mais tranqüilo. Dê a mesma ração a que ele está acostumado, já que o estresse da mudança de ambiente já causa uma baixa imunidade. Dormir também poderá ser um problema, já que o bichinho sente muita falta da mãe e dos irmãos. Como o cachorro é muito ligado ao cheiro, é bom deixar um pano que foi utilizado pelos pais. Evite também isolá-lo nos primeiros dias. Os ossinhos e brinquedos podem ajudar a evitar que os móveis sejam destruídos. Não se deve expor o filhote fora de casa sem que ele complete o programa de vacinação, pois, mesmo que ele já tenha tomado alguma dose, corre o risco de se contaminar. O primeiro banho pode ser dado nos primeiros meses de vida, no entanto, dentro do banheiro da casa e com a água quase morna. Não se deve levar em pet shops para o banho pelos mesmos motivos anteriores - o organismo não está preparado para defendê-lo de doenças que podem ser transmitidas pelos outros cães do local. É preciso também tomar alguns cuidados antes e durante o banho, como tampar os ouvidos com algodão e não deixar o xampu, que deverá ser próprio para o animal, escorrer nos olhos. Veja aqui como concorrer a um lindo cãozinho da raça golden retriever Gatos Algumas pesquisas apontam que os primeiros bichanos foram transformados em animais de estimação há mais de 5.000 anos, pelos egípcios. Apesar disso, criou-se uma cultura negativa quanto ao comportamento do gato, que não tem muito a ver com a realidade. É verdade que um felino não busca mendigar tanto o carinho do homem quanto um cão. Além disso, seu parentesco com outros animais selvagens traz traços de independência e propriedades de caça. Mas isso não quer dizer que estes bichos não são carinhosos: a única diferença é que eles gostam de doses homeopáticas de agrados. Alguns criadores até brincam dizendo que o gato é seu dono e não você dele.Quem pensa em ter um gato precisa levar em conta essas características e procurar entender que se trata de um bicho muito inteligente, mas difícil de ser treinado. É importante pegar um gato ainda filhote, com 2 ou 3 meses, para que ele se acostume ao seu novo lar. Ao contrário do que muitos pensam, não é indicado que, no primeiro dia na nova casa, ele fique zanzando por todo lado.Segundo especialista, o ideal é que, pelo menos no começo, ele fique mais confinado em um quarto, para se acostumar com o ambiente e se sentir mais seguro. Se for possível optar por dois felinos, a adaptação poderá ser mais tranqüila, já que um fará companhia ao outro.Como no caso dos cães, é importante conhecer os pais do gato e analisar seu comportamento junto aos irmãos, já que algumas características são percebidas neste momento. O gato é normalmente mais cuidadoso ao escolher o local para fazer suas necessidades e o novo dono vai precisar comprar uma bandeja de plástico e areia especial higiênica, o ?granulado sanitário?. Apesar de gostar de ficar no seu canto, deixá-lo entediado pode levá-lo a querer brincar de arranhar e destruir seus móveis. Procure dar brinquedinhos que façam barulho e que sejam leves. Para afiar as garras, é interessante comprar um arranhador e treiná-lo a utilizá-lo. A ração é a melhor opção para alimentá-lo - e o seu veterinário pode indicar a ideal. Há gatos que precisam de rações que auxiliam na digestão, já que, ao se lamber, boa parte dos pêlos é engolida e causa problemas no aparelho digestivo. A escovação auxilia na remoção dos pêlos mortos. Os bichanos são muito curiosos e acidentes caseiros podem acontecer. Se você mora em apartamento, é fundamental colocar redes de segurança nas janelas. Pássaros Muitos criadores de pássaros são considerados cruéis por manterem um animal que nasceu para voar preso numa gaiola. Mas o fato é que o verdadeiro criador leva muito a sério os cuidados com esses animais. Há vários tipos de aves para criação, que atendem desde os que desejam pássaros para canto até os que preferem observá-los. A escolha deverá levar em conta o tempo que o criador tem para disponibilizar a essa ave. Além disso, é preciso ler sobre a espécie antes de comprá-la. Para o canto, as mais conhecidas são os canários, o azulão e o curió. Já para quem gosta de interação, os pássaros ideais são o papagaio, a arara, calopsita e periquitos. As aves que não cantam muito - nem são de contato - são consideradas exóticas porque não estão da nossa fauna. Os pássaros precisam de ar puro, sol na medida certa e não gostam de ficar muito tempo no chão. Peixes A criação de peixes em aquários tem dois perfis de usuários: aqueles que desejam um aquário simples, com peixes com uma duração menor de vida, e os profissionais, que buscam uma experiência que exige conhecimentos específicos de biologia, principalmente para manter os aquáticos vivos por mais tempo. Alguns peixes podem viver por mais de 20 anos. Segundo o biólogo Otávio Cesar Cafundó de Moraes, os grandes pet shops estão trabalhando com um conjunto de equipamentos que levam o aquário a ser o mais natural possível, diferente dos sistemas antigos, que usavam plantas de plástico, placa de filtro biológico e bombas de ar. A idéia é que, quanto maior o aquário, menos equipamentos você precisa colocar nele - e mais natural ele ficará. Um aquário simples é relativamente barato, mas cada animal precisa de alimentação, tipo de água e espaço adequados. Exóticos Se você não pode ter um cachorro ou um gatinho, não se desespere. Os animais exóticos são uma boa pedida, mas é preciso esclarecer alguns pontos fundamentais para garantir que você fará a escolha ideal, para depois não se arrepender. Segundo o Ibama, animais exóticos são aqueles que não são nativos do Brasil, mas, para esta reportagem, o termo exótico diz respeito aos bichos que não são encontrados com tanta facilidade. É preciso deixar claro que, antes de comprar o animal, é importante informar-se sobre o tamanho do bicho adulto, sua longevidade, seu tipo de alimentação, o tipo de espaço que o animal precisa, os pontos positivos e os pontos negativos de tê-los em casa. Para elucidar essas dúvidas, é recomendado buscar auxílio em alguma loja especializada e que seja cadastrada junto ao Ibama - os funcionários desses pets são instruídos sobre o perfil e as necessidades de cada tipo de animal sejam eles répteis, aves ou mamíferos. Na hora de comprar, certifique-se de que a empresa é parceira do Ibama, caso contrário, você estará infringindo a lei. Se você tem um animal que não é regularizado e cadastrado no Ibama e deseja torná-lo legal, saiba que isso não é viável. ?Como não existe certificação dos antecedentes dos animais, eles não podem ser regularizados, porque não existe amparo na legislação para realizar tal feito. Mas é possível devolver voluntariamente o animal ao Ibama, o que não implica punição alguma?, esclarece o professor e biólogo responsável Del Nero. Quando a compra é feita num pet cadastrado pelo Ibama, os animais já vêm com um microchip - répteis e mamíferos - e com a anilia, no caso das aves. A identidade desses bichos é a nota fiscal fornecida pelos comerciantes regularizados junto à entidade de proteção aos animais. Para viajar dentro do Estado, é preciso levar consigo a nota fiscal, porque, se a polícia aparecer ao longo do trajeto, o dono do bichinho pode ser autuado como traficante. No caso das viagens interestaduais, é preciso emitir o guia de transporte animal (GTA), que garante a saúde do bicho. Se você conhece alguém que pretende ter uma aranha ou um escorpião em casa, faça-o desistir da idéia. A lei é clara: no Brasil, é terminantemente proibido comercializar aracnídeos. Já os répteis - teiú, iguana e tartaruga -, assim como as aves silvestres - araras, papagaios, corujas e papagaios - são animais que podem ser vendidos para uso doméstico. O professor Del Nero afirma que muitas pessoas reclamam, depois de determinado tempo, que os animais se tornaram grandes para a estrutura da casa. Neste caso, a escolha de um pet filiado ao Ibama tem mais uma vantagem. O dono pode devolver o animal à loja desde que apresente a nota fiscal, mas é importante deixar claro que não existe nenhum tipo de remuneração quando ocorre a devolução. Colaboração: Ciça Carvalho

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