OMS confirma transmissão de gripe aviária entre humanos

Vítimas são membros de uma família paquistanesa; órgão da ONU diz que não há risco de ampla disseminação

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Por Reuters e Genebra
Atualização:

O Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou ontem o primeiro caso, com morte, de transmissão da gripe aviária entre humanos no Paquistão. Ela ocorreu em uma família afetada pelo vírus da doença, o H5N1. O homem que morreu, em 23 de novembro, ainda não foi identificado, nem sua idade foi divulgada. A agência das Nações Unidas anunciou apenas que ele era irmão de um veterinário que trabalhara havia dois meses no extermínio de frangos infectados, na região de Peshawar. Ambos, além de outros dois irmãos, desenvolveram pneumonia severa e trataram uns aos outros até serem levados a um hospital. Os outros três se recuperaram. O irmão que morreu não teve contato com os animais doentes. Nenhum sintoma de infecção pelo H5N1 foi detectado entre pessoas que tiveram contato com os irmãos, mas funcionários do hospital e familiares estão sob observação médica. Normalmente, a infecção acontece de animal para humano. Neste caso, a OMS divulgou que a "infecção humana" foi estabelecida por testes feitos em laboratórios especiais no Cairo e em Londres. "Todas as evidências sugerem que a transmissão entre os membros dessa família não representa um risco maior", disse um porta-voz da OMS. "Porém, isso já aumentou o nível de alerta e a necessidade de uma vigilância constante." ALERTA Em maio, a OMS também confirmou a transmissão entre humanos do H5N1, que levou à morte seis membros de uma família na Indonésia. A agência evitou o pânico e admitiu apenas no dia seguinte que o vírus havia sofrido mutações, porém "minúsculas". Na época, cientistas cogitaram que houvesse uma forma de vulnerabilidade genética maior da família indonésia à doença. A hipótese ainda não foi confirmada. Em julho, um artigo científico publicado na revista Nature demonstrou que o vírus responsável pelo caso da família indonésia acumulou 32 mutações durante sua propagação. Porém, segundo o autor da análise, o virologista Malik Pereis, da Universidade de Hong Kong, elas não eram relevantes para o contágio humano. Os especialistas temem que mutações no H5N1 façam com que a doença se torne facilmente transmissível entre humanos, com o potencial de atingir milhões de pessoas. Hoje, ela passa facilmente entre aves, com efeito devastador: após a infecção, os animais morrem em apenas dois dias. De 2003 até hoje, foram confirmados 343 casos humanos, que levaram a 211 mortes. A taxa média de mortalidade é de 61% - o índice de letalidade do vírus da gripe comum, outro influenza, é de 0,1%. Ontem também foi divulgada mais uma morte causada pela gripe aviária no Vietnã, de um menino de 4 anos. Ele foi hospitalizado no dia 14 com febre alta e pneumonia severa e morreu dois dias depois. Nenhuma das pessoas que tiveram contato próximo com ele está infectada. O país já conta 100 casos e 46 óbitos. No Egito, mais dois casos de contaminação foram confirmados ontem, um dia depois de uma mulher de 25 anos morrer de gripe aviária. O país já informou 39 casos e 16 mortes. "Desde julho nós não tivemos mais casos humanos e as coisas se acalmaram, então as pessoas voltaram a lidar com aves vivas como sempre fizeram. Mas, uma vez que o vírus está ativo, esperávamos por isso", diz John Jabbour, da OMS. Aves infectadas já foram identificadas em países da Europa, como Inglaterra e Alemanha. Os animais foram todos abatidos. PREVENÇÃO A estratégia de combate que a OMS tem levado adiante até o momento é o controle das aves infectadas, geralmente com o sacrifício de todos os animais contaminados, além daqueles com os quais tiveram contato. A agência segue também os casos de humanos infectados. Ainda não existe um medicamento comprovadamente eficaz para evitar a contaminação pelo H5N1. Hoje, o remédio mais indicado é o oseltamivir, princípio ativo do Tamiflu, fabricado pelo laboratório Roche para combater a gripe comum. Anteontem, um grupo de cientistas italianos disse que a vacinação sazonal contra gripe normal permite pequena proteção contra o vírus da gripe aviária. Os pesquisadores, do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas Lazzaro Spallanzani, introduziram o H5N1 em amostras de sangue de 42 voluntários vacinados. Alguns tiveram uma reação imunológica positiva contra a doença.

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