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País melhora em matemática e piora em leitura, mostra OCDE

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Por Renata Cafardo
Atualização:

O Brasil piorou seu desempenho em leitura, mas foi um dos países que mais melhoraram em matemática no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa), de 2006. O exame, considerado o mais importante do mundo em educação, é realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a cada três anos. Cerca de 400 mil alunos de 15 anos, de 57 países, fizeram a última prova. Os resultados foram divulgados ontem em Bruxelas - na semana passada, a entidade havia liberado apenas dados preliminares do exame de ciência. Veja o relatório completo A pontuação dos alunos brasileiros ficou em 393 e 370, em leitura e matemática, respectivamente. A nota máxima registrada no Pisa foi de 707,9. Esse desempenho faz com que o País não consiga passar do nível 1 de aprendizagem - numa escala que varia de 1 a 6, sendo 1 o pior - em nenhuma das três áreas. Isso quer dizer que os alunos conseguem apenas localizar informações explícitas e não são capazes de fazer comparações, estabelecer conexões ou interpretar textos. Em matemática, eles não podem sequer resolver problemas simples. Por causa disso, mesmo com a melhora, o Brasil ainda está entre os piores do mundo em matemática. O ranking mostra os brasileiros na 54ª posição, atrás dos cinco outros países latinos que participaram da prova e melhor apenas que Tunísia, Catar e Quirguistão. Em leitura, o País tem a melhor colocação das três áreas avaliadas, ficando na 49ª posição. Nossos estudantes superaram os da Argentina e da Colômbia. O ranking de ciência mostra o Brasil em 52º lugar. A campeã do Pisa, assim como ocorreu em 2000 e em 2003, é a Finlândia. A nação escandinava é a primeira colocada no ranking de ciência e a segunda em leitura e em matemática. Os países vencedores dessas duas listas, Coréia e Taiwan, respectivamente, aparecem abaixo da 10ª colocação nos outros rankings. A relação inclui países membros da OCDE e convidados (como o Brasil). Eles representam 90% da economia mundial. Não há nações africanas ou da América Central, por exemplo. "Qualidade não cai do céu. É algo que exigirá muito esforço do País por muito tempo. Sabemos o que nos separa do mundo desenvolvido", disse ontem o ministro da Educação, Fernando Haddad. Pela primeira vez, foram divulgados também os resultados do Pisa por Estado brasileiro (veja na página W2). No País, 9.295 alunos de escolas públicas e particulares fizeram a prova em 2006. ESPAÇO PARA CRESCER A melhora do Brasil em matemática é destacada no relatório do Pisa. Foram 13 pontos de diferença com relação a 2003; só México, Indonésia e Grécia avançaram mais. Quem elevou a nota do País foram os estudantes que estavam nos piores níveis de aprendizagem e que melhoraram desde 2003. "São eles que tinham mais espaço para crescer e isso é importante que tenha acontecido", diz o especialista em avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Francisco Soares. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, João Lucas Marques Barbosa, o resultado pode estar relacionado à proliferação das olimpíadas de matemática pelo País. Há três anos, foi criada uma competição nacional para estudantes de escolas públicas. "Esses eventos descobrem talentos e mudam a idéia de que matemática é um bicho-papão, principalmente entre as crianças mais pobres", diz Barbosa. Para ele, efeitos maiores serão sentidos em cerca de dez anos. Em leitura, ocorreu o oposto que em matemática. Os melhores alunos do País aumentaram suas notas em 23 pontos, enquanto os que já eram ruins caíram em mais de 30 pontos. O exame de leitura da OCDE analisa não só a habilidade de ler e escrever, mas também de interpretar textos, usar a escrita em situações cotidianas, opinar. Uma das questões falava sobre grafite e o estudante deveria dizer o que achava do texto, comentar seu estilo e analisar. "Nosso resultado é um reflexo da falta do professor-leitor", diz a professora da rede pública do Rio e doutoranda da Universidade de Brasília (UnB) Zóia Preste. Segundo números do Ministério da Educação (MEC), só 26% das escolas brasileiras têm bibliotecas. O Pisa foi aplicado em todos os países entre março e novembro do ano passado. Foram duas horas de prova, com mais de 40% das questões dissertativas. Além das provas, os adolescentes respondem a questionários socioeconômicos e os diretores descrevem a estrutura da escola. Os países podem optar por participar com todos os seus alunos ou, como o Brasil, utilizar uma amostra do total. Segundo a OCDE, os 400 mil que fizeram o exame representam 20 milhões de alunos no mundo. Pela primeira vez, o Pisa fechou um ciclo, o que fortalece as informações estatísticas e permite comparações. Isso porque a cada ano o exame foca em uma das áreas - em 2000, o foco foi leitura; em 2003, matemática; e, em 2006, em ciências. O exame de 2009 voltará a enfatizar leitura, o que significa que haverá mais perguntas e que os resultados serão mais detalhados nessa área. EXEMPLO "O Brasil é um exemplo para outros países, porque vem melhorando seus resultados", disse ao Estado Andreas Schleicher, que é diretor da divisão de indicadores e análise da diretoria de educação da OCDE. "Trata-se de um dos poucos países que apresentou avanços nas provas de leitura e matemática." Para ele, o governo brasileiro foi "corajoso" ao se juntar ao rol de países avaliados pelo Pisa. "Os brasileiros estão sendo comparados lado a lado com vários países mais desenvolvidos", diz. "Em vez de dizer que se trata de uma avaliação injusta, ser comparado com o Japão, por exemplo, o Brasil adotou um a postura pragmática ao afirmar - ?ora, estamos competindo globalmente?." Schleicher elogiou o fato de o governo ter criado um sistema nacional de avaliação e os esforços para matricular um maior número de crianças nas escolas. O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Sergei Soares também foi otimista. "Só o fato de não ter caído já é um bom resultado, porque o Brasil incluiu um número muito grande de alunos nos últimos anos", diz. Hoje, o País tem quase 100% dos alunos de 7 a 14 anos na escola. Um dos desempenhos que chamaram atenção dos educadores brasileiros é o do Chile, que vinha implementando mudanças em seus sistema educacional, mas não havia melhorado em rankings internacionais até então. Neste ano, o Chile aparece como o melhor país da América Latina nas três áreas do Pisa. Em leitura, está dez posições acima do Brasil. "Não temos muito o que aprender com Taiwan ou Hong Kong, que têm educação com base em muita competição, e sim com o Chile, que aumentou seus investimentos na área e ampliou o tempo dos alunos nas escolas", diz Soares, da UFMG. COLABOROU PATRÍCIA CAMPOS MELO

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