Ortotanásia é autorizada. Quem aceita?

Decisão do CFM divide opinião do público

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Por Agencia Estado
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Uma oração para São Expedito misturada aos remédios de hora em hora. Um trevo de quatro folhas ao lado da receita do doutor. Vale até pagar promessa em Aparecida quando o diagnóstico era mistério para os profissionais da saúde mas se transformou em melhora repentina. Enquanto uns contam apenas com os avanços da medicina para o tratamento clínico, outros creditam as possibilidade de cura das doenças aos ?poderes? da religião. As opiniões são variadas quando o assunto em pauta é a doença de um parente ou amigo próximo. A polêmica voltou à tona, na última semana, quando o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou uma resolução que permite aos médicos interromper os tratamentos que prolongam a vida dos doentes, quando o estado é terminal e não há chance de cura. É fato que a decisão do CFM só pode ser colocada em prática caso a vontade seja explicitada pelo próprio paciente ou de seus familiares. Chamada de ortotanásia (saiba mais abaixo), os médicos agora estão respaldados por sua classe a não submeter uma pessoa a tratamentos dolorosos e inúteis, proporcionando que a morte ocorra naturalmente, sem indução. De acordo com o diretor do CFM, Roberto d?Ávila ?os médicos têm de parar de ser preocupar com a morte e começar a se preocupar com o paciente, para que ele tenha uma morte sem dor, com sedação se for necessário, com conforto psíquico e espiritual.? Um dos possíveis entraves da nova decisão do Conselho é a questão da religiosidade das pessoas. Qualquer doutrina religiosa, seja católica, evangélica ou do candomblé incentivam seus seguidores acreditar em milagres da cura, mesmo quando as perspectivas de saúde são as piores possíveis. Porém, a entidade que mais possui fiéis no Brasil, a Igreja Católica (73,6% da população segue esta religião segundo o último censo do IBGE) já se mostrou favorável à resolução do CFM. ?A palavra ortotanásia significa ?morrer na hora certa?. A Igreja aceita a morte como um fenômeno natural. E é contra o sofrimento prolongado, quando todas as tentativas se tornam inúteis?, afirma o coordenador da Pastoral de Saúde da Diocese de São Paulo, padre Júlio Munaro. ?Ao mesmo tempo, é preciso respeitar as convicções dos fiéis. Cabe ao profissional apenas orientá-los quando o quadro de saúde é irreversível e deixá-lo decidir?, completa. Mas será que as pessoas concordam com a ortotanásia? O JT foi às ruas para saber como a população reagiu à aprovação da nova prática da medicina e encontrou um público dividido. Foram ouvidos dez entrevistados e eles ainda não estão muito à vontade com a resolução. A maioria, entretanto, garantiu que seria a favor do método se tivesse alguém da família nesta situação. O QUE É ORTOTANÁSIA Agora regulamentada pelo CFM, é a autorização para que os médicos não submetam doentes terminais a tratamentos que prolongam artificialmente a vida, como os aparelhos de UTIs. A prática ainda é dilema entre os profissionais de saúde, já que o mais comum sempre foi deixar o maior tempo possível os doentes internados. Apesar de aprovada, os médicos não gostam do termo ortotanásia, pois temem confusão com a eutanásia. São práticas diferentes. A eutanásia é o procedimento que antecipa uma morte considerada inevitável. Isso, pelas leis brasileiras, é homicídio. A VOZ DO POVO Eu sou a favor se for em comum acordo com a família. Há situações em que não há problemas, já que a pessoa pode estar realmente com a saúde comprometida.? Jeferson Freitas, 51 anos médico da santa casa Acho que segurar a pessoa doente é um sofrimento para o paciente e para toda a família, que fica esperando uma melhora que muitas vezes não vai acontecer.? Carolina Esteve, 32 anos dona de casa Tem que ligar os aparelhos para a pessoa ficar viva. É importante pegar a opinião do médico. Ele sabe mais do que ninguém o que pode ser mais indicado para o paciente.? José Everaldo Cândido, 48 anos representante comercial Sou totalmente contra. A família tem de ter fé que seu parente vai melhorar. Não somos ninguém para decidir a vida dos outros. Isso é uma decisão que parte de Deus. Só Deus.? Juliana Araújo, 18 anos estudante e católicapraticante

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