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Pais e filhos: uma relação de cumplicidade

Amizade e diálogo aproximam

Por Adriana Carranca e SÃO PAULO
Atualização:

Fazendeiro austero, o avô não permitia aos filhos e netos falar sem antes pedir autorização - na hora das refeições, nem pensar. O pai, militar, queria a família unida à mesa, onde conversava-se, mas desde que não contestassem suas ideias e opiniões. Qual assunto fosse, a posição dos mais velhos era sempre a correta e sua palavra, a última. "Hoje, vou para o diálogo, procuro entender as razões deles", diz o engenheiro Evergisto Galeno Galrão Junior, de 49 anos, pai de Pedro, de 24, Daniel, de 18, e Ana Beatriz, de 16. "Quase sempre perco! Eles me convencem na argumentação." Galeno não repetiu com os filhos o padrão das gerações anteriores. "Eu não aceitava a imposição, queria ser ouvido, então, não poderia repetir a mesma fórmula com eles." Para os pesquisadores do Ibase e Instituto Pólis, a circulação maior de informações e a quebra de antigos tabus alimentada pelo respeito à diversidade aproximou as gerações. O que, por sua vez, contribui para a maior socialização entre pais e filhos. Mais diálogo, maior o convívio. Isso não quer dizer ausência de regras. Elas existem e são claras. Bebida, só para maiores e com moderação, por isso, quando se reúnem, Ana toma refrigerante e para Pedro e Daniel o chope é contado. "Pô, véio, para quem não bebia...", reclamou Galeno ao segundo copo de Daniel, quando ele fez 18 anos. Pai e mãe também exigem deles nos estudos e na reprodução de valores morais. "Mas, tudo na base da conversa", diz Galeno. Para Galeno, o diálogo aberto o aproximou dos jovens. Eles saem à noite, dividem a mesma mesa, vão a shows e viajam em turma. "Quando o mais velho completou 17 anos, eu quis fazer uma viagem com eles porque achei que seria a última vez que estaríamos juntos. Pedro passaria a ter outros interesses. Mas, depois daquela, vieram muitas outras", conta. Pai, mãe e filhos foram ao Ushuaia, sul da Argentina, Machu Pichu, no Peru, e planejam explorar o deserto do Atacama, no Chile. Também viram juntos o guitarrista Buddy Guy. No show de Manu Chao, o pai não quis ir. "Eles me ligaram de madrugada, no meio do show: ?Pai, você tinha de estar aqui!?." Rosângela da Fonseca Padilha, de 46 anos, lembra do show que perdeu da banda Queen, em 1982, porque não teve permissão da mãe para ir com os amigos, embora já fosse maior de idade. "Eu já tinha 19 anos e trabalhava. Mas, naquela época, os mais velhos decidiam. Sem qualquer possibilidade de argumento", diz. Com o filho, Victor, foi bem diferente. Desde os 13 anos, ele vai a shows - com ela. O último foi o da banda britânica de heavy metal Iron Maiden, no Autódromo de Interlagos, ao lado de 63 mil pessoas. "Eu e minha mãe num show de rock? Não consigo nem imaginar", diz Rosângela. "Hoje, é diferente." "A visão negativa da juventude, retratada como irresponsável, é ultrapassada. O reconhecimento dos jovens sobre o que é importante, como a dificuldade de acesso ao trabalho, o ensino e a violência, impressiona", avalia a antropóloga Regina Novaes, do Ibase.

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