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Países criticam posição dos EUA sobre clima

Encontro das 17 economias que mais emitem gases-estufa do mundo, convocado pelo presidente americano, terminou sem nenhum avanço

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

O governo brasileiro criticou ontem as propostas dos Estados Unidos para controlar o efeito estufa e questionou a autoproclamada liderança dos americanos na questão climática. "Você ganha a liderança com ações", disse Everton Vargas, subsecretário-geral de política do Itamaraty. Em discurso, em Washington, o presidente George W. Bush afirmou que os americanos precisam "liderar o mundo na produção de menos gases que provocam o efeito estufa". Vargas afirmou que o encontro de dois dias, promovido pela Casa Branca, não trouxe nenhuma novidade. "Os americanos não trouxeram nenhuma idéia nova, só reiteraram suas posições", disse Vargas. "Ainda precisamos trabalhar mais com os Estados Unidos para ver se conseguimos persuadi-los a jogar pelas regras de um sistema multilateral - eles ainda rejeitam qualquer compromisso obrigatório e nós ainda esperamos um comprometimento deles com redução de emissões." Os Estados Unidos abandonaram o Protocolo de Kyoto, acordo mundial que visa a cortar as emissões. Bush defendeu metas voluntárias e investimento em tecnologias novas e limpas, que substituiriam as atuais baseadas em combustíveis fósseis. "Nós identificamos um problema. Vamos resolvê-lo", disse. O presidente americano também propôs um fundo internacional de energia limpa e a suspensão de barreiras tarifárias e não-tarifárias ao comércio de bens energéticos e serviços. Nem Bush nem Condolleezza Rice, a secretária de Estado dos EUA, mencionaram a retirada da tarifa de importação sobre o etanol brasileiro, apontou Vargas. Vargas afirmou que tecnologia apenas será insuficiente para deter o aquecimento global. "Não adianta ficar esperando a melhor tecnologia surgir e, enquanto isso, as emissões continuam crescendo." A reunião em Washington juntou 17 grandes emissores de gases-estufa do mundo - os americanos são os líderes, ainda que a China deva ultrapassá-los. Ela terminou sem que o abismo entre Bush e os demais países no campo ambiental diminuísse. "A administração (Bush) parece estar bem isolada", disse o representante britânico, John Ashton. "Acho que o argumento que podemos fazer isso por meio de estratégias voluntárias está bastante desacreditado internacionalmente." "Nossa mensagem aos Estados Unidos é esta: o que colocaram na mesa nessa reunião é um primeiro passo, mas não é suficiente", disse o ministro do Meio Ambiente da África do Sul, Marthinus van Schalkwyk. "Acreditamos que os Estados Unidos precisam voltar à estaca zero." Democratas também criticaram o republicano Bush. O senador Barack Obama, pré-candidato à Presidência americana, disse que "medidas voluntárias não refletem nem inovação, nem liderança". O senador Jeff Bingaman afirmou que os Estados Unidos "perderão a credibilidade para negociarem qualquer acordo climático internacional sério a não ser que possam mostrar um plano crível para limitar domesticamente os gases-estufa". REPETIÇÃO Assim como os Estados Unidos, o Brasil também manteve na reunião sua posição histórica de recusar qualquer meta de controle de suas emissões. A principal contribuição brasileira é o desmatamento e as queimadas na Amazônia. O País se opõe a qualquer sistema que, no futuro, "servirá como um meio de congelar o desenvolvimento das nações emergentes", disse Vargas. Ele defende que o protocolo seja renovado após 2012, com objetivos flexíveis aos países pobres. "A maior responsabilidade pela mitigação dos efeitos do aquecimento global é dos países desenvolvidos", afirmou. Segundo ele, será necessário remunerar os países em desenvolvimento que forem eficazes em conservar a natureza.

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