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Mosquito da malária migra para regiões urbanas

Estudos alertam para larvas achadas em recipientes artificiais, como caixas d?água e barris, em vez de rios

Por Fabiane Leite
Atualização:

Nova pesquisa realizada pela Fundação Nacional de Saúde alerta que o mosquito transmissor da malária, que normalmente deposita seus ovos em águas mansas de rios, brejos e lagoas, tem utilizado como criadouros também recipientes artificiais das cidades, como caixas d?água, barris, garrafas, pneus e vasos, que já são os preferidos do mosquito da dengue. "Sua presença em recipientes artificiais mais abundantes em áreas urbanas pode indicar futuro aumento do risco de transmissão da doença", afirma o trabalho, publicado na última edição da revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, publicação do Sistema Único de Saúde brasileiro. Os achados são importantes porque indicam uma possível mudança dos hábitos do inseto, o que poderá ter implicações no controle da doença no futuro. No entanto, ainda não há evidências de que os novos criadouros já tenham contribuído para a transmissão da malária ou para sua expansão em grandes cidades. Hoje a malária é uma doença endêmica na Amazônia Legal, registrando média de 500 mil casos anuais, incluindo registros em cidades como Manaus. Fora desta região, há surtos esporádicos, notificados principalmente por Estados do Sudeste, como Espírito Santo, São Paulo e Paraná, e relacionados principalmente ao fluxo de pessoas de áreas endêmicas para estes locais. O trabalho recém-publicado relata o encontro de larvas de mosquitos anofelinos, os transmissores da malária, em seis cidades do Espírito Santo entre 2000 e 2005, durante atividades de controle de focos do mosquito da dengue. Os recipientes artificiais como caixas d?água são os preferidos do Aedes aegypti e por isso são constantemente monitorados pelos setores de vigilância epidemiológica dos governos. Trabalhos anteriores também apontaram focos do mosquito da malária em recipientes artificiais em São Paulo e no Rio de Janeiro. "Isso vem acontecendo em alguns Estados. Ainda é preciso um trabalho mais sistematizado, mas de qualquer maneira é um indício de modificação do comportamento da espécie", afirma o biólogo Helder Ricas Rezende, da Fundação Nacional de Saúde no Espírito Santo, que assina o trabalho. Ele explica que os mosquitos poderiam se adaptar, por exemplo, a recipientes deixados em parques e em outras áreas de matas nas cidades. Rezende destaca ainda que os achados ocorreram em períodos de estiagem e que o comportamento das fêmeas pode ser também explicado pela ausência de criadouros naturais. SEM TRANSMISSÃO Segundo a entomologista Maria Anice Sallum, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, os trabalhos não conseguiram provar que os novos criadouros contribuíram para a transmissão da doença. A malária é causada por um parasita, cujo principal reservatório são os humanos, e que é transmitido de pessoas infectadas para os mosquitos, que por sua vez transmitem o parasita da doença para outras pessoas. "Para haver transmissão é preciso uma série de situações. É necessário o vetor ( o mosquito), o homem infectado e o homem suscetível, além de condições ambientais", ressalta Maria Anice, autora de trabalho anterior que encontrou anofelinos em recipientes artificiais em Ribeirão Preto (SP).

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