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Para comer sem os olhos

Imagine fazer uma refeição sem escolher os pratos nem ver o que é servido. Prepare-se para testar os sentidos

Por Cristiana Vieira
Atualização:

Degustar um jantar primoroso, em ambiente agradável, é uma oportunidade quase única. Quase, pois só quem já experimentou fazer tudo isso com os olhos vendados é que sabe o que realmente aguça os sentidos. As jovens Maria Lyra e Elis Feldman – que, apesar da formação em Psicologia, têm muitos anos dedicados à paixão pela gastronomia – trouxeram de Paris a inspiração para criar o Ateliê No Escuro Gastronomia. A proposta é essa mesma: jantar com os olhos vendados.

 

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Alguns ficam tensos, enquanto outros não param de rir. Pede-se para aproveitar o silêncio, pois, logo, os sentidos começam a ficar mais aguçados. A conversa sem o “olho no olho” fica um pouco estranha. O tom de voz aumenta involuntariamente. Os ouvidos ficam mais atentos e, não raramente, o garçom segura a mão do cliente para que alcance pratos, talheres e taças. Assim que chega a entrada, começa o ataque dos dedos famintos e curiosos.

É bom nem tentar usar os talheres. Afinal, os pratos são servidos em pequenas porções, e alguns são elaborados para serem degustados com as próprias mãos. Afinal, ninguém (além da atenciosa equipe) está olhando. É servida a entrada, que geralmente traz alimentos frescos e crocantes para suavizar o paladar. Quem nunca pisou na cozinha, se perde. Pois, para decifrar os sabores, é preciso conhecer temperos, perfumes, consistências.

Pausa. O sino soa três vezes. O músico passa tocando instrumentos variados. Pede-se silêncio. E uma poesia é declamada. Ouve-se, então, o tilintar das louças. O prato principal é servido. E recomeça a sessão de adivinhações. A questão é: usar os talheres ou não? E a oferta de produtos para o teste aumenta. Uma louça com lavanda é colocada na mesa.

O restaurante é fino. Mas parece uma área de recreação. Todos querem falar, adivinhar o que estão comendo. Fala-se com a boca cheia. Lambe-se os dedos escondido. Volta-se à infância e a porção que se equilibra no garfo é aparada no canto do prato com os dedos. “As pessoas lambem o prato mesmo, escondem o prato ou a bebida do acompanhante, casais se formam na mesa e se beijam escondido...”, conta Elis.

De repente, um ventinho perfumado. E recomeça o ritual. É hora da sobremesa. E quando ela acaba, é hora de tirar a venda. Dá até tontura. Mas o legal seria ver um vídeo das peripécias que rolaram durante aquelas duas inesquecíveis horas. “Para quem vive um dia estressado, esse jantar é ótimo para relaxar”, diz Elenise William, que foi a convite da filha.

No fim, os pratos servidos naquela noite são expostos para que os participantes possam conferir. Mas antes a equipe passa pelas mesas perguntando o que cada um comeu. Aí a imaginação flui. E muitos se surpreendem. “Eu dizia que não gostava de cordeiro, mas foi o prato de que mais gostei”, admite Elaine Figueiredo, que foi com um amigo, por indicação de outros.

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Tudo vira uma grande brincadeira. As pessoas saem de lá com outro astral. “Elas quebram paradigmas, aprendem que é possível comer com qualidade”, comenta Elis. É um programa para quem sempre busca algo novo. Mas antes de cruzar a porta da saída, já dá vontade de repetir a dose.

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