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Nova droga contra câncer de próstata tem resultado positivo

Estudo com 30 pacientes aponta redução do tumor; dado é preliminar, mas, para médicos, perspectiva é boa

Por Herton Escobar
Atualização:

Cientistas nos Estados Unidos divulgaram ontem os resultados preliminares do estudo de uma nova droga contra o câncer de próstata. Mais de 40% dos pacientes tratados até agora reduziram em 50% a concentração de PSA no sangue - o que indica uma regressão da doença. "É um resultado muito significativo, ainda preliminar, mas que merece ser comemorado", avaliou o especialista Stênio de Cássio Zequi, urologista e oncologista do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo. O estudo foi feito com 30 pacientes em estágio avançado da doença, que já haviam passado por todos os tratamentos disponíveis - incluindo a castração. Segundo resultados que serão publicados na edição desta semana da revista Science, 22 pacientes tiveram redução dos níveis de PSA (antígeno prostático específico) em três meses de acompanhamento. Desses, 13 tiveram queda superior a 50% na concentração da proteína, que serve como um "termômetro" molecular da doença. O câncer de próstata é dependente de testosterona, o principal hormônio masculino, produzido pelos testículos. A testosterona funciona como um "combustível", que se liga a um receptor na membrana das células e estimula o crescimento do tumor. Por isso, o tratamento em estágios avançados da doença pós-metástase - quando o tumor já se espalhou da próstata para outras partes do corpo - consiste em suprimir a produção do hormônio. Na maioria dos casos, é preciso castrar o paciente quimicamente ou fisicamente, com a remoção dos testículos. Ainda assim, sobra um pouco do hormônio no organismo, produzido por outros tecidos. Em muitos pacientes, mesmo após a castração, o tumor não se dá por vencido e continua a crescer com uma quantidade ínfima de testosterona. Para isso, as células tumorais passam a produzir mais receptores e aproveitam melhor o pouco combustível disponível. Nesse ponto, o tratamento passa da chamada supressão androgênica para os medicamentos antiandrogênicos - drogas que bloqueiam a interação entre a testosterona e os receptores. Segundo Zequi, isso costuma funcionar por um ou dois anos. Depois disso, as drogas começam a fazer o efeito contrário, aumentando o efeito da testosterona sobre o tumor. O trabalho da Science mostra os primeiros resultados de uma nova molécula antiandrogênica, mais potente, que modifica a estrutura do receptor e parece não ter o problema da reversão de efeito. Os estudos estão em fase 1 e 2 de pesquisa clínica, mais focados na segurança do que na eficácia da droga. A pesquisa é liderada pelo Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova York, em parceria com universidades e com a empresa Medivation, de São Francisco. A equipe promete publicar em breve os resultados de mais 110 pacientes. Zequi ressalta que, apesar dos resultados promissores, há muitas questões de eficácia e segurança que precisam ser respondidas - o que poderá levar mais alguns anos de pesquisa. O número de pacientes testados ainda é pequeno e mais da metade não teve redução expressiva de PSA. O tempo de acompanhamento também é curto. A longo prazo, é possível que haja efeitos colaterais ou perda de eficácia da molécula. SAIBA MAIS Terapia básica - O câncer de próstata é dependente do hormônio testosterona. Para combater a doença em estágio avançado, é preciso suprimir a produção desse hormônio (via castração) ou bloquear sua interação com o tumor Resistência - Alguns tumores são resistentes ao tratamento. Cientistas buscam uma droga que bloqueie os receptores de testosterona de forma permanente Ocorrência - O tumor de próstata é o câncer mais comum entre os homens no Brasil. Em 2008, o País registrou 49.530 novos casos, segundo dados do Inca

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