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Metade dos alunos de SP conclui ensino médio sem entender ciência

49,8% dos estudantes paulistas prestes a disputar vaga na universidade não dominam nem o básico da disciplina

Por Simone Iwasso
Atualização:

Alunos da rede estadual de ensino de São Paulo não sabem os conteúdos mínimos de ciência das séries em que estudam. Na 6ª e 8ª, mais de 30% deles estão "abaixo do básico". No 3º ano do ensino médio a situação é ainda pior: 49,8% não aprenderam nem o bê-á-bá da ciência. Os resultados fazem parte do Saresp, avaliação aplicada anualmente pelo governo, que pela primeira vez examinou conhecimentos científicos de maneira sistematizada. Veja especial sobre o desempenho dos estudantes O baixo desempenho em ciências resulta em estudantes que não entendem ou que sabem apenas noções mínimas de saúde, fenômenos da natureza, processos biológicos, reações químicas e leis da física. Têm dificuldades em reconhecer a ligação entre poluição e combustíveis, falta de saneamento e doenças, ciclos da água e chuva, e posição da Lua. A falta de conhecimentos científicos dos alunos brasileiros havia sido mostrada na última edição do Pisa, avaliação internacional feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os resultados mostraram, em 2007, que 61% dos estudantes estavam no pior nível de desempenho e 27% deles estavam ainda abaixo disso, não obtendo pontuação suficiente para alcançar o nível mais elementar - no ranking de 57 países, o Brasil ficou na 52ª posição. "A avaliação mostra que os estudantes têm mais facilidade com conhecimentos de biologia e natureza, mais próximos do cotidiano, do que com química e física", afirmou ontem a secretária da Educação, Maria Helena Guimarães, em seu último evento como titular da pasta. "Isso requer que as escolas tenham mais e melhores laboratórios e materiais para realizar experimentos." Além disso, os dados ressaltam as dificuldades do ensino de ciência, entre eles a falta de professores preparados - apenas 8% dos professores de física e 12% dos de química no Brasil são formados na área, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Para o professor do Instituto de Física da UFRJ, Luiz Davidovich, um dos problemas é a falta de aprofundamento dos conteúdos específicos nos cursos de licenciatura. "O professor precisa aprender a ensinar, mas também a estimular o aluno a buscar o conhecimento e entender os fenômenos da natureza." O presidente de honra da Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti, considera que as escolas não estão adaptadas para ensinar ciências, só jogam fórmulas para os alunos. "A escola é voltada para um ensino livresco, e certos conceitos precisam ser aprendidos na prática, com experiências sensoriais. Sem bater a cabeça na parede, ninguém aprende ciência", afirma. COLABOROU ANA BIZZOTTO

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