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''Ministério está correto, mas não se sabe tudo da doença''

Por Emilio Sant'Anna
Atualização:

Aos 81 anos e com a autoridade de quem já acompanhou as epidemias do século 20 - com exceção da gripe espanhola -, o epidemiologista e ex-professor titular da Faculdade de Medicina da USP, Vicente Amato Neto, não vê motivos para mudanças na forma como a gripe suína vem sendo enfrentada pelo governo. Para ele, a primeira morte registrada no Brasil pela doença já era esperada e não difere das ocorridas anteriormente em outros países. Em entrevista ao Estado, Amato Neto diz concordar com as medidas adotadas pelo Ministério da Saúde e que o número de mortes vai depender da assistência e da precocidade do diagnóstico. A morte do primeiro paciente no Brasil é um alerta para o governo e especialistas de que alguma coisa não vai bem na forma como a gripe suína vem sendo enfrentada? Não. A influenza é uma doença que é capaz de causar morte e isso não é surpreendente. Mesmo com a influenza sazonal, com a qual convivemos, é assim. O número de mortes vai depender da assistência, da precocidade do diagnóstico e eventualmente da maior virulência dessa doença. Para os Estados da Região Sul, a situação inspira mais cuidados? A morte de uma pessoa no contexto da gripe é um acontecimento lamentável, mas já deveríamos prever isso. Em uma porcentagem muito pequena de casos há mortes. Os números divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que é uma doença que mata sobretudo pessoas que têm uma situação que permite a maior gravidade, como pacientes com problemas do tipo diabete e ou doenças pulmonares. Como o senhor avalia a recomendação para que essas pessoas não viajem para países como Argentina ou Chile? Isso é exagerado. Não há nada de diferente, pois a gripe está em vários lugares, no Brasil, na Argentina e no Chile. Por algum motivo, o número de casos lá tem sido maior do que aqui, acho que por causa da condição climática. Como o senhor avalia a forma como a doença vem sendo tratada pelo ministério? Tenho 81 anos, acompanhei todos os grandes surtos epidêmicos de gripe que aconteceram no mundo (no século 20). Só não tive contato, acompanhando, o que aconteceu na gripe espanhola. Nunca vi uma conduta de um órgão do governo tão ou mais intensa do que vem acontecendo agora. A conduta do ministério está correta, mas estamos diante de uma situação em que nós já sabemos alguma coisa sobre a doença, mas não sabemos tudo. E quando não sabemos tudo, fica difícil avaliar se as medidas estão certas.

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