No avião, médico tentou manobra de ressuscitação

Em ficha obrigatória preenchida antes de embarcar, adolescente não informou ter sintomas da doença

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Por Aline Nunes e FERNANDO NAKAGAWA E SIMONE IWASSO
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O cirurgião Irineu Rasera Júnior, de Piracicaba (a 154 quilômetros da capital), foi um dos médicos que atenderam Jacqueline Ruas durante o voo da Copa Airlines de Orlando até São Paulo. "Eu iniciei de imediato as manobras de ressuscitação. Ficamos mais de 40 minutos", afirma o médico. Tire as dúvidas sobre a gripe suína Rasera Júnior conta que foi chamado pelas comissárias de bordo por volta das 4h30 - uma hora e 15 minutos antes de o voo pousar em Guarulhos. "Alguém percebeu que alguma coisa não estava bem por volta das 4h30. O comissário acendeu as luzes da cabine e solicitou um médico para atendimento." Ao examinar a menina, o cirurgião diz ter percebido que ela já tinha passado mal havia algum tempo. "Seguramente mais de meia hora. Acho que ela já estava (morta), mas como médico não posso afirmar", completa. "Alguém achou que ela estava dormindo." Com a piora do estado de saúde da adolescente, e enquanto ela era socorrida por Rasera Júnior e por outro médico a bordo, técnicos da Vigilância Sanitária em Cumbica foram notificados pela tripulação do voo e adotaram os procedimentos na chegada da aeronave - como a retirada do corpo da adolescente, cadastramento dos demais passageiros e o monitoramento do desembarque. Antes de embarque, Jacqueline preencheu, como todos todos os outros passageiros do voo, um formulário distribuído pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no qual devem ser descritos eventuais sintomas da gripe suína, como problemas respiratórios e febre. Na ficha, porém, a adolescente não informou nenhum sintoma, segundo a Anvisa. A partir de agora, o caso é acompanhado apenas pelas autoridades estaduais. Segundo o Ministério da Saúde, cabe à Secretaria Estadual da Saúde verificar a causa da morte - procurada ontem, a secretaria informou que deverá se pronunciar sobre o caso apenas hoje. A Anvisa só vai notificar e monitorar os demais passageiros, principalmente do grupo de Jacqueline, caso haja alguma relação do caso com a gripe suína. DÚVIDAS Especialistas ouvidos pelo Estado afirmam que, por enquanto, não é possível tirar nenhuma conclusão sobre as causas da morte da garota. A falta de informações claras sobre o que ocorreu nos dois atendimentos médicos a que foi submetida (no hotel em que estava hospedada e no hospital em Orlando), somada à falta de exames, dificultam qualquer pronunciamento. "Não é possível saber o que ocorreu com essa adolescente antes de sair o resultado da necropsia do corpo", afirmou o infectologista David Uip, diretor do Instituto Emílio Ribas. "Pelo relato, ela deve ter sido medicada contra a gripe suína e contra uma infecção bacteriana, e o fato de ter melhorado e tido uma piora súbita não é comum", diz. Para o infectologista Expedido Luna, ex-diretor de Vigilância Epidemiológica do País, o quadro de Jacqueline difere do das vítimas da gripe suína até o momento - que pioram progressivamente e não respondem bem ao tratamento. "Se ela melhorou e quando embarcou estava sem sintomas, é muito estranho o que ocorreu", diz.

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