Pagamento de auxílio a bolsistas do ProUni atrasa até 4 meses

Aluno de curso com carga horária maior pode receber R$ 300, mas dinheiro só é repassado após vestibulares

PUBLICIDADE

Por Simone Iwasso
Atualização:

Bolsistas do Programa Universidade para Todos (ProUni) com direito à auxílio permanência no valor de R$ 300 mensais estão esperando de três a quatro meses, todos os semestres, para receber o dinheiro. O auxílio é dado a alunos carentes de cursos com carga horária elevada (acima de 6 horas/dia), como Medicina. O objetivo é pagar gastos com moradia, alimentação, transporte, livros e assim permitir que estudantes de baixa renda terminem a faculdade. Para suprir a falta de recursos, alunos fazem empréstimo em banco ou recorrem a amigos e familiares. Neste ano, o primeiro pagamento do auxílio permanência foi feito na semana passada - referente aos meses de fevereiro, março e abril. Segundo o Ministério da Educação, o atraso acontece porque os repasses são feitos na mesma data para todos os bolsistas do País após todas as faculdades terminarem o vestibular. Ou seja, mesmo quem já estava no programa e cursa o 2º ou 3º ano, não pode receber o dinheiro enquanto não houver uma lista final de todos os novos ingressantes - o problema é que algumas faculdades fazem processos seletivos até o início de maio e meados de setembro (para o 2º semestre). O ProUni dá bolsa integral e parcial em instituições particulares para alunos com renda familiar de até 3 salários mínimos. O MEC diz que pretende mudar o sistema para que os depósitos sejam feitos sem atraso a partir do próximo semestre. "O atraso não é problema atual. Todo semestre ocorre. Mas desta vez foi a gota d?água. Fiquei duas semanas com R$ 1,79", conta Pâmella Aguiar, de 24 anos, que cursa o 2º ano de Medicina na Univali, Itajaí (SC). "Sei que a bolsa é uma ajuda. Que não é obrigação do governo nos pagar. Mas dificilmente poderia pensar em vir para outro Estado e cursar Medicina sem esse auxílio. Fica difícil tirar notas boas se, na hora de ir lá tirar xerox, você só tem dinheiro para metade das folhas." Pâmella terminou o ensino médio em uma escola estadual de São Paulo e, desde os 17 anos, diz que sonhava em fazer Medicina. Passou três anos estudando e prestando vestibulares - em alguns semestres conseguia bolsa em cursinhos e em outros estudava em casa. Com pai aposentado e mãe dona de casa, a renda da família não passa de dois salários mínimos. "Graças a Deus existe o ProUni, mas o programa precisa ser aperfeiçoado e muito para cumprir a função social que propaga ter. Eu quero trabalhar um dia em um grande hospital público, como o Hospital das Clínicas. Não vamos abandonar o serviço público porque sabemos de onde viemos e do quanto o País precisa de bons profissionais na área." As histórias dos bolsistas se assemelham. Eles afirmam que sem o ProUni dificilmente estariam na faculdade, mas que, sem auxílio, não conseguem se manter no curso. Muitos chegam a desistir por não conseguirem pagar os gastos mínimos, outros vão obtendo empréstimos em banco e rolando dívida. "Vim contando com o benefício, pois a renda da minha família não chega a dois salários mínimos pra sustentar quatro pessoas", diz Rone Carlos, de 22 anos, aluno do 2º ano de Medicina da Unipac, de Araguari (MG). "Minha família se mudou para cá, pois morando juntos as despesas são reduzidas. Mas passamos por vários apuros quando a bolsa atrasa que influenciam na nossa alimentação. Participar de congressos, comprar livros, copiar apostilas, bancar transporte e demais gastos é tudo lenda", diz. Para Gabriela Gaia, aluna do 3º ano de Medicina no interior de Minas, a dificuldade enfrentada por alunos como ela para permanecer no curso mostram os problemas de inserção que o ministério tenta promover. "Propaganda sobre a inserção de alunos carentes pelo ProUni é muito bonita, e o programa de fato nos ajuda a ultrapassar a barreira mais difícil, que é a vaga numa universidade. Mas para permanecermos na faculdade precisamos de suporte", diz. "Quando entramos na faculdade, percebemos como ela não tem preparo para receber alunos bolsistas. Tudo é pago, até mesmo os livros que precisamos para estudar", diz. De acordo com Paula Branco de Melo, diretora da área responsável pelo pagamento das bolsas do ProUni, os atrasos ocorrem por um problema no sistema que faz o pagamento - e que a situação deverá ser corrigida em breve. "Estamos tentando ajustar o sistema para que possamos fazer esses pagamentos todos os meses, sem precisar esperar finalizar o vestibular e sem atrasos", diz. FRASES Pâmella Aguiar Estudante de Medicina "Graças a Deus existe o ProUni, mas o programa precisa ser aperfeiçoado e muito para cumprir a função social que propaga ter" Gabriela Gaia Estudante de Medicina "Quando entramos na faculdade, percebemos como ela não tem preparo para receber alunos bolsistas. Tudo é pago"

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.