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O velho Empire State ataca a crise outra vez

Por Marcos Sá Corrêa
Atualização:

Se há no mundo um monumento da crise financeira, ele se chama Empire State Building. O edifício cravou as primeiras estacas de seus 103 andares na terra que Wall Street acabara de arrasar em 1929. Ligou pela primeira vez suas luzes em 1931, como um exemplo concreto, em estilo art déco, do que a economia americana era capaz de fazer na Grande Depressão. Foi o prédio mais alto do mundo por quase um quarto de século. Mas não era sequer o maior de Nova York em 2001, quando caíram as torres do World Trade Center e o Empire State passou a acumular o título de monumento histórico e o novo recorde da verticalização em Manhattan. Quase octogenário, continua solidamente passado sobre os anacronismos que veio acumulando com o passar do tempo. Ficou pronto num momento em que a aviação estava prestes a decolar rumo à era do jato. Mas conserva no topo, como observatório, a estação de desembarque para passageiros de zepelim. Precedeu a televisão. Mas hoje tem sua própria página na internet, vendendo ingressos para os elevadores. Serviu de campo de batalha - pelo menos na versão cenográfica de sua antena de rádio - para o combate definitivo da civilização contra a natureza bruta, na primeira filmagem de King Kong. Mas atualmente sua administração avisa ao público, online, sempre que desliga a iluminação noturna para dar passagem a aves migratórias pela rota nova-iorquina. Produto da quebradeira de 1929, o Empire State está rejuvenescendo na crise econômica. Entrou em reforma no ano passado. Sairá da recauchutagem disposto a mostrar ao mundo, do alto de seus 449 metros, que os arranha-céus não precisam consumir, como consomem, 70% da eletricidade de Nova York. Em outras palavras, as da moda, é candidato a modelo de "sustentabilidade". Na época em que foi construído, o termo nem existia em sua acepção ambiental. Se significasse alguma coisa, certamente seria a respeito da solidez estrutural de suas traves de aço ou outras virtudes estritamente imobiliárias. Mas o Empire State concorre nesse momento ao neologismo com um projeto de renovação orçado em US$ 500 milhões. Desse valor, US$ 20 milhões são especificamente reservados para evitar desperdícios - o que exige, entre outros retoques, a instalação de vidros triplos e forros isolantes em suas 6.500 janelas, de interruptores automáticos em todos os cômodos e de climatização informatizada. A partir do ano que vem, cada ocupante do prédio saberá, instantaneamente, via internet, quanto os seus hábitos estão queimando de eletricidade e emitindo em CO2. Tudo isso promete para cortar em quase 40% os seus gastos de energia e reduzir a sua conta de eletricidade em mais de US$ 4 milhões por ano. Em troca, com essas providências, ele servirá de vitrine para "educar" governos, imobiliárias e construtores "ao redor do mundo" na arte de ganhar dinheiro com indultos no impacto ambiental. "Acho que estamos provando que é possível diminuir significativamente as emissões de gases do efeito estufa de um jeito que é muito, muito rentável", é o que afirma Clay Nesler, da Global Energy and Sustainability, uma das firmas que assinam a reforma. * É jornalista e editor do site O Eco (www.oeco.com.br)

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