Museu Nacional cria acervo virtual

Scanner tridimensional permite criar réplicas em tamanho real e será usado para digitalizar fósseis e múmias

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Por Clarissa Thomé
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A sacerdotisa Sha-amun-em-su foi mumificada há 2.700 anos e seu sarcófago nunca foi aberto. Mesmo assim, em breve, será possível aos visitantes do Museu Nacional, no Rio, observar o interior do esquife, ver a múmia e até mesmo parte dos ossos - e o sarcófago permanecerá intocado. Pesquisadores do museu, que pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), também no Rio, desenvolveram uma técnica que permite criar uma réplica em tamanho natural com base em um scanner tridimensional a laser e portátil. O projeto, que tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), prevê que todas as peças da coleção de paleontologia e egiptologia do Museu Nacional - que possui o maior acervo do gênero na América Latina - sejam digitalizadas em três dimensões e fiquem expostas em um museu virtual. INTERIORES REVELADOS A técnica, desenvolvida no Laboratório de Modelos Tridimensionais do INT, capta as imagens da superfície das peças do acervo - múmias, mobílias, fósseis, dinossauros - com o auxílio de scanners. Tomografias de última geração permitem observar o interior dos objetos. Essas imagens são tratadas no computador e impressas em uma máquina de prototipagem rápida - ou seja, uma espécie de impressora tridimensional. Ao fim do processo, o que se tem é a réplica em resina, no tamanho que interessar ao pesquisador. "Teremos um levantamento tridimensional de toda a coleção. Isso permitirá o intercâmbio com instituições de pesquisa de outros Estados ou outros países", explica o desenhista industrial do INT Jorge Lopes, que coordena o trabalho de captura das imagens. Segundo ele, "os pesquisadores poderão manipular as peças virtualmente, o que não era possível por se tratar de material muito sensível, ou até mesmo fazer réplicas com base em modelos que vamos disponibilizar". "Esse é um trabalho pioneiro no mundo", completa o especialista do INT. Apesar de todas as peças da coleção serem digitalizadas em três dimensões (3D), nem todas ganharão réplicas em resina. EXPOSIÇÕES ITINERANTES O diretor do Museu Nacional, Sérgio Alex Azevedo, afirma que a digitalização desse acervo vai permitir desde o aprimoramento do trabalho científico, com a possibilidade de testes em modelos físicos, à difusão da ciência, com a realização de exposições itinerantes por todas as regiões do Brasil. "Num fóssil de dinossauro, por exemplo, os pesquisadores poderão testar a ação de músculos, a força de mordidas", explica. O egiptólogo Antonio Brancaglion, que integra a equipe de pesquisa, diz que já foi possível reproduzir a perna de um leito funerário - o Museu Nacional tem o lado esquerdo, enquanto que o direito está no Museu do Louvre, em Paris. Com a digitalização em 3D, a perna foi "espelhada" e reproduzida, ainda em miniatura. "Podemos, no futuro, montar a miniatura dessa cama cerimonial, para que os visitantes possam ver como ficava o corpo mumificado", diz Brancaglion. Também foi possível recuperar a escrita em hieróglifo de uma estela - uma lápide funerária que contém variadas informações sobre o morto. A peça estava quebrada e a escrita, quase apagada. Ela foi remontada e teve as inscrições destacadas. "Alguns anos atrás, (uma peça como essa estela) ficaria guardada no acervo e suas informações não seriam acessíveis aos pesquisadores", observa Brancaglion. Até o momento, algumas dezenas de peças já foram digitalizadas em 3D usando essa nova técnica. Ainda não há uma previsão para o término desse trabalho, que será retomado no segundo semestre deste ano. INTERCÂMBIO Jorge Lopes Desenhista industrial "Teremos um levantamento tridimensional de toda a coleção. Isso permitirá o intercâmbio com instituições de pesquisa de outros Estados ou outros países"

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