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Países não têm tecnologia completa para diagnóstico

Só americanos detêm todos os recursos, o que permite confirmações rápidas da doença

Por Fabiane Leite , Ligia Formenti e Jamil Chade
Atualização:

A maior parte dos países, incluindo o Brasil, ainda não dispõe da tecnologia completa para detecção do vírus da gripe suína. Laboratórios de referência nacionais aguardam kits de testes para a identificação do vírus H1N1, exames desenvolvidos pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA. Os EUA, que já dispõem da tecnologia, têm conseguido, com o uso dos recursos tecnológicos, confirmar mais casos (91) que o México (26), país onde a epidemia eclodiu e em que ainda milhares de pacientes têm seu estado de saúde investigado. O Brasil, por exemplo, só tem atualmente capacidade para, após receber uma amostra de secreção de um paciente, dizer se há ou não a presença do vírus influenza (o vírus da gripe) e o tipo de vírus, A, B ou C. Não tem recursos para identificar o subtipo causador da epidemia atual e a cepa. "Já estamos fazendo os testes padrão, todos os laboratórios no mundo, não só aqui, têm o norte para a confirmação dos casos. Mas não há como fazer a identificação desse vírus específico . Estamos aguardando os reagentes e as amostras do vírus. Só os EUA têm feito isso", explicou ontem Rita Medeiros, pesquisadora do laboratório de virologia do Instituto Evandro Chagas, no Pará, referência para a confirmação de casos no País, que já aguarda a chegada dos kits. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou ontem que o governo recebeu o sequenciamento genético do vírus da OMS e que o material já foi enviado para um laboratório, que ficará encarregado de fazer os kits de testes. A previsão é de que todo esse processo esteja concluído em até dez dias. Segundo afirmou Eduardo Hage, diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do ministério, a posição do Brasil, manifestada em reunião, foi de que o Centro de Controle de Doenças dos EUA liberasse imediatamente insumos para os países. REUNIÃO POLÍTICA Países ricos e emergentes decidiram convocar uma reunião política para definir de que forma amostras de vírus de doenças desconhecidas, como a gripe suína, serão compartilhadas no futuro. O controle do material se transformou em uma questão estratégica, já que definiria também quem teria o poder de combater uma nova pandemia, com o desenvolvimento de testes de diagnóstico e eventuais vacinas. O encontro ocorrerá em Genebra, no dia 12 de maio, e o Brasil defenderá uma revisão do sistema de vigilância de doenças no mundo. O tema das amostras do vírus da gripe suína será centro do debate. Ontem, diplomatas promoveram uma teleconferência para iniciar o diálogo sobre o assunto e ficou estabelecido que a reunião em maio seria decisiva. A crise política eclodiu no ano passado, mas ainda era baseada no acesso ao vírus e vacinas contra a gripe aviária. Agora, o tema se amplia. Países emergentes querem garantir maior acesso não apenas aos testes diagnósticos, mas também facilidades para comprar eventuais vacinas produzidas. Um debate que se refere à propriedade intelectual.

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