País terá oito novos laboratórios para pesquisas com células-tronco

Instalações seguirão normas de Boas Práticas de Fabricação; centros atuais não têm nível de segurança ideal

PUBLICIDADE

Por Fabiana Cimieri
Atualização:

Apesar de o País ter anunciado alguns avanços importantes nas pesquisas com células-tronco, a maioria dos laboratórios dos principais centros de pesquisa brasileiros ainda não possui estrutura adequada para esse tipo de estudo. Para melhorá-los, o governo está financiando a construção de oito centros com laboratórios de acordo com as Boas Práticas de Fabricação, que devem ficar prontos até 2011. Segundo a pesquisadora-chefe do Centro de Medula Óssea do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Eliana Abdelhay, as células pluripotentes (que têm a capacidade de se transformar em qualquer tecido do organismo) obtidas pelos pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Inca no início do ano foram produzidas em laboratórios de nível de segurança intermediário. Para ela, deveriam ter sido feitas em salas vedadas e com normas mais rígidas de segurança - em um nível considerado avançado - para evitar contaminação das células em cultura . "Como especialista da área de segurança humana da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança não posso dizer que os laboratórios estavam adequados", disse ela. No entanto, nenhum acidente foi registrado e as pesquisas têm avançado apesar dessas deficiências. O pesquisador da Divisão de Pesquisa Experimental do Inca, Martin Bonamino, concordou que os laboratórios não eram os ideais, mas ressaltou que o governo vem investindo na estruturação de uma Rede Nacional de Terapia Celular, que recebe financiamentos dos ministérios da Saúde (MS) e Ciência e Tecnologia (MCT), por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Cnpq). Ainda neste ano devem ficar prontos no Inca dois novos laboratórios para terapia celular e gênica - que envolve manipulação e modificação de genes -, já adequados às Boas Práticas de Fabricação (BPF). PRIORIDADES A terapia celular é uma das áreas prioritárias para o governo, segundo o secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães. No ano passado, a Finep selecionou oito grupos de pesquisa, que receberão R$ 13 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e R$ 10,6 milhões da Saúde e do MCT. Os recursos servirão para estruturar esses oito centros de cinco Estados para a produção de células-tronco de vários tipos (adultas, induzidas e embrionárias). Os laboratórios fornecerão as células gratuitamente para os grupos de pesquisa que se interessarem. "No futuro a tendência é que as células-tronco se transformem em commodities de altíssimo valor agregado", informou Guimarães, explicando que, caso seus efeitos terapêuticos passem de promessa à realidade, todos os países que não as produzam serão obrigados a importá-las. Por isso, estão sendo feitos investimentos para a estruturação de laboratórios de acordo com as BPF. "Para que as células possam ser comercializadas é preciso ter esse certificado", disse Guimarães, acrescentando que atualmente ainda não existe nenhum uso terapêutico para as células-tronco, em nenhum lugar do mundo. "Quem disser que está fazendo isso é charlatão. Todo paciente que recebe células-tronco tem de fazer parte de um ensaio aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep)." Além dos oito centros, o governo está investindo em 40 grupos de pesquisa com terapia celular. A maior pesquisa é um ensaio com 1.200 pacientes para medir a eficácia do uso de células-tronco autólogas (do próprio paciente) em terapias para algumas doenças do coração (enfarte, doenças coronarianas crônicas, doença de Chagas e cardiopatias dilatadas). Somente esse estudo multicêntrico, coordenado pelo pesquisador do Instituto de Cardiologia de Laranjeiras Antonio Carlos Carvalho, recebeu R$ 25 milhões. Mas já há outras pesquisas na fase clínica (em pacientes). Em Ribeirão Preto, um grupo comandado pelo professor Julio Voltarelli estuda o tratamento da diabetes com células-tronco e, na Bahia, a equipe do cientista Ricardo Ribeiro dos Santos pesquisa a terapia celular para tratar pacientes chagásicos. O Inca está prestes a fazer o primeiro transplante de medula com infusão de células-tronco mesenquimais, para tentar reduzir a possibilidade de rejeição no tratamento de aplasias medulares (desenvolvimento imperfeito da medula). "A tendência é que a medicina regenerativa se transforme em um novo paradigma", disse Guimarães. Bonamino é mais cauteloso. Ele ressalta que os primeiros estudos clínicos com células-tronco embrionárias serão feitos agora nos Estados Unidos e não há nenhum resultado conclusivo ainda. "Tudo não passa de uma grande aposta por enquanto."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.