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País faz sequenciamento completo de 2 genes do vírus da gripe suína

Instituto Adolfo Lutz detectou mutação do A(H1N1) que vai ajudar na discussão sobre novas linhas de vacina

Por Alexandre Gonçalves
Atualização:

O Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, realizou o sequenciamento completo, pela primeira vez no País, de dois genes importantes do vírus A(H1N1). As amostras do microrganismo foram colhidas do primeiro paciente diagnosticado com a gripe suína em São Paulo. Ao comparar com os primeiros sequenciamentos feitos na Califórnia, os cientistas identificaram pequenas mutações. Contudo, a taxa de similaridade entre os vírus decodificados no Brasil e nos Estados Unidos ainda é superior a 99,5%. Pesquisadores consideram uma boa notícia que tenha havido tão poucas modificações. O vírus da gripe possui apenas oito genes. O anúncio foi feito ontem no auditório do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. O hospital recebeu, no dia 24 de abril, o viajante de 26 anos que trazia do México o vírus agora sequenciado pelos cientistas. "Ainda não sabemos quais são os impactos dessas variações na ação do vírus", diz Cecília Luiza Simões dos Santos, bióloga do instituto. Os pesquisadores escolheram dois genes para sequenciar: o MP - que codifica as proteínas da matriz M1 e M2, mais abundantes na composição do vírus - e o HA, que produz a proteína hemaglutinina, responsável pela capacidade de infecção do vírus. As mutações ocorreram no gene HA. Para os pesquisadores, a boa notícia é que não houve mutação na região da proteína que interage com os anticorpos produzidos pelo corpo humano para combater o vírus. Com isso, as vacinas em fase de desenvolvimento têm chances maiores de apresentar boa eficácia. Na semana passada, a Novartis anunciou que até setembro conseguirá produzir a vacina. Ontem, a Baxter confirmou que terminou os testes e já está começando a produzir doses. PARENTES O gene M sequenciado pelo Adolfo Lutz é idêntico ao do vírus californiano e, como o seu "parente americano", contém um marcador que indica resistência a uma classe de remédios antivirais (a amantadina). Segundo Cecília, o próximo passo será sequenciar o gene que produz a substância responsável por libertar os vírus das células depois da infecção para que realizem novos contágios. Esse sequenciamento é importante porque o antiviral mais usado atualmente contra a gripe suína - o fosfato de oseltamivir - age sobre essa substância. Os cientistas brasileiros compararam a estirpe do vírus sequenciado em São Paulo a algumas dezenas das já cadastradas na base de dados do Centro Nacional para Informações de Biotecnologia (NCBI, em inglês), nos EUA. "Havia muita semelhança com estirpes da Itália, Texas, China e Coreia", diz Cecília. "Nenhuma era idêntica, mas foi apenas uma análise preliminar." Há um mês, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC-Fiocruz) já tinham depositado no banco de dados do NCBI sequenciamentos parciais do gene M obtidos de três pacientes diferentes: dois do Rio e um de Minas. Cerca de 80% das proteínas M1 e M2 foram decodificadas na ocasião. "Em setembro, haverá reunião na Organização Mundial da Saúde para analisar as estirpes sequenciadas no Hemisfério Sul", diz a virologista do Adolfo Lutz, Terezinha de Paiva. "Com base nos dados, podemos identificar a necessidade de desenvolver uma vacina diferente do Hemisfério Norte."

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