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Para fugir da crise, faculdades dão bolsa para mais de 50% de seus alunos

Descontos, concedidos por mérito, parceria com empresas e até por idade, vão de 10 a 100% da mensalidade

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Por Renata Cafardo
Atualização:

Numa tentativa de combater a inadimplência e a concorrência crescente no ensino superior privado do País, universidades particulares chegam a oferecer bolsas a mais da metade de seus alunos. Há todo tipo de desconto nas mensalidades: bolsa-idade, bolsa-mérito, bolsa para funcionários de empresas parceiras - sem contar os benefícios oferecidos pelo próprio governo a estudantes de baixa renda. Os abatimentos variam de 10% até 100%. "Tornou-se uma necessidade oferecer bolsas para não perder alunos", diz o presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semes), Hermes Figueiredo. As instituições particulares enfrentam uma crise atualmente, com fechamento de universidades e tentativa desesperada de captar mais alunos em um mercado que já parece saturado. Além disso, as instituições precisam atender estudantes das classes C e D, que nos últimos anos tornaram-se uma parcela cada vez maior desse mercado. Segundo números do Ministério da Educação (MEC), 27,5% dos alunos de ensino superior privado no País têm renda familiar de até três salários mínimos. A Faculdade Sumaré já surgiu em 2000 com a estratégia de oferecer descontos para conquistar o público de baixa renda. Atualmente, 99% de seus cerca de 6 mil estudantes recebem algum tipo de bolsa. "Quando a pessoa chega à instituição, já verificamos sua situação e encaminhamos para alguma bolsa", diz o diretor Eliseu Lourenço Pereira. As ofertas vão desde financiamentos como o ProUni, do governo federal, a bolsas mantidas pela própria faculdade. A inadimplência da Sumaré é uma das mais baixas do setor: 2%. Segundo o Semesp, o índice médio no Estado no ano passado foi de 23,2%. O resultado positivo acontece, muitas vezes, porque o aluno que não paga em dia perde o benefício da bolsa. Algumas instituições dão ainda um descontinho a mais para o bolsista que não atrasa o pagamento. Renata Mori Ferreira, de 18 anos, recebeu tantos descontos que hoje cursa Recursos Humanos de graça. Sua mensalidade era de R$ 597 na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), mas ela recebeu uma bolsa-estágio, por trabalhar na instituição, outra pelo convênio com o associação da polícia militar, da qual seu pai faz parte, e outros 15% oferecidos pela universidade. "Não teria como pagar se não fosse isso", diz. Mais de 70% dos 15 mil alunos da UMC recebem algum tipo de bolsa atualmente. A instituição tem um programa especial para captação de empresas e associações parceiras e já são 1.100 conveniadas. Entre elas, Embraer, Suzano Papel e Celulose e a prefeitura de Mogi da Cruzes. Os funcionários têm 20% de desconto em qualquer curso. Uma das contrapartidas da empresa é permitir o envio de mala-direta na época do vestibular, explica o gerente de marketing da UMC, Jorge Kowalski. "Temos um leque de opções de bolsas para que o aluno não deixe de estudar por falta de incentivo", completa, mencionando ainda a bolsa-família (para estudantes de uma mesma família) e a bolsa-ex-aluno (para os que querem voltar a estudar). PRÊMIO PARA BOAS NOTAS A UniRadial, que acaba de ser comprada pela Universidade Estácio de Sá, do Rio, oferece uma bolsa para todos os ingressantes, conforme a idade. Cada um recebe entre 10% e 35% - quanto mais velho, mais descontos. Na Radial, 65% dos matriculados hoje têm algum tipo de bolsa. Barbara Sobreiro, de 25 anos, recebeu uma de 10% por ser a melhor da classe no período. Agora, ela está pedindo mais um benefício à UniRadial porque não consegue pagar o restante da mensalidade. Barbara ainda não sabe em que tipo de bolsa poderá se encaixar, mas se diz otimista. "Eles são muito receptivos a ajudar o aluno", diz. Muitos dos descontos são dados também a funcionários das centenas de empresas parceiras, que não pagam a parte do desconto, mas garantem a divulgação da universidade. Segundo o presidente do Semesp, as instituições preferem dar descontos a baixar as mensalidades para manter os alunos. "Depois, se há algum tipo de problema, é muito difícil aumentar novamente", diz Figueiredo. De acordo com ele, 880 mil dos 3,3 milhões de estudantes do ensino superior privado no País hoje têm bolsas parciais. Outros 94 mil recebem descontos de 100%. Além disso, há 306 mil estudantes, segundo números do MEC, beneficiados pelo ProUni, que atende alunos de baixa renda e estudantes de escolas públicas. Eles recebem a bolsa e a instituição fica isenta de pagar impostos. A universidade pode oferecer até uma bolsa para cada 10 alunos.

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